Até o final da década de 1970 o Demolidor era um dos
personagens da Marvel que pareciam que nunca iam decolar. O personagem já
passara por várias fases: do herói galhofeiro da fase Stan Lee a parceiro da
Viúva Negra na fase de Gerry Conway. Mas nada conseguia alavancar as vendas que
iam tão mal que o título passou a bimestral. A razão disso parecia estar ligada
ao fato de que o herói não parecia ter uma identidade própria, que o
distinguisse dos outros personagens da Marvel. Isso só iria mudar em 1979,
quando um jovem talento foi agregado ao título. Seu nome? Frank Miller.
Miller estreou em Daredevil 158, de maio de 1979.
A história em questão era uma continuação do número
anterior, com plot de Roger McKenzie, texto de Mary Jo Duffy e desenhos de Gene
Colan e Klaus Jason (imaginem a responsabilidade de Miller ao substituir
Colan!). Nessa história o Demolidor enfrentava o Araúto da Morte, que depois
mandava os Homens-animais para sequestrarem Matt Murdock.
Miller foi anunciado com grande alarde. |
A história do numero 158 começa no escritório de advocacia:
o local está destruído, com uma mesa derrubada, papeis espalhados, Foggy Nelson
caído no chão, a Viúva Negra enxugando o sangue que escorre de sua boca
enquanto os Homens-animais tentam capturar o advogado cego. A cena é construída
de modo que não vemos o que está acontecendo de fato (a tentativa de
sequestro), mas apenas suas consequências e já ali tinha um pouco da
genialidade de Miller.
Os editores pareciam adivinhar o futuro, pois anunciaram
Miller com todas as honras. Num grande balão de splash, toda a equipe criativa
dá boas-vindas à chegada daquele que é anunciado como desenhista sensação.
Talvez fosse apenas mais uma daquelas jogadas de marketing que Stan Lee usava
tanto, mas com hoje em dia parece profético.
Miller inovou ao mostrar o radar do herói. |
Os antagonistas não são nem de longe relevantes (tanto que
um deles, o Homem-pássaro, é derrubado por um objeto jogado pela secretária de
Matt Murdock). Embora o vilão principal, o tal do Arauto da Morte, fosse um
adversário perigoso, era apenas mais um dos muitos vilões da Marvel. Miller dava um show nas sequências de ação.
O que faz
com que essa trama insossa ganhe relevância é a narrativa de Miller, em
especial quando começa o confronto entre herói e antagonista. Na primeira
página dessa sequencia, Matt Murdock se transforma em demolidor em cinco
quadros que são um exemplo perfeito de como miller era um narrador nato que
sabia usar muito bem ângulos e planos. Na mesma página vemos também a solução
gráfica de Miller para o radar, com círculos concêntricos que funcionam perfeitamente.
Uma história boba, que com o tempo seria vista como um
clássico.
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