A série clássica de Jornada sempre teve um pé na filosofia,
permitindo discussões sobre os mais diversos assuntos – em especial sobre a
natureza humana. Mas há um episódio que literalmente é todo baseado em um
filósofo. Trata-se de “Os herdeiros de Platão”, da terceira temporada.
No episódio, escrito por Meyer Dolinski, a Entreprise recebe
um chamado de socorro de um planeta desconhecido. Quando chegam ao local
descobrem que o planeta é povoado por pessoas com dons telecinéticos.
Esse povo viveu na Grécia antiga e teve contato com o
filósofo Platão. Influenciados por suas ideias, eles procuraram um planeta onde
pudessem colocar em prática uma utopia platônica que se assemelharia ao mundo
das ideias. É um mundo em que atividades físicas são consideradas inferiores e
os habitantes com vida eterna vivem num mundo de contemplação e meditação.
Mas essa utopia tem um lado negativo, como percebemos logo
no início: a falta de atividades físicas faz com que eles fiquem fisicamente
enfraquecidos, de modo que um simples machucado pode infeccionar a ponto de
matar alguém. Foi isso que aconteceu ao líder local e por isso chamaram a
Enterprise. McCoy consegue curá-lo e os platonianos decidem que precisam que o
médico fique com eles caso algo parecido ocorra novamente. Com a recusa de
McCoy, o líder local usa seus poderes mentais para humilhar e a atormentar Kirk
e Spock até que o doutor resolva ficar no planeta.
A cena da humilhação é um daqueles exemplos de como a série
clássica conseguiu unir humor e temas sérios. Kirk e Spock cantam e dançam,
Spock chora e ri, Kirk simula um cavalo.
Leonard Lynnoy era um ator fenomenal e conseguia dar um tom
até mesmo shakespeariano à sequência. Já William Shatner é um canastrão
carismático cujo exagero funciona perfeitamente na trama.
A história, que poderia descambar para o ridículo, funciona
muito bem, especialmente graças aos ótimos diálogos e ao elenco, com destaque
para Michael Dunn, que faz o papel de um platoniano anão que não tem poderes e
é constantemente humilhado pelos outros.
Uma curiosidade é que esse episódio tem uma das cenas mas
famosas da história da TV: o famoso beijo inter-racial entre Kirk e Uhura. Na
cena eles são obrigados a se beijarem para diversão dos habitates de Platonius.
Em tempo: o episódio mostra de fato uma deturpação da
filosofia platônica, o que não escapou ao roteirista. À certa altura Spock
comenta que os platonianos havia deformado a utopia pensada pelo filósofo
grego.
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