quarta-feira, janeiro 05, 2022

Não olhe para cima

 


Não olhe para cima, filme de Adam McKay foi obviamente feito pensando nas mudanças climáticas. Mas acabou se tornando uma metáfora para qualquer de crise que envolva negacionismo científico, como a pandemia de covid 19.

Na trama, dois cientistas de uma universidade pouco conhecida descobrem um cometa e percebem que ele está vindo diretamente para a Terra. É um corpo celeste maior do que que o acabou com os dinossauros e pode representar o fim da vida no planeta.

Começa assim a jornada dos mesmos para alertar as pessoas e tentar convencer as autoridades a agirem.  

O que parecia uma missão simples se torna um verdadeiro pesadelo. Muitas pessoas não acreditam no cometa, outros querem tirar proveito político da situação e um empresário quer ganhar dinheiro explorando os minérios contidos no cometa.

Os paralelos com a pandemia são óbvios demais para serem ignorados, em especial para quem observa os comentários das matérias sobre o assunto.

Assim como a presidente dos EUA, muitos se recusam a acreditar que existe um perigo real. Dados coletados por cientistas usando metodologia científica e revisados pelos seus pares têm o mesmo peso de teorias da conspiração malucas elaboradas por gente que não têm a menor noção de como a ciência funciona.

Cientistas são chamados de comunistas por quem acha que o cometa vai gerar empregos.

Outros alegam que “cientistas comunistas” querem acabar com a liberdade (aparentemente a liberdade de serem atingidos por um cometa).

Surge até mesmo o movimento “Não olhe para cima”,  a melhor representação da dissonância cognitiva: se você não olhar cima, não verá o cometa e ele não existirá. Lembra todas aquelas pessoas invadindo hospitais para provar que a pandemia de covid-19 não existia? Ou todas as outras que faziam vídeos afrimando que caixões estão sendo enterrados vazios para apavorar a população? Lembram do presidente endossando todos esses discursos? 

Na dissonância cognitiva, os fatos devem se adaptar à ideologia e a pessoa não consegue ver a verdade mesmo que ela lhe bata na cara (ou neste caso, a atinja com um cometa).

A dissonância cognitiva não é afetada pela realidade. O filme não mostra, mas fica subentendido que mesmo minutos antes do impacto, muitos ainda continuariam acreditar que tudo é uma mentira de “cientistas comunistas”.

Não olhe para cima tem sido apresentado pela Netflix como uma comédia, mas o filme se parece muito mais com um drama. Afinal, é difícil rir da burrice humana quando ela pode levar nossa espécie e até mesmo todo a vida do planeta à destruição.   

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