sábado, junho 03, 2023

Thor contra Mr. Hide

 


Depois de uma sequência deplorável de histórias, o personagem Thor começou a pegar o ritimo em Journey into Mystery 99.

Embora Jack Kirby não tivesse voltado ainda ao título, Stan Lee estava de volta aos roteiros, com desenhos de Don Heck. O vilão da história era Mr. Hide, em sua primeira aparição. Heck não tinha a grandiosidade de um kirby, mas seu traço hachureado funcionou bem na história, dando um tom sombrio ao vilão.

A origem de Mr. Hide: de golpista a gênio da química. 


A origem de Mr. Hide é simplória. Ele vivia de dar golpes em consultórios, conseguindo a confiança dos médicos para depois roubá-los, e tenta esse golpe com Don Blake. Mas o médico manco já recebera informações sobre ele e o dispensa. O que um golpista desses faria? Provavelmente mudaria de cidade, mas essa é uma história da Marvel e ele simplesmente resolve fazer uma fórmula inspirada no livro O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson.

De fato, ele consegue sucesso: sua fórmula o transforma num monstro com a força de doze homens. Não sei como os leitores da época reagira a isso, mas eu pensei: se o indivíduo tem inteligência para criar uma fórmula dessas, por que ele simplesmente não trabalha como químico e ganha muito dinheiro desenvolvendo fórmulas para a indústria? Mas parece que Mr. Hide não gosta de trabalho honesto.



Suspense: Don Blake vai se espatifar no chão antes de se transformar no Thor? 


Uma vez transformado em monstro, ele resolve se vingar do médico que lhe recusou emprego, o que gera uma boa sequência de suspense que lembra muito os matinês (para quem não sabe, os matinês eram seriados, muitos com personagens de quadrinhos, que passavam no cinema e sempre terminavam numa situação de suspense para forçar a pessoa a assistir na semana seguinte): o vilão joga Don Blake do prédio. Se é imortal como Thor, como don blake o protagonista é perfeitamente mortal e pode se esborrachar no chão como qualquer pessoa. Claro que tudo se resolve com surpreendente facilidade.

A história se alongou para o número 100 da revista (sinal de que Stan Lee já estava pensando em tramas maiores) e mais uma vez apresenta situações curiosas.

Supostamente blake foi salvo pelo Thor, de modo que Mr. Hide resolve sequestrá-lo junto com Jane Foster. Ele amarra o médico num mastro, arma uma bomba e diz que ela explodirá caso aconteça algo com ele. Isso gera outra situação de suspense, pois Blake precisa alcançar seu cajado para se transformar no deus do trovão, mas gera também um jogo de erros. Achando que a derrota de Hide irá provocar a morte do seu amado, Jane Foster simplesmente esconde o martelo de Thor. Como o herói volta a ser o médico fraco e manco depois e 60 segundos longe de seu martelo, a situação faz com que ele fique em perigo.

Jane Foster esconde o martelo achando que assim está salvando seu amado. 


Aliás, Stan Lee usava muito bem esse recurso dos 60 segundos longe do martelo como forma de contrabalancear conflitos com vilões que eram nitidamente menos poderosos – mais à frente, quando Jack Kirby voltasse para o título, Thor enfrentaria ameaças realmente ameaçadoras.

Uma curiosidade na história é o trecho em que Hide fala com o médico: “Você representa tudo aquilo que eu odeio, Blake! É honesto, trabalhador, bem-sucedido... enquanto eu... sou o mal personificado!”. Na década de 60, mesmo na Marvel, era comum isso de vilões que se consideravam vilões. Todos nós sabemos que os vilões mais perigosos são justamente aqueles que se consideram heróis.

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