Na segunda metade da década de 1980 as bancas brasileiras
foram inundadas por uma série de revistas em quadrinhos revolucionárias. Entre
as mais revolucionárias estava a Circo, editada por Toninho Lima e Luíz Gê.
O número 4 dessa revista, publicado em 1987, apresentou a
história A noite dos palhaços mudos, de Laerte.
Essa HQ explodiu a cabeça de muitos leitores na época e por
muitos motivos.
Para começar, era uma história praticamente sem textos ou
diálogos. Um ou outro diálogo aqui e ali, mas os protagonistas, como dizia o
título, eram mudos, se expressando principalmente graças à linguagem corporal.
E o roteiro era incrível, provando que um bom roteiro não precisa de uma
imensidade de texto (incrível como, quando critico o roteiro de alguma HQ,
sempre aparece alguém perguntando se eu queria mais texto).
Segundo, era uma metáfora muito efetiva e poderosa. O Brasil
tinha acabado de sair de uma ditadura militar em que artistas principalmente
haviam sido duramente perseguidos. A situação se reflete na HQ na figura do
palhaço que será executado por homens engravatados.
Terceiro, Laerte brincava com as sequências, usando desde
sequências muito detalhadas até grandes elipses (ou seja, sabia exatamente o
que precisva ser mostrado e o que podia ficar por conta da imaginação do
leitor), revelando um domínio realmente impressionante da linguagem
quadrinística.
Este ano a editora Conrad resolveu lançar essa história num
álbum fino, dentro do projeto HQ para todos, com quadrinhos a R$ 9,90. Além da
história original, o volume conta com outras HQs curtas feitas por Laerte para
outras publicações, inclusive fanzines.
É uma chance de novas gerações terem contato com essa obra
seminal do quadrinho nacional.
E não poderia ser lançada em momento mais oportuno.
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