A primeira palestra de Buda após a iluminação trata de sua grande descoberta: as quatro nobres verdades.
A primeira verdade é existência do sofrimento. Vivemos num
mundo em que existem doenças, velhice, morte. Negar isso é tentar viver numa
bolha de ilusão e só traz mais sofrimento.
Mas Buda usou a expressão dukkha, que pode ser traduzida
como sofrimento físico, mas também pode ser traduzida como sofrimento
psicológico, em especial a insatisfação, o que nos leva à segunda nobre
verdade.
A segunda nobre verdade é a causa do sofrimento.
Estamos eternamente insatisfeitos por conta dos desejos, que
geram apego. Se estamos num momento de felicidade, desejamos que aquele momento
dure para sempre.
Tentar se fixar num momento de felicidade também traz
sofrimento, pois tudo muda, tudo é impermanente, tudo é transitório e
perecível. Um exemplo é a pessoa que está num relacionamento. Ela diz minha
namorada, meu namorado, o que é uma ilusão, apego. Quando o relacionamento
acaba, a pessoa é incapaz de aceitar a mudança, o que tem gerado muitas
tragédias, inclusive com assassinatos. O apego faz com que a pessoa prefira que
a outra pessoa morra a admitir a mudança.
Recentemente tivemos a revelação de um caso de um homem que
aprisionou sua companheira e os filhos durante 17 anos, temendo que em algum
momento o relacionamento acabasse. Mãe e filhos foram encontrados desnutridos,
com vários problemas de saúde e psicologicamente abalados. Casos como esse demonstram
todo o sofrimento provocado pelo apego e pelo desejo de manter um
relacionamento imutável.
“Os homens temem, naturalmente, o infortúnio, e almeijam a
felicidade, mas se estudarmos cuidadosamente essa distinção, verificamos que o
infortúnio muitas vezes se torna felicidade e que a ventura se torna infelicidade”, afirma o livro A doutrina de Buda. “O sábio aprende a encarar as
cambiantes circunstâncias da vida com uma mente imparcial, não se exaltando com
o sucesso nem se deprimindo com o fracasso”.
Um outro exemplo: desejamos uma casa para morar. Quando
finalmente conseguimos a casa, queremos uma casa maior. Quando compramos a casa
maior, pensamos: quero uma casa com piscina. Assim, o desejo nunca será
satisfeito, gerando um ciclo de insatisfação.
O apego faz com que não consigamos nem mesmo usufruir dos
momentos de felicidade, pois estamos sempre focados no futuro, no que ainda não
temos.
Por outro lado, o apego também gera o medo da perda. A
pessoa tem o desejo de ter um carro de luxo. Quando o consegue, fica
atormentada com a ideia de que um dia possa perdê-la num assalto ou num
acidente.
“O mundo sofre de frustação, ânsia e é escravo do desejo”,
dizia Buda.
A terceira nobre é verdade diz que é possível escapar desse
ciclo de dor provocado pelo apego.
A quarta nobre verdade trata do caminho para a extinção do
sofrimento.
Esse caminho é o caminho do meio, ensinado por Buda.
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