A obra de Carl Gustav Jung foi, durante muitos anos
ignorada, ou quando muito, objeto de críticas na maioria das vezes injustas.
Segundo Calvin S. Hall e Vermon J. Nordby, “a responsabilidade por isso cabe em
parte ao próprio Jung. Ele foi um escritor discursivo em excesso, o que muitas
vezes dificulta a acompalhar-lhe a linha de pensamento. Os seus escritos quase
sempre desanimam os leitores devido à erudição que permeia tópicos com os quais
poucas pessoas estão suficientemente famialirizadas”.
Para tentar resolver essa situação, os dois autores
escreveram, em 1973, o livro Introdução à psicologia junguiana.
A obra, que oscila entre divulgação para o público geral e
obra introdutória para psicólogos, se diferencia por não focar apenas em temas
atualmente mais populares da teoria de Jung, mas também explorar temas mais difíceis.
O livro começa com uma breve biografia do autor – e com o
alerta de que essa biografia foi fundamental para a elaboração de suas teorias.
Jung era filho de um pastor suíço e desde muito pequeno
demonstrou grande interesse por assuntos religiosos. Mas sempre que questionava
algum preceito religioso, recebia do pai, invariavelmente a mesma resposta:
“Deve-se acreditar e ter fé”. A contraposição a esse ponto de vista ajudou a
moldar sua personalidade. Apesar de ser o mais pobre do colégio onde estudava,
acabou se distinguido como o primeiro da turma. Quando chegou a época de
ingressar na faculdade, seus interesses eram muitos: Ciência, História,
Filosofia e Arqueologia. Acabou optando pela medicina, seguindo uma tradição
familiar – o avô que lhe dera o nome fora professor de Medicina na universidade
onde ele iria estudar. Mas ele não seria um médico tradicional e traria para
sua prática tudo aquilo que antes lhe interessava. O tema de sua tese de
doutorado já revelava boa parte do caminho que iria seguir: ele fez o trabalho
sobre uma médium de 15 anos que realizava sessões espíritas. Já estava ali
tanto a preocupação com os aspectos psicológicos quanto com os aspectos
transcendentais da experiência humana.
Jung estudou com o grande psiquiatra francês Pierre Janet e
trabalhou no prestigioso Hospital Burghôlzli, o mais famoso da Europa. Mas o
que viria a mudar completamente sua vida foi o encontro com Freud, em 1907. Os
dois sentiram uma simpatia imediata e passaram três horas conversando na
primeira vez que se encontraram. Mas a amizade entre esses dois gigantes da
psicologia duraria pouco. Chegou um ponto em que a diferença entre os dois se
tornaria grande demais e ambos romperam, o que levou Jung a uma forte crise,
que coinscindiu com a crise da meia idade. Jung emergiu dessa crise com toda
uma nova visão da mente humana e com conceitos essenciais, como o insconsciente
coletivo.
O estudo do insconsciente não era novidade. Freud já havia
percebido que muito de nosso comportamento era governado por motivações
inconscientes. Mas a visão freudiana era estritatamente ambiental (o homem
sendo resultado de traumas e eventos da infância) e particular. Jung propôs que
havia um outro tipo de inconsciente, resultado da evolução e da
hereditariedade. Assim, por exemplo, em algum momento da história, os seres
humanos aprenderam serpentes são perigosas. Esse conhecimento foi transmitido,
via inconsciente coletivo, para todas as gerações subsequentes. Assim, “um medo
qualquer pode-se desenvolver com facilidade quando a predisposição para
senti-lo já se encontra no inconsciente coletivo”.
Mas o inconsciente coletivo não se resume apenas a alertar
os humanos para perigos físicos, como serpentes ou a escuridão. Ele é também
reservatório e símbolos e arquétipos. E são também, muitas vezes, a origem de
muitos complexos.
Hall e Nordby explicam esses e outros conceitos, como
sincronicidade, valores psíquicos e outros, com profundidade, mas com um texto de
fácil compreensão. Poderiam, talvez, acrescentar mais exemplos, o que tornaria
o livro mais claro. Esse pequeno livro, de 120 páginas, pretende estimular o
leitor a conhecer a obra de Jung e demonstrar que essa obra é uma “sementeira
de ideias importantes, à espera de que a humanidade as reconheça”.
Sem comentários:
Enviar um comentário