domingo, janeiro 10, 2016

A mentira como estratégia



O texto abaixo é uma refutação, ponto a ponto de todas as mentiras de um vídeo postado no Youtube pela senhora Damares Alves, assessora parlamentar do senador Arolde de Oliveira. 
Essa senhora, Damares Alves e a quem ela serve, o senador Arolde de Oliveira, querem acabar com campanhas de prevenção à AIDS no Brasil. A estratégia é simples: posso pedir a proibição de qualquer coisa se disser que está sendo distribuído para crianças. Uma cartilha para homens de 40 anos (com linguagem e personagens de 40 anos)? Digo que está sendo distribuída para crianças de 5 anos e peço sua proibição. 
Distribuição de camisinhas em postos de saúde e escolas de ENSINO MÉDIO? Digo que está sendo distribuído para crianças e que crianças de cinco anos são obrigadas a usar. Peço a proibição. Assim conseguem a africanização do Brasil. 
O aumento dos casos de AIDS na África é avassalador no rastro da falta de informação (a maioria não sabe nem mesmo como se prevenir). E, em conjunto, na África cresce como nunca o número de igrejas evangélicas, que dizem que a AIDS é um castigo de Deus. E tudo isso é feito por pessoas pagas com dinheiro público.

Vale lembrar esta notícia do homem que processou a Igreja Universal que havia lhe garantido que o curaria da AIDS. 

Abaixo o texto de Magali Cunha explicando uma a uma cada das mentiras do vídeo: 


Assessora da Frente Parlamentar Evangélica ataca governo federal em palestra e fornece argumentos para reações das igrejas a políticas públicas

Por Magali do Nascimento Cunha (1)



Um vídeo postado no Youtube e amplamente disseminado nas redes sociais e em sites e blogs evangélicos mostra uma palestra de Damares Alves, realizada na Primeira Igreja Batista de Campo Grande (MS), na noite de 13 de abril, com o tema "O Cristão diante de Novos Desafios"

Damares Alves é apresentada como pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular, com intensa atuação política: é assessora do senador Magno Malta, assessora jurídica da Frente Parlamentar Evangélica e da Frente Parlamentar da Família e Apoio a Vida e diretora de assuntos Parlamentares recém-criada Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE). Ela também atua como secretária nacional do Movimento Brasil Sem Aborto.
Damares Alves constrói o seu discurso com base em extratos de materiais veiculados em período recente - cartilhas, produzidas fundamentalmente pelos Ministérios da Saúde e da Educação; livros produzidos para crianças e adolescentes; e outros produtos impressos - para criticar o que classifica como a disseminação de uma apologia ao sexo e às drogas entre crianças e adolescentes, em especial nas escolas, coordenada pelo governo federal. É enfatizada uma crítica ao governo brasileiro nos últimos dez anos como responsável por tal situação que ameaça a família brasileira. A pastora cobra uma ação mais enérgica das igrejas evangélicas contra estas autoridades que estão lá, segundo o seu discurso, "porque nós deixamos".

O clima em torno da palestra se dá também no contexto dos acontecimentos em torno daindicação do Deputado Federal do PSC Pastor Marcos Feliciano para a presidência da Comissãode Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, e toda a controvérsia de sua plataforma relacionada às questões que envolvem a sexualidade humana. Vale registrar que o culto em que Damares Alves participou foi realizado na Primeira Igreja Batista de Campo Grande (MS) onde, um dia antes (12 de abril) foi realizado um evento político: o Encontro Estadual de Lideranças Evangélicas. Segundo a revista Carta Capital, entre os 350 pastores presentes no evento havia 25 parlamentares, como a vereadora Rose Modesto (PSDB), liderança da bancada evangélica local e autora da lei que obriga o poder público a apoiar eventos evangélicos, Herculano Borges (PSC), que aprovou projeto para proibir a instalação de máquinas de preservativos nas escolas, e Alceu Bueno (PSL), opositor do reconhecimento de uma associação de travestis como de utilidade pública. O encontro foi aberto pelo presidente do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp) que ali estava para formalizar a criação da Frente Parlamentar Evangélica da cidade, por isso a presença dos pastores da cidade na reunião com o objetivo de: “Alinhar os evangélicos para disseminar valores cristãos por meio de leis políticas públicas” (verhttp://midiareligiaopolitica.blogspot.com.br/2013/05/bancadas-de-deus-materia-de-capa- da.html).

São esses valores que Damares Alves declarou defender por meio do conteúdo apresentado. Ao se assistir integralmente a palestra de 1h13m, porém, percebe-se que a seleção de materiais da qual a advogada faz uso, são extratos adaptados pauta de abordagens. Os extratos são apresentados como se fossem a íntegra das cartilhas e livros e a explicação oferecida traz, além de elementos críticos genéricos e imprecisos, inverdades e manipulação explícita de dados para dar veracidade às abordagens. Damares Alves tenta apagar tais generalismos, imprecisões e manipulações com justificativas como "tenho muita coisa para mostrar, tenho que passar rápido"; certamente, ao se apresentar num culto evangélico, dificilmente haveria contraposição, tal o caráter de verdade atribuído à sua palavra.

Uma pesquisa para a produção deste texto em cada exemplo/argumento apresentado de Damares Alves demonstra claramente o que está dito acima. A pesquisa se configurou na busca de informação sobre os materiais citados em cada slide apresentado na palestra, com acesso direto à fonte e/ou em referências sobre ela, e comparação das informações coletadas com os argumentos apresentados na palestra. A reprodução das falas segue com fidelidade a forma da referida palestrante. O resultado é exposto a seguir:


Slide 1 - Denúncia sobre ação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Marta Suplicy, em projeto de orientação sexual na educação infantil



A advogada traz como primeiro ponto da palestra um extrato de matéria do Jornal O Estado de São Paulo, de 8 de julho de 2004, e o explica da seguinte forma: "Esta mulher (Marta Suplicy) quando era prefeita da cidade de São Paulo, irmãos, gastou dois milhões de reais com o grupo GTBOS para ensinar sobre ereção e masturbação em bebês nas escolas. (...) Por que há um grupo que começou na Holanda, na Europa e já está influenciando no Brasil, que chegou à conclusão que nós precisamos começar a aprender a masturbar os nossos bebês a partir dos sete meses de idade. (...) E esta prefeita fez isto. Lá na Holanda estão até distribuindo uma cartilha para ensinar aos pais como massagear sexualmentesuas crianças. Isto está acontecendo no Brasil".

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