segunda-feira, novembro 23, 2020

O gambito da Rainha

 


Quem poderia imaginar que uma série sobre xadrez pudesse se tornar uma sensação da Netflix? Pois foi exatamente isso que aconteceu com O Gambito da Rainha, série criada e dirigida por Scott Frank e Allan Scott baseada no livro de Walter Tevis e estrelada por Anya Taylor-Joy.

A trama conta a história de uma menina órfã que se revela um prodígio no xadrez, em plena década de 60. Mas, alguns anos depois, ela precisará contornar seu vício e álcool e remédios para se tornar a melhor enxadrista do mundo. O gambito da rainha é uma referência a uma abertura no jogo, usada constantemente pela protagonista.

Há vários fatores por trás do sucesso estrondoso e absolutamente inesperado dessa série.

O primeiro deles é a atuação impressionante de Anya Taylor-Joy no papel de Beth Harmor, a protagonista. Com um rosto extremamente expressivo, dominado por olhos enormes, ela é perfeita para as várias sequências de jogo, quase todas em closes. Taylor-Joy consegue revelar uma gama de sentimentos e emoções com pequenas mudanças faciais como só os grandes atores de TV conseguem – nesse sentido, é inevitável compará-la com Leonard Nimoy, o Spock de Jornada nas estrelas.

Quando a câmera abre, ela também se revela um prodígio, como quando, para vencer um jogo, ela usa a estratégia de desestabilizar o oponente saindo da mesa e até ensaiando alguns passos de dança. Além disso, ela oscila muito bem entra a glamourosa campeã de xadrez e a moça mergulhada nas drogas. É uma atuação digna de prêmios.

O segundo fator é o roteiro, que consegue transformar o xadrez numa jornada do herói, com todos os passos muito bem construídos, desde o aprendizado com o mentor (o zelador do orfanato, que a contragosto lhe ensina o jogo) até o embarque no ventre da baleia (com ela sendo dominada pelas drogas) até  a redenção final. E isso é feito de maneira muito natural.

O terceiro fator é a direção, que consegue imprimir dinamismo, suspense e empolgação a um jogo de xadrez (provavelmente o esporte mais lento que se tem notícia). Além dos muito acertados closes na protagonista, o diretor corta para a reação da plateia, o painel onde são colocados os lances para que todos vejam etc. Os diretores parecem ter se esmerado em encontrar formas diferenciadas de mostrar um jogo de tabuleiro. Em um dos momentos mais inspirados, ela está jogando o campeonato norte-americano e, na final, enfretará o melhor jogador do país. As partidas dos dois são mostradas em simultâneo, com quadros que dividem a tela em duas ou quatro partes. O efeito final é impressionante.

E, por último, a trilha sonora, toda baseada em músicas da década de 60. É a trilha sonora que dá o ritmo da narrativa e impede que o gambito da rainha se torne um melodrama. 

Em suma, é uma produção inspirada. Tão inspirada que fez com que as buscas pelo jogo de xadrez explodissem no google. Tomara que também estimule as pessoas a jogarem xadrez.

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