sexta-feira, março 31, 2023

A carpa e o dragão

 


Uma das características do roteirista Giancarlo Berardi (criador tanto de ken Parker quanto da criminóloga Júlia) é a sutileza com que ele consegue colocar informações em suas histórias de maneira absolutamente natural.
Exemplo disso é a história “A carpa e o dragão” publicado no volume J. Kendall – as aventuras de uma criminóloga especial, da editora Mythos.
A HQ se passa no passado da personagem, quando ela ainda era uma estudante e acompanha o professor à cena de um crime, um massacre realizado pela gangue Yakusa. À certa altura o professor dá uma bronca na aluna, advertindo-a que ela não conhece nada sobre o Japão. Isso a leva ao bairro japonês de Garden City e uma verdadeira aula sobre o oriente. Em sua pesquisa, Júlia entra em uma loja de livros e gravuras e acaba fazendo amizade com o jovem e elegante dono (pelo qual ela irá eventualmente se apaixonar).
Os diálogos inserem informações históricas de forma natural. 


Mestre absoluto do diálogo, Berardi (aqui com a ajuda de Lorenzo Calza) recheia de informações a conversa entre os dois sem parecer didático. Uma das técnicas, por exemplo, é a questão do presente histórico, em que eles falam dos autores das gravuras no presente, como se estivessem vivos, o que acaba se tornando uma anedota.
Por outro lado, um sonho de Júlia é usado para referir à famosa xilografia A onda, de Katsushiko Hokusai e, ao mesmo tempo, revelar os sentimentos da protagonista pelo dono da loja.
O roteiro ainda acerta ao mostrar as reuniões da Yakusa acontecendo num açougue, com os porcos dependurados refletindo os cadáveres da luta entre facções. Aliás, esse uso inteligente do cenário é usado, por exemplo, no momento em que o dono da loja conversa com Júlia e vemos em primeiro plano uma e um dragão, com os dois personagens no meio, revelando o conflito entre a paixão dos dois e a tradição.

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