terça-feira, maio 23, 2023

Introdução à psicologia junguiana



A obra de Carl Gustav Jung foi, durante muitos anos ignorada, ou quando muito, objeto de críticas na maioria das vezes injustas. Segundo Calvin S. Hall e Vermon J. Nordby, “a responsabilidade por isso cabe em parte ao próprio Jung. Ele foi um escritor discursivo em excesso, o que muitas vezes dificulta a acompalhar-lhe a linha de pensamento. Os seus escritos quase sempre desanimam os leitores devido à erudição que permeia tópicos com os quais poucas pessoas estão suficientemente famialirizadas”.

Para tentar resolver essa situação, os dois autores escreveram, em 1973, o livro Introdução à psicologia junguiana.

A obra, que oscila entre divulgação para o público geral e obra introdutória para psicólogos, se diferencia por não focar apenas em temas atualmente mais populares da teoria de Jung, mas também explorar temas mais difíceis.

O livro começa com uma breve biografia do autor – e com o alerta de que essa biografia foi fundamental para a elaboração de suas teorias.

Jung era filho de um pastor suíço e desde muito pequeno demonstrou grande interesse por assuntos religiosos. Mas sempre que questionava algum preceito religioso, recebia do pai, invariavelmente a mesma resposta: “Deve-se acreditar e ter fé”. A contraposição a esse ponto de vista ajudou a moldar sua personalidade. Apesar de ser o mais pobre do colégio onde estudava, acabou se distinguido como o primeiro da turma. Quando chegou a época de ingressar na faculdade, seus interesses eram muitos: Ciência, História, Filosofia e Arqueologia. Acabou optando pela medicina, seguindo uma tradição familiar – o avô que lhe dera o nome fora professor de Medicina na universidade onde ele iria estudar. Mas ele não seria um médico tradicional e traria para sua prática tudo aquilo que antes lhe interessava. O tema de sua tese de doutorado já revelava boa parte do caminho que iria seguir: ele fez o trabalho sobre uma médium de 15 anos que realizava sessões espíritas. Já estava ali tanto a preocupação com os aspectos psicológicos quanto com os aspectos transcendentais da experiência humana.

Jung estudou com o grande psiquiatra francês Pierre Janet e trabalhou no prestigioso Hospital Burghôlzli, o mais famoso da Europa. Mas o que viria a mudar completamente sua vida foi o encontro com Freud, em 1907. Os dois sentiram uma simpatia imediata e passaram três horas conversando na primeira vez que se encontraram. Mas a amizade entre esses dois gigantes da psicologia duraria pouco. Chegou um ponto em que a diferença entre os dois se tornaria grande demais e ambos romperam, o que levou Jung a uma forte crise, que coinscindiu com a crise da meia idade. Jung emergiu dessa crise com toda uma nova visão da mente humana e com conceitos essenciais, como o insconsciente coletivo.

O estudo do insconsciente não era novidade. Freud já havia percebido que muito de nosso comportamento era governado por motivações inconscientes. Mas a visão freudiana era estritatamente ambiental (o homem sendo resultado de traumas e eventos da infância) e particular. Jung propôs que havia um outro tipo de inconsciente, resultado da evolução e da hereditariedade. Assim, por exemplo, em algum momento da história, os seres humanos aprenderam serpentes são perigosas. Esse conhecimento foi transmitido, via inconsciente coletivo, para todas as gerações subsequentes. Assim, “um medo qualquer pode-se desenvolver com facilidade quando a predisposição para senti-lo já se encontra no inconsciente coletivo”.

Mas o inconsciente coletivo não se resume apenas a alertar os humanos para perigos físicos, como serpentes ou a escuridão. Ele é também reservatório e símbolos e arquétipos. E são também, muitas vezes, a origem de muitos complexos.

Hall e Nordby explicam esses e outros conceitos, como sincronicidade, valores psíquicos e outros, com profundidade, mas com um texto de fácil compreensão. Poderiam, talvez, acrescentar mais exemplos, o que tornaria o livro mais claro. Esse pequeno livro, de 120 páginas, pretende estimular o leitor a conhecer a obra de Jung e demonstrar que essa obra é uma “sementeira de ideias importantes, à espera de que a humanidade as reconheça”.


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