quarta-feira, outubro 26, 2016

Por que processar alguém?


Há alguns anos processei um rapaz. Muitos saíram dizendo que eu o havia processado por criticar um trabalho meu. Bobagem. A crítica que ele havia feito era de que a minha série de FC Os Exploradores do Desconhecido era ruim por que os astronautas não usavam toquinha. Sim, toquinha. Não adiantou muito explicar que os quadrinhos devem ser verossimilhantes e não real. Ele era burro e não conseguia entender a diferença entre realidade e ficção, entre real e verossimilhante. Para ele, se os astronautas da Nasa usam toquinha, todos os astronautas da ficção devem usar toquinha.
Eu achei engraçado e passei inclusive a usar esse exemplo em minhas palestras sobre roteiro para explicar a diferença entre real e verossimilhante.
Em nenhum momento pensei em processar - na verdade, ele merecia era um agradecimento por me dar um ótimo exemplo.
Ocorre que chegou num ponto em que ele se tornou inconveniente (como publicar dezenas de mensagens diariamente com o mesmo conteúdo nas minhas redes sociais) e fui obrigado a bloqueá-lo. Mas ainda assim nem pensava em processá-lo. Ele só era um burro insistente e burrice é risível, só isso.
Mas, dois anos depois de bloqueado, a coisa evoluiu para a ameaça e calúnia. Chegou a postar mensagens no meu blog dizendo que ia tentar descobrir onde eu trabalhava e faria tudo para eu ser demitido (tudo por causa de uma toquinha!) e começou a fazer diversas postagens nos mais variados lugares dizendo que eu havia usado de fraude para passar em concurso público. A gota d´água foi quando uma pessoa me enviou um print de uma conversa dele com outra pessoa em que combinavam tentar descobrir onde minha filha estudava.
Aí eu processei. Discordar de mim é uma coisa. Me ameaçar, ameaçar meus filhos e divulgar que cometi um crime é algo completamente diferente.
Da mesma forma, se alguém discorda de mim politicamente, acho engraçado.
Se a pessoa acredita que todas as pessoas devem concordar com um projeto de lei que ela concorda, isso só revela a incapacidade dela de entender a democracia, em alguns concordam, outros discordam e a lei acaba sendo resultado de um consenso. O único lugar do mundo em que uma lei tem 100% de apoio é a Coréia do Norte. Mas autoritários são burros, não entendem como funciona a democracia e a burrice é só risível.
Se a pessoa acha que os deputados devem receber todos os tipos de mordomias e altíssimos salários só por que aprovaram uma lei que eles acharam interessante, isso só revela o desconhecimento deles sobre outros países. Na Suécia, deputados dividem apartamento, dormem em sofás-camas, não têm direitos a empregados e são provavelmente os melhores deputados do mundo, já que a Suécia tem se destacado pela ótima qualidade de vida. Mas se o autoritário acha que os deputados brasileiros merecem todas essas mordomias, paciência.
Nada disso é motivo para processo.
Mas quando a pessoa começa a me ameaçar, a deixar comentários dizendo que vai me fazer perder o emprego e até a titulação acadêmica, aí é crime. Ameaça é crime. Quando a pessoa começa a espalhar que estou usando de fraude em minha pesquisa de doutorado, aí é calúnia e calúnia merece processo. Há mais de cinco anos eu tinha bloqueado esse indivíduo exatamente por sua inconveniência. Hoje, ao desbloqueá-lo, descubro que ele vinha espalhando a calúnia por diversos grupos no Facebook (já fiz print de tudo). Aliás, ainda acrescenta um segundo crime: segundo ela, o fato de eu usar pseudônimo é crime (parece que até hoje as pessoas não entenderam a diferença entre falsidade ideológica e pseudônimo).

Em tempo: discordar de mim não faz da pessoa burra. Tenho amigos tanto de esquerda quanto de direita que vivem discordando de mim e isso é muito rico. Burrice é ser autoritário.

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