Na segunda metade do século XIX, o
bairro de Witechapel era um dos locais mais miseráveis de Londres.
O príncipe de Gales, certa vez
explorara a área acompanhado de amigos. De alameda em alameda, entrou em um
quarto sem mobília, onde achou uma mulher deitada sobre farrapos com três
crianças nuas, que de tanto frio e fome, não pronunciavam uma única palavra.
Quatro dias depois, o príncipe fez um pronunciamento na Câmera dos Pares
insistindo para que o governo fizesse algo para melhorar as condições de vida
da população. Mas a rígida moralidade vitoriana não permitia uma ajuda real aos
necessitados. O reverendo Samuel Barnett, vigário da Igreja de Cristo,
argumentava que a caridade indiscriminada era uma das pragas de Londres. Para
ele, os pobres passavam fome por causa das esmolas que recebiam.
E assim, o local deteriorava-se cada
vez mais. As pessoas dormiam nas escadas e até nas latas de lixo para fugir do
frio. Estima-se que mais das metades das crianças nascidas na área pobre de
Londres morria antes de atingir cinco anos de idade.
A promiscuidade era grande e relatos
da época falavam de meninos e meninas de 12 anos fazendo sexo em becos.
Nesse ambiente de miséria absoluta,
a prostituição era um das poucas formas de ganhar a vida. A nobreza, no
entanto, preferia ignorar isso e acreditar que as jovens se tornavam
prostitutas porque se deixavam atrair por abastados sedutores.
Foi nessa região miserável de
Londres que Jack, o estripador, faria suas vítimas.
A primeira delas foi Mary Ann
Nichols, conhecida como Polly.
Na noite de 31 de agosto de 1888,
ela chegou à pousada Thrawl Street, n. 18, mas o gerente não a deixou entrar,
pois ela não tinha os quatro pence para pagar a dormida:
Ela era baixa, com pouco mais de um
metro e meio de altura, cabelos castanhos compridos, quase grisalhos. Por anos, Polly fora casada com William
Nicholls, operador de impressora, com quem tivera cinco filhos. A solidão,
porém fizera com que ela começasse a beber e o casamento se rompeu em 1881, com
o marido acusando-a de abandonar o lar.
Sem pensão, Polly deixou os filhos
com seus pais e foi trabalhar como empregada doméstica. Um dia ela roubou três
libras dos patrões e desapareceu nas ruas de Londres.
Pouco depois de ser recusada na
pensão, Polly encontrou com outra prostituta, Emily Holland. Polly estava mais
bêbada que nunca e, apoiando-se em uma parede, comentou que três vezes naquele dia
tivera dinheiro para o pernoite, mas gastara tudo em bebida.
Foi a última vez em que foi vista.
Na madrugada daquela noite, o
porteiro George Cross ia para o trabalho quando encontrou o que parecia um
encerado jogado no meio da rua. Quando se aproximou, descobriu que era, na
verdade, uma mulher.
Nisso viu aproximar-se um colega de
trabalho e chamou-o:
- Ei, companheiro, venha ajudar
aqui. Esta mulher está desmaiada ou bêbada.
Ao aproximar-se, o homem percebeu
que a suposta bêbada estava na verdade morta e os dois desapareceram do local.
Instantes depois, o guarda John Neil
encontrou o corpo de Polly. Ela tinha
sinais de estrangulamento, lesões na garganta, abdômen e face.
Em 8 de setembro daquele ano foi a
vez de Annie Chapman.
Dias antes, Annie brigara com outra
prostituta, Liza Copper, por causa de um pedaço de sabão. Liza insultou-a e
Annie deu-lhe uma tapa no rosto.
Liza não se amedrontou e bateu em
Annie até deixá-la no chão.
Quando a amiga Amélia Farmer a
encontrou no dia seguinte, ela estava com um hematoma no olho e o peito muito
machucado. Ela sentia convulsões e dor. O único alimento que ela ingerira
naquele dia fora uma xícara de chá.
Na noite do assassinato, ela tentara
entrar em uma pensão, mas fora barrada por falta de dinheiro.
No dia seguinte John Davis, idoso
morador da hospedaria Hambury Street, levantou-se da cama pouco antes da seis
horas e abriu a porta. Deu de cara com o corpo de uma mulher. Ele saiu
correndo, chamando alguns trabalhadores que passavam por ali, mas ninguém teve
coragem de entrar.
Um policial ouviu a balbúrdia e,
aproximando-se, encontrou a mulher deitada de costas no chão. As mãos estavam
esticadas à frente e as palmas estavam abertas para cima. O casaco e a saia
estendiam-se por sobre as meias compridas e ensangüentadas.
O assassino estava aperfeiçoando seu
modus operandi e deixando mais clara sua assinatura: a mulher fora eviscerada e
seu útero retirado. Ao lado do corpo, vários objetos pessoais foram arrumados
como que num ritual. Os anéis da vítima haviam sido arrancados dos dedos e
colocados aos pés da vítima, juntamente com algumas moedas.
A paranóia tomou conta da região e
muitos voltaram suas atenções para os judeus. Esse sentimento anti-semita foi
aumentado pela prisão de John Pizzer, um judeu polonês de trinta e três anos,
que trabalhava em Whitechapel como sapateiro. As provas alegadas por William
Thicke, o policial que o prendeu, foram cinco facas afiadas, de cabos longos,
objetos absolutamente comuns na casa de um sapateiro.
Pizer, no entanto, tinha um álibi:
estivera em casa, em sua cama, dormindo, durante os assassinatos.
Mas a prisão teve reflexos terríveis
sobre a população judia do bairro. Havia um sentimento geral de que apenas
estrangeiros ou pessoas estranhas poderiam cometer tais crimes. Vários judeus foram agredidos nas ruas.
Um volante distribuído nas ruas
anunciava:
"Eles agora pegaram o Avental
de Couro,
Que é o culpado, todos concordam;
Ele vai ter que enfrentar o destino
de todo assassino,
Terá que ser enforcado numa
árvore"
Ao ficar provada a inocência do
sapateiro, a população voltou seus olhos para outro judeu de nome Jacobs, que
trabalhava no matadouro de Adgate High Street. Depois de interrogado pela polícia,
foi apontado como o assassino. Na rua, foi apedrejado e teve que se refugiar na
delegacia mais próxima. Acabou louco e teve de ser internado em um asilo.
Os moradores do local onde morrera
Annie montaram um negócio lucrativo. Eles cobravam de curiosos que quisessem
ver o pátio onde ocorrera o crime.
As teorias surgidas na época dão uma
visão da forma como a polícia estava perdida. Um fotógrafo propôs que se
fotografasse os olhos das vítimas, pois, segundo ele, a retina teria guardado a
imagem do assassino. O método foi tentado, sem sucesso.
Nisso a imprensa começou a receber
cartas do suposto assassino. A mais famosa dela era assinada por Jack, o
estripador. A carta dizia que ele não iria parar de matar prostitutas até ser
pego e prometia enviar uma orelha da próxima vítima para a polícia.
A próxima vítima seria Elizabeth
Stride. Ela dizia que o marido havia morrido no desastre do Princesa Alice,
junto com os nove filhos do casal. Ela só escapara porque subira numa corda da
qual viu o caçula morrer nos braços do marido. A história verdadeira é que o
marido trabalhava como carpinteiro de construção de navios. Ele tinha o dobro
de sua idade e eles nunca tiveram filhos.
A ultima pessoa a ver Liz com vida
foi o policial William Smith, às 12:30 do domingo, dia 30 de setembro. Ela
estava conversando com um homem jovem, bem barbeado e de aspecto respeitável,
que usava sobretudo escuro e chapéu de feltro justo de copa baixa. Sob o braço,
o homem trazia um embrulho de jornal de cerca de 20 centímetros.
Elizabeth Stride foi encontrada numa
viela. Sua garganta tinha sido cortada, mas o corpo não mostrava outras
mutilações. Possivelmente o assassino tinha sido interrompido enquanto
estripava sua vítima, o que o levou a procurar uma outra vítima: Catherine Eddowes.
Segundo o policial que a encontrou, ela tinha sido cortada “como um porco no
mercado”. O assassino removera seu rim e sua orelha mostrava sinais de que
houvera uma tentativa de arrancá-las.
No muro, ao lado do cadáver, estava
escrito: “Os judeus não serão acusados por nada”.
Na mesma manhã, a Agência de
Notícias Central recebeu uma carta do suposto assassino: “Não estava blefando,
chefe, quando dei-lhe a pista. Você ouvirá sobre o trabalho de Jack amanhã. Um
evento duplo desta vez. A número um gritou um pouco. não pude acabar
imediatamente. Não tive tempo de pegar as orelhas para a polícia”.
Uma outra carta, enviada ao chefe do
Comitê de Vigilância de Witechapel trazia um pedaço de rim e era endereçada “Do
inferno”: “Senhor, enviei metade do rim que tirei de uma mulher preservando-o
para você, o outro pedaço cozinhei e comi”.
Em 9 de novembro Jack cometeu o que
seu último assassinato. A vítima era Mary Kelly, uma ex-prostituta. O
assassinato acontecera dentro de seu quarto alugado e tudo leva a crer que Jack
teve muito tempo para trabalhar.
Mary
foi assassinada com um corte profundo na garganta, que quase a decapitou. Seu
nariz e orelha foram esfolados. O braço esquerdo foi quase cortado no ombro e
as pernas foram esfoladas. Ela foi estripada e sua mão inserida no espaço da
barriga. O fígado foi retirado e colocado sobre a coxa. Seus seios foram
retirados e deixados sobre o criado mudo junto com o nariz, rins e coração.
Tiras de carne foram dependuradas em pregos nas paredes. Ela estava grávida de
três meses. O feto e seu útero foram levados pelo assassino.
A polícia nunca conseguiu descobrir
quem era Jack, embora tenham surgido diversas teorias ao longo dos anos, que
incluem desde o príncipe Albert até William Gull, o médico da rainha.
Alguns autores acreditam que Jack
matou muito mais do que cinco mulheres. Entre as vítimas não-oficiais estariam
Alice Mckenzie, morta em 17 de julho de 1889 e Frances Cole, morta em 13 de
fevereiro de 1891.
Jack, o estripador foi o primeiro
assassino serial a se tornar famoso e a ganhar grande cobertura da imprensa –
foi também o primeiro a utilizar a mídia como forma de aumentar sua
popularidade, se acreditarmos que as cartas sejam verdadeiras.
Sem comentários:
Enviar um comentário