Durante décadas Belém teve uma tradição de sebos de rua. No auge dos quadrinhos em formatinho da Abril, era fácil encontrar centenas desses gibis empilhados em sebos. Um dos que mais se destacavam era o sebo do Zé, perto do mercado do São Brás. O destaque não eram só os preços módicos e o material de qualidade, mas principalmente a simpatia do Zé, um dos melhores vendedores que já conheci. O Zé conhece cada um de seus clientes, o que cada um gosta, o que lê, o que compra.
Eu frequento esse sebo desde 1986. Quando mudei para Macapá, demorava uns seis meses ou mais para ir. Em uma dessas vezes ele me pediu para voltar no dia seguinte porque tinha reservado algumas coisas para mim. Voltei e me surpreendi: ele tinha guardado um saco de estopa cheio de graphic novels, cada uma cinco reais. Eu só não levei o que já tinha. Agora em janeiro voltei lá e ele tinha guardado coisas para mim. Quando fui ver, eram verdadeiras preciosidades dos quadrinhos."Eu guardo para quem eu sei que vai valorizar e conservar esses quadrinhos", me disse ele.
Enquanto estava lá, passou um casal, a esposa brasileira, o marido japonês. Quando saíram, o Zé me contou: o homem havia lutado na II Guerra Mundial e estava em Hiroshima quando caiu a bomba, mas nos campos, o que salvou sua vida. E ele comprava qualquer livro sobre o Japão na II Guerra, de modo que o Zé sempre reservava para ele qualquer livro que aparecesse lá sobre o assunto. O exemplo mostra bem o quanto ele conhece bem cada um de seus clientes.
Pouco tempo depois chegou um cliente querendo a Bíblia de estudos. Ele tirou de trás do balcão. "Esse é um dos livros mais roubados", explicou ele. "Então não deixo à mostra".
A simpatia e os clientes fixos fizeram com que a banca do Zé sobrevivesse em meio ao fechamento geral dos sebos de rua de Belém.
Para quem gosta de quadrinhos e literatura o sebo do Zé é parada obrigatória .
O sebo do Zé fica próximo do Mercado de São Brás, no cruzamento das ruas José Bonifácio com Faria Brito.
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