Em 1971 o Comics Code, que limitava severamente a publicação de quadrinhos nos EUA foi abrandado. A restrição a histórias de terror foi finalmente retirada. A Marvel, claro, decidiu embarcar com tudo nessa onda, ressuscitando monstros clássicos como Drácula ou criando novos, como o Motoqueiro Fantasma e Homem-Coisa.
O volume Marvel Horror, da coleção de graphic novels Marvel Salvat reúne um apanhado dessas histórias.
Como o objetivo era principalmente reunir histórias de origem, o resultado é bastante irregular.
Uma das coisas que saltam aos olhos é perceber porque Gerry Conway era considerado a grande estrela da Marvel naquele período. Os melhores roteiros da edição são dele.
A começar pela história curta, em preto e branco, que conta a origem do Homem-coisa, publicada em Savage Tales 1. O texto magistral de Conway se une ao desenho do clássico absoluto do terror Gray Morrow em uma história de 11 páginas em que tudo é perfeito. O poético texto de abertura lembra muito o tipo de coisa que Alan Moore faria posteriormente no Monstro do Pântano: “Por quanto tempo você esperou? Por quanto tempo definhou nesse inferno de pútrida escuridão? Por quanto tempo ouviu o chamado da noite no canto das garças (...) por quanto tempo viveu esse pesadelo, aqui na escuridão?”.
Em tempo: a primeira história do Homem-coisa foi publicada antes da primeira do Monstro do Pântano e Len Wein e Gerry Conway dividiam apartamento em Nova York. Depois, Len Wein disse que as histórias “Não eram parecidas”.
É também de Conway a primeira história de Drácula, que se tornaria célebre com roteiro de Marv Wolfman. O roteirista tinha plena noção de que o gênero terror era muito diferente dos super-heróis. No terror, desenho e texto precisam criar a atmosfera correta, opressiva e isso se reflete na primeira legenda da história: “Horas se passaram desde que a tempestade começou. Longas horas desde que a luz do dia se foi e sombras foram tecidas sobre a montanha escarpada”. Para completar, essa primeira história já tinha o traço do gênio do terror Gene Colan, que se tornaria o desenhista principal do título.
O texto de Conway consegue salvar do Lobisomen, desenhada por um inseguro Michael Ploog, ainda em início de carreira na Marvel. Embora fosse fortemente influenciado por Will Eisner, o resultado era bastante irregular e nem sempre funcional.
Outro destaque do volume é o Motoqueiro Fantasma de Gary Friedrich, provavelmente o personagem mais longevo da galeria de horror da Marvel. Friedrich foi o autor que melhor conseguiu fazer a junção do gênero com o de super-heróis, criando um estilo Marvel de horror. Satã aparece aqui não como o demônio da Bíblia, mas como um vilão de quadrinhos em sua eterna obsessão pela alma de Johnny Blaze.
O roteirista ainda uniu isso à moda das gangues de motoqueiros, construindo um quadrinho que se tornou síntese dos anos 1970.
Essa é a única história que não é de origem. De forma inteligente, os editores escolheram uma história clássica do personagem, pegando-o em plena ação. Destaque para a segunda história, desenhada por Jim Money, cuja página de abertura é magistral.
Os leitores que acompanhavam o Motoqueiro Fantasma nas páginas da Heróis da TV certamente vão achar esse um dos melhores momentos do álbum.
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