Dizem que, quando morre, uma pessoa rememora, em poucos
minutos, todos os momentos mais importantes de sua vida. Esse é o mote da
história Percepções extra-sensoriais, publicada no número 159 da edição
italiana de Dylan Dog. Na história, um assassino em série mata para absorver
essas memórias.
A sequência inicial é um ótimo exemplo de como o roteirista
Pasquale Ruju e o desenhista Ugolino Cossu trabalham magistralmente o tema.
O assassino se alimenta das recordações das vítimas. |
Nela, um homem é morto com uma facada por um personagem
misterioso, vestindo um capote, um chapéu e uma máscara com um desenho a la
Picasso. O homem pergunta por que está sendo morto. É quando ouve uma voz de
sua mãe chamando para o jantar. A sequência pula para o enterro da mãe. Então
pula para a primeira relação sexual dele, depois para o primeiro emprego,
depois da a esposa reclamando que ele pensa apenas no trabalho. Há uma
estratégia aqui que liga todas essas sequências, como se elas estivessem
acontecendo uma logo após a outra, apesar de nitidamente se passarem anos: a
última palavra de uma sequência é a primeira da sequência anterior. Will
agradece à mulher com a qual teve a primeira relação sexual. No quadro seguinte
o dono da empresa que o contrata diz que ele não precisa agradecer pelo
emprego, pois seu currículo é excelente. Will responde que tem certeza de que
gostará do trabalho. A esposa diz: “Do que tem certeza, Will? Do fato de que
continuará passando todos os dias e noites em seu maldito trabalho?”.
Estratégia narrativa: a última palavra de uma sequência é a primeira da seguinte. |
Dylan Dog se liga à trama quando conhece, num Museu, uma
sensitiva surda, Clarice Anderson. Ela é uma das grandes atrações de um
congresso de percepção extra-sensorial. O assassino do início da história está
matando os convidados e as mortes parecem ter alguma relação com a moça, já que
ele envia e-mails para ela com fotos dos assassinatos. Aliás, tudo indica que
ela é seu principal alvo.
Assim, a HQ tem todos os elementos de uma história de DD,
incluindo deliciosas sequências de Grouxo fazendo piadas. E prepare-se: a
última página apresenta uma reviravolta realmente surpreendente.
De negativo apenas o uso da cor, que em muitos momentos
parece desproporsitado. Os quadrinhos bonnelli são tradicionalmente preto e
branco e nem sempre acertam quando resolvem fazer uso da cor.
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