terça-feira, dezembro 18, 2018

Cleópatra


Cleópatra é uma das figuras mais fascinantes na história. Sua vida mistura mito e história e tem inspirado pintores, cineastas e escritores. As dúvidas sobre ela são maiores que as certezas: Ela teria sido tão bonita quanto Elizabeth Taylor? Teria realmente morrido ao ser picada por uma cobra?
São essas algumas das perguntas que a jornalista Arlete Salvador tenta responder no livro Cleópatra, da editora Contexto.
Arlete é jornalista especializada em política e mestre em relações internacionais pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Trabalhou em alguns dos mais famosos órgãos de imprensa do Brasil, como a revista Veja e os jornais O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Seu trabalho com os bastidores da política fez com que ela se interessasse pela lendária rainha do Egito. “Além do aspecto político, a vida de Cleópatra tem amor, sexo e sedução. A rainha foi amante de dois dos homens mais poderosos do mundo naquele tempo. Teve um filho com Júlio César, mais velho e maduro do que ela, e três com Marco Antônio, jovem, audacioso e ambicioso”.
O livro inicia com a desconstrução do mito e é um dos mais interessantes. Começa com a discussão sobre a morte da rainha. A versão mais conhecida é a de que ela, prisioneira de Otávio, após a derrota na guerra, recebe um cesto de frutas nas quais há uma cobra, que a mata. Essa é a versão do filme de 1963 dirigido por Joseph Leo Mankiewcz.
Por mais inverossímel que pareça, essa é a versão aceita por vários historiadores.
Plutarco afirma que Cleópatra colecionava venenos e testava em prisioneiros condenados à morte. Segundo o historiador, ela logo descobriu que os que matavam mais rápido provocavam mais dor, enquanto os mais suaves demoravam mais a fazer efeito. Ela teria testado todas as serpentes até encontrar uma cuja picada induzia a um topor e estremeciemento sem espaços ou gemidos. A pessoa ia apenas relaxando, até morrer, como se estivesse em sono profundo.
Mas Plutarco escreveu sobre a rainha muito depois de sua morte e sua versão pode ser mais baseada em fofocas do que em fatos.
O historiador Cássio Dio, afirma que ninguém sabe ao certo como ela morreu. “as únicas marcas no seu corpo eram pequenos pontos escuros no braço. Alguns dizem que ela ofereceu o braço a uma serpente que lhe havia sido trazida num jarro de água, ou, talvez, escondida em flores. Outros declaram que ela tinha um camafeu de cabelo com um veneno especial”.
Assim, as versões sobre sua morte são muitas. Uma delas afirma que ela teria sido assassinada por Otávio ou a mando dele. Como, mesmo após a derrota, ela não abaixou a cabeça e continuou lutando para readquirir o poder, seria muito inconveniente para o imperador livrar-se dela.
Outro ponto de polêmica é sobre a beleza da rainha. O fato de ela ter encantado dois dos homens mais importantes do império romano fazem com que muitos acreditassem que ela fosse belíssima. As pinturas feitas sobre Cleópatra, como a de Alexandre Cabanel, a mostram bela e fútil. Mas moedas encontradas recentemente em pesquisas arqueológicas, a mostram nariguda e feia.
Arlete Salvador lembra que bustos, estátuas e moedas da época a mostram com representações diferentes. A razão é que esses objetos nem sempre eram feitos para mostrar o governante como ele de fato era. Sua função era muito mais política. Se quisesse parecer poderoso e rigoroso, o rei aparecia com semblante sério. Se quisesse aparecer complacente, era retratado com a face tranquila e juvenil. O nariz grande, por exemplo, era uma demonstração de poder. Além disso, como o imperador Otávio usou a estratégia de denegri-la, argumentando que ela havia enfeitiçado Marco Antônio para que este se virasse contra Roma, muitas das imagens a mostram como lasciva. Se sua aparência física gera polêmica, seus atributos intelectuais são uma unanimidade. Inteligente, charmosa e culta, ela falava oito línguas, inclusive o egípcio, língua que seus outros parentes que chegaram ao poder nunca se preocuparam em aprender (Os Ptolomeus praticamente ganharam o Egito quando o império de Alexandre, o grande, se desmantelou). Ela era versada em filosofia, alquimia e matemática. Também era uma grande estrategista política, que conseguia dar a volta por cima mesmo quando parecia derrota, como quando ela, que havia sido alijada do poder, deu um jeito de entrar no palácio dentro de um tapete e apareceu numa na frente de Júlio César para seduzi-lo.
É essa figura inteligente, sedutora, esperta e enigmática que o livro desvenda em detalhes. Um capítulo imperdível é o epílogo, em que a autora trata da representação da rainha na cultura pop, dos quadrinhos de Asterix ao filme com Elizabeth Taylor, passando pela musa Theda Bara, com seu olhar superior, vestes ousada e pose sexy do filme de 1917.   
O texto de Arlete Salvador é leve e agradável e a edição é caprichada, com representação de imagens de filmes, achados arqueológicos e pinturas.
Certamente não é um livro aprofundado, mas serve como boa introdução para os que estão interessados nessa enigmática personagem e sua época. 

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