sexta-feira, agosto 02, 2019

Minas histórica: guia de viagem

Igreja de N. Senhora das Mercês, em Ouro Preto

Visitar as cidades históricas de Minas é como passear pela história do Brasil. Casas, ruas, igrejas, tudo conta um pouco do Brasil colônia.
Eu saí muito cedo de Minas, com sete anos e sempre tive vontade de fazer essa viagem. E posso garantir: foi uma das melhores viagens que já fiz. Minas é um daqueles locais que você não pode morrer sem conhecer.
Além dos atrativos arquitetônicos, religiosos e históricos, há mais um aspecto: a comida mineira. Em poucos locais você irá comer tão bem. As quitandas mineiras são famosas, assim como os doces, os queijos... o risco de visitar Minas é engordar alguns quilos.
Uma visita completa aos locais turísticos exige pelo menos um mês. Como tínhamos só duas semanas, deixamos de visitar alguns locais importantes, como Diamantina e Congonhas. Assim, este guia não inclui esses lugares, mas se puder, visite-os também. Se tiver menos tempo, concentre-se apenas nos arredores de Belo Horizonte, como Araxá, Ouro Preto e Mariana.
Uma dica é começar por Belo Horizonte. Dali é possível ir de ônibus para diversos lugares históricos e um deles, Sabará, pode ser visitado em um dia.

Belo Horizonte
A capital mineira tem diversas atrações, entre elas a praça da liberdade. Ao redor da praça há diversos museus. Obrigatório é o Palácio da Liberdade, que conta a história de Minas e, em específico de Belo Horizonte. O prédio antigo, por si só já é uma atração com sua belíssima escadaria. Mas há também salas temáticas. A sala sobre a inconfidência mineira é um verdadeiro show de tecnologia usada para contar uma história. E parepare-se para levar um susto na sala direcionada às lendas urbanas da cidade.
O Palácio das artes é visita obrigatória para quem gosta de arte. 

Outra dica é o Palácio das Artes, que fica no Parque municipal Américo René. Ali é possível ver as mais variadas exposições artísticas, além do próprio prédio, que é belíssimo.  
Não deixe de ir ao mercado central. Além de poder apreciar o melhor da culinária mineira, é possível visitar os sebos que ficam no andar superior.
A igreja dedicada a S. Francisco permitiu a Niemayer mostrar sua arquitetura revolucionária, repleta de curvas.

A lago da Pampulha é outro ponto obrigatório. O cenário é belíssimo. Na lagoa fica uma igrejinha dedicada a São Franscisco projetada por Oscar Niemayer e com pinturas de Cândido Portinari. 
O interior da igreja é ornamentado por pinturas de Portinari.
Também em volta da lagoa temos o Museu Kubitschek. A casa do presidente bossa-nova foi conservada exatamente como era quando o então governador de Minas morou lá. Além da arquitetura inovadora (também obra de Niemayer), há discos, lembranças, uma verdeira viagem pela década de 1950.
A casa de JK foi transformada em museu. 

Nas proximidades da lagoa fica o Museu da história da inquisição (http://www.museudainquisicao.org.br/). O Museu foi criado por judeus para mostrar como era a perseguição ao povo hebraico no período inquisitório. Inclui até mesmo réplicas de instrumentos de tortura, além de roupas típicas da época e história dos judeus que chegaram ao nosso país fugindo da perseguição na Europa.
No Museu da Inquisição há até instrumentos de tortura usados na época. 

Outra dica é o Museu Inhotim, em Brumadinho. Especializado em arte contemporânea, tem obras de alguns dos mais renomados artistas brasileiros e estrangeiros. Destaque para as obras interativas. Aliás, o próprio museu foi pensado como uma obra de arte, com um belíssimo jardim e bancos criados pelo designer Hugo França. É possível ir para o Museu de ônibus, que sai do terminal rodoviário de Belo Horizonte.   
Inhotim é o maior museu a céu aberto do mundo. 

Sabará
Sabará fica a 21 quilômetros de Belo Horizonte. Existe um ônibus que sai do centro da capital na direção de Sabará. É como uma linha urbana, mas com ônibus melhores, com ar-condicionado. O ônibus passa pela rua Guaicurus e pela Avenida dos Andradas. A viagem dura menos de uma hora.
Casa que foi morada de Aleijadinho em Sabará.

Sabará é uma das cidades mais antigas de Minas e foi fundada pelo bandeirante Borba-gato (a casa dele ainda está preservada). É uma das primeiras cidades nas quais foi encontrado ouro em Minas. Também foi morada de Aleijadinho, quando este fazia serviços pela região.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo: uma incrível coleção de arte sacra.

Sabará tem algumas das mais lindas igrejas de Minas. Entre elas a Nossa Senhora do Carmo, que tem uma bela coleção de arte sacra. Mas destaque também para a igreja de Nossa Senhora do Rosário construída por negros, que ficou inacabada por falta de recursos. Apesar de inacabada, é uma construção interessante e envolvente.
A igreja do Rosário, construída pelos escravos, ficou inacabada. 

Foi em Sabará que encontrei um guia turístico que realmente entendia muito de história e de história da arte – a maioria dos guias que vi se limitava a contar anedotas para turistas.
Em Sabará também é possível visitar o Museu do Ouro, no qual é possível ver ferramentas da época da mineiração colonial e entender como era o processo de retirada do ouro. O Museu foi instalado na casa em que o bandeirante Borba Gato vivia. A própria casa é uma atração turística. Ah, e a casa em Aleijadinho morou ainda existe e está conservada como era na época.

Ouro Preto
Ouro preto é a jóia da coroa da Minas histórica: a cidade inteira é uma atração turística. Andar pelas ruas de Ouro Preto é andar pela história do Brasil colônia.
A viagem de ônibus de Belo Horizonte para Ouro Preto dura apenas duas horas e custa, em média, 35 reais. Os ônibus saem da rodoviária de BH.
O hotel em si já era uma atração turística.

Nós ficamos em um hotel que era casa de um dos ricos fazendeiros da região, de forma que o próprio hotel já era uma viagem pela história, com sua arqutitetura colonial e as grossas paredes de pedras. O café da manhã, com quitandas mineiras também era irresistível.
Em Ouro Preto se encontram algumas das principais realizações dos mestres do barroco brasileiros, como Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde. Eles se apropriaram da arte que vinha da Europa e fizeram algo completamente diferente, com formatos e cores locais. Mesmo do lado de fora, as igrejas de Ouro Preto são monumentos imponentes, impressionantes. Na parte inteira são a perfeita demonstração da norma barroca de horror ao vácuo: cada pequeno canto de parede é ornamentado com pinturas, ouro, altos relevos, estátuas. É um verdadeiro deslumbre para os olhos.
A igreja de São Francisco é um dos mais impressionantes exemplos da arte barroca mineira. 
Igreja de Nossa Senhora do Carmo: as igrejas eram construídas e mantidas pelas irmandades.

Uma das razões para tanta beleza era a rivalidade entre as irmandades.
Na época, a coroa portuguesa proibia a igreja de construir igrejas no Brasil, de modo que a construção dessas igrejas ficava por conta de grupos de pessoas leigas. Essas irmandades cuidavam não só da questão religiosa, mas de vários outros aspectos da vida de seus associados. Se eles morriam, elas eram responsáveis pelo funeral e enterro, se a pessoa passasse por dificuldades, a irmandade era responsável por ajudá-lo.
A feirinha de artesanato é especializada em miniaturas em pedra-sabão. 

A rivalidade entre elas era equivalente à rivalidade que existe hoje entre torcidas de futebol: quem era de uma irmandade, por exemplo, não ia na missa na igreja de outra irmandade. Se uma construía uma igreja bonita, outra construía uma mais bonita ainda. Se uma construía uma igreja imponente, a outra construía uma mais imponente ainda. E as duas principais irmandades eram, ironicamente, a de São Francisco (um santo que viveu e morreu na pobreza) e a do Carmo.
Em Mariana a concorrência entre essas duas era tão grande que elas construíram suas igrejas uma na frente da outra.
A Casa do Conto é um dos museus de visita obrigatória. 

Como Ouro Preto era o local mais rico de Minas, e o que tinha mais irmandades, o resultado disso foi que vemos hoje: dezenas de igrejas espalhadas pela cidade, cada uma mais bonita que a outra. 
Cada canto de Ouro Preto é capaz de nos surpreender. Visitando, por exemplo, o modesto cemitério da Igreja de São José dos Pretos, eu me deparei com o túmulo de Bernardo Guimarães, autor do romance A escrava Isaura, que deu origem à famosa novela da Globo.
Túmulo de Bernardo Guimarães

Além disso, a cidade conta com vários museus que são parada obrigatória, como a Casa Guignard e a Casa dos Contos.
A quantidade de atrações é tão grande que seria necessário pelo menos duas semanas para ver tudo.
Em Ouro Preto eram comuns altares externos para proteger a casa de espíritos malígnos. 

 Mariana
Mariana próxima a Ouro Preto e a melhor forma de aproveitar a linda paisagem é ir de trem. A passagem custa 70 reais, ida e volta. Os trens saem em vários horários, mas o melhor é sair de Ouro Preto às 10 horas e voltar às 16 horas.
A viagem de trem compensa principalmente pela bela paisagem. 

Uma dica: quando for comprar a passagem, não deixe de comer nos restaurantes que ficam na proximidade: a melhor feijoada que já comi na minha vida foi ali.
Igreja do Carmo e S. Francisco: rivalidade entre as irmandades fez com que as igrejas fossem construídas uma em frente a outra.
Interior da Igreja do Carmo. 

Mariana é o local em que a rivalidade entre as irmandades fica mais evidente: ali a irmandade do Carmo e de São Francisco construíram suas igrejas lado a lado, numa verdadeira concorrência arquitetônica. No meio delas, uma praça no qual eram açoitados os escravos.
A igreja do S. Pedro fica na parte mais alta da cidade.

No alto da cidade fica a igreja de São Pedro dos Cléricos, com sua fachada de tijolos, que destoa completamente do restante da arquitetura barroca da cidade. Nessa igreja é possível subir na torre dos sinos e ter uma visão privilegiada da cidade.

São João Del Rei
A viagem de Ouro Preto para São João Del Rei dura pouco mais de três horas e custa em média 70 reais. São João del rei fica próximo de Tiradentes e o preço dos hotéis não são tão caros. Aliás, tudo é mais barato em São João. Como Tiradentes é uma cidade turística, tudo é muito caro, do hotel ao cafezinho. Além disso, em São João há uma grande variedade de supermercados, restaurantes, fast food. Então a dica é ficar em São João e visitar Tiradentes apenas um dia.
Igreja de S. Francisco. 

Interior da Igreja de S. Francisco. 

São João tem belíssimas igrejas, algumas das quais rivalizam com as de Ouro Preto, principalmente no ouro. Se der sorte, poderá visitar uma delas durante uma missa com canto gregoriano (aconteceu conosco quando visitamos a igreja de São Francisco). Além disso, a cidade tem um centro histórico muito bonito e diversos museus.
Igreja de N. Senhora do Pilar. 
Interior da Igreja de N. Senhora do Pilar: uma das mais luxuosas de Minas. 

 Vale a pena visitar, por exemplo, o museu em homenagem a Tancredo Neves, que conta muito da história do Brasil, principalmente o processo de redemocratização. O Museu Regional é outra atração obrigatória, não só pela coleção de arte sacra, mas também pelas peças que conta a história do Brasil colonial.
O Museu regional guarda muitos objetos da Minas colonial. 


Tiradentes
Tiradentes é uma cidade que vive, essencialmente, do turismo. A cidade é famosa principalmente por ter sido o local onde nasceu Tirandentes e soube aproveitar essa fama para se tornar um local turístico. As igrejas não são tão ricas, belas ou monumentais quanto as de São João Del Rei ou Ouro Preto, mas a paisagem toda é muito bonita.
A matriz de Santo Antonio é a principal igreja da cidade. 

O altar-mor é um belo exemplo do barroco mineiro. 

Uma das atrações do local são os passeios de charrete, que saem da praça central. Os charreteiros percorrem alguns dos principais pontos da cidade e dão algumas informações ou curiosidades sobre os locais visitados.
Há, ainda, vários restaurantes, bares e lojas de artesanato.
Os passeios de charrete são uma boa opção para o turista que vai passar apenas um dia na cidade. 
 A capela de São Francisco de Paula é uma igrejinha pequena, humilde na comparação com as outras de Minas histórica, mas vale a visita principalmente pela belíssima vista. Por ficar no alto de um morro, ela permite uma visão privilegiada da região. Vale a pena ver o por-do-sol de lá.
A vista da capela de S. Francisco permite ver toda a cidade. 



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