terça-feira, novembro 15, 2022

Marighella

 


Carlos Marighella era considera o inimigo número um do regime militar. Agora, anos depois de sua morte, ele se torna tema de filme dirigido por Wagner Moura. Filme aliás, que estreou primeiro em outros países e teve grande dificuldade para ser distribuído ao Brasil, mas finalmente entra no circuito nacional.

A história começa com um assalto a um trem onde estão sendo transportadas várias armas. A narrativa, em plano sequência, é frenética, num ritmo candenciado pela música Banditismo por questão de classe, de Chico Science. Aqui temos um dos méritos do filme: a boa escolha de trilha sonora. 

Daí, pula para anos antes, em 1964, quando Marighella foi preso logo após o golpe militar. A prisão acontece no meio de um cinema. Embora ele esteja desarmado, os policiais que o prendem atiram e o atingem no peito. Ele só seria solto porque um fotógrafo registra a cena de sua prisão e publica no jornal.

Embora tenha qualidades, a cena mostra um dos problemas do filme: sabemos muito pouco sobre Marighella antes de se tornar um guerrilheiro que luta contra a ditadura militar. O expectador não sabe nem mesmo porque ele está sendo preso na sequência de 1964 – e pode ter a impressão de que já naquela época ele teria entrado para a luta armada. Esse é um personagem interessante, que foi preso e torturado já na época da ditadura de vargas e é compressível que não se possa contar tudo, mas um pouco de sua vida pregressa ajudaria o expectador que sabe pouco sobre o protagonista.

Talvez por ser novo na direção, Wagner Moura nem sempre consegue conectar os discursos à ação. À certa altura, por exemplo, um padre dominicano explica a Marighella que Jesus era muito provavelmente negro e foi embranquecido ao longo da história. A cena existe apenas para isso e parece deslocada. Funcionaria muito melhor no meio de outra cena, em que ocorre algo.

De resto, vale destacar a atuação de Seu Jorge, cuja escolha foi muito criticada, mas que consegue entregar uma atuação inspirada. Outro ator que se destaca é Bruno Cagliasso, no papel do delegado Fleury, integrante do esquadrão da morte, que foi peça fundamental na repressão durante a ditadura.

Vale destacar também a direção crua, sem recursos estilísticos nas sequências de tortura – o que transforma essas cenas em verdadeiros socos no estômago.

Claro, o filme logo ganhou forte oposição da direita, mas a polêmica parece ter ajudado o filme: ele já é a maior bilheteria nacional de 2021.

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