No início do século surgiram dois personagens que modificaram
bastante a cara das HQs. Chamavam-se Mutt e Jeff, criação do desenhista Bud Fisher. Os dois
trapalhões introduziram um novo veículo para as histórias em quadrinhos americanas:
a tira diária. Antes deles os quadrinhos vinham separados do jornal, em suplementos
dominicais. Depois de “Mutt e Jeff”, as HQs passaram a aparecer todos os dias
nos jornais, fazendo parte da leitura diária de milhares de pessoas em todo o
mundo. O novo veículo se deu tão bem que até hoje são raros os jornais que não
têm tiras diárias. Além disso, o sucesso dessas séries humorísticas fez com
que, nos EUA, os quadrinhos fossem chamados de comics.
O aparecimento
das tiras provocou uma modificação formal nas histórias em quadrinhos. Surgiram
dois tipos de tiras: as cômicas, em que o quadrinista tem que passar sua
mensagem e fazer o leitor rir em, no máximo, cinco quadrinhos, e as seriadas, nas
quais cada tira era só uma parte de uma história maior — que continuava todos
os dias nos jornais. Neste último tipo, a maior carga de suspense e informação
tem que estar sempre no último quadrinho para prender o leitor à história.
Ferdinando, de AlI Capp, satirizou bastante essas
situações de suspense, chegando a absurdos para prender a atenção do leitor.
All Capp
ficou famoso por introduzir a crítica social nos quadrinhos.
Uma de suas
histórias mais famosas é a dos Shmoos - animaizinhos brancos que colocam em
pane o sistema capitalista.
Encontrados
por Ferdinando num vale perdido, os Shmoos não comiam nada, mas se reproduziam
numa velocidade estupenda. Gostavam de brincar de apostar corrida e começavam
com dois, mas no final já havia centenas. Muitas vezes o vencedor nem tinha
nascido quando a corrida iniciara.
Os Shmoos
eram tão bons que morriam de compaixão quando viam alguém com fome. Se fossem
cozidos viravam carne de porco, se fossem assados, viravam frango e se fossem
fritos viravam peixe. Os Shmoos davam leite e ovos o bastante para alimentar
toda a população americana. Sua pele era o melhor couro e até seus olhos eram
aproveitados na forma de botões para as roupas.
Quando
Ferdinando chega com o casal de Shmoos, que agora já haviam se tornado
centenas, todos na cidade ficam felizes, menos o dono da mercearia, pois
ninguém mais compra dele. Assim, onde ia conseguir dinheiro? “Agora ninguém
mais precisa de dinheiro”, respondem os outros.
Como esses
animaizinhos, mendigos não precisam mais esmolar, apaixonados já podem se casar
e motoristas e mordomos se despedem de seus patrões.
O dono de
uma empresa de carne de porco vê suas vendas despencarem e chama um
exterminador de pestes. Enquanto senhoras mal-amadas fazem passeatas contra os
shmoos, por considerá-los anti-americanos, o exterminador traça seu plano: é
necessário matar todos os bichinhos. Eles são enfileirados em grupos de seis
para economizar munição.
O
exterminador de pestes acaba com os Shmoos e o dono da fábrica fica eufórico. Para
comemorar, manda aumentar o preço de suas mercadorias.
Essa
história recentemente foi adaptada indevidamente pela versão televisão do Sítio
do Pica-pau Amarelo, mas sem o conteúdo político. Na história, os Shmoos eram
chamados de transgênios.
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