quinta-feira, julho 30, 2020

Homem-aranha e Justiceiro no beco da morte


Corria o ano de 1984. Uma revista do Homem-aranha tinha encalhado numa banca que eu conhecia. Na época eu só tinha dinheiro para comprar a revista eu colecionava, a Superaventuras Marvel, mas aquela revista ali, encalhada, com o preço sendo corroído pela inflação, era tentadora demais. Além disso, a capa era chamativa, com o Homem-aranha, o Justiceiro e a repórter April no centro, cercados por bandidos apontando suas armas.
Quando minha mãe me perguntou o que eu queria de Natal, não titubiei: pedi o valor da revista, 700 cruzeiros (sim, nessa época nós estávamos na pendura mesmo) e foi assim que consegui adquirir essa revista, a única do aracnídeo que comprei na época.

Essa é uma bela história, com roteiro de Marv Wolfman e desenhos de Keith Pollard, um desenhista menos famoso entre os que ilustraram o amigão da vizinhança, mas muito competentente, especialmente nas cenas de ação e com muitos personagens.
Na trama o Justiceiro está caçando um traficante de drogas quando o acaso faz com que o Aranha entre em seu caminho. Após um conflito inicial (um dos melhores quadros da história é Peter Parker entrando em seu apartamento e dando de cara com o Justiceiro apontando para ele uma arma), os dois acabam se aliando.
Justiceiro reclamando de camelôs: um proto-Rorschach? 
Lembro que algo que me chamou muita atenção na época foi o fato da narrativa ser toda baseada nos diários do Justiceiro chamados Relatório de guerra, algo que até então eu não tinha visto. E esses diários mostram o quanto o personagem era mostrado como uma crítica pelos roteiristas (o criador do personagem, Gerry Conway, já disse diversas vezes que ele é um vilão) e essa história antecipa inclusive a narrativa de Rorschach em Watchmen. À certa altura o diário registra: “A zona leste de Manhattan é uma verdadeira imundice! Os camelôs estão em toda parte vendendo roupas pela metade do preço das grandes lojas!”. Não é o tipo de coisa que Rorschach escreveria em seu diário?  


Essa história foi publicada originalmente nos números 201 e 202 de The Amazing Spiderman. A Abril, como sempre, fez das suas: transformou as duas HQs em uma só. 

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