segunda-feira, outubro 02, 2023

Monstro do Pântano – Dança dos fantasmas

 


A saga Gótico americano é uma obra-prima que revisita todos os monstros clássicos do terror. Assim, é muito difícil escolher qual seria a melhor história, mas eu apostaria em “Dança dos fantasmas”, publicada em Swamp Thing 45.

A história, escrita por Alan Moore e desenhada por Stan Woch e Alfredo Alcala trata da Mansão Winchester, um local real que foi sido construído sob ordens de médius para apaziguar os mortos com os rifles Winchester. Esse rifle foi o mais usado durante a conquista do oeste e as mortes provocadas por ele, em especial entre os indígenas são incontáveis.

O início funciona como metáfora: os EUA foram construídos ao som dos tiros das armas de fogo. 


A viúva Winchester acreditava que o desejo de vingança das pessoas mortas pelos rifles haviam provocado a morte do marido e de sua filha pequena, o que a levou a construir a casa para abrigar os fantasmas.

Alan Moore, talvez por orientação do setor jurídico da DC, muda o nome do local para Mansão Cambridge, mas a história é a mesma.

A trama foca em dois casais que vão visitar a casa abandonada como uma espécie de aventura sobrenatural. Mas, durante a visita, aparições fantasmagóricas ocorrem mesmo... e são mortais.

A arquitetura estranha da casa é usada como elemento de terror. 


Moore foi revolucionário ao unir o plot casa mal assombra com temas sociais, em especial os massacres provocados por armas de fogo nos EUA. Ao fazer isso, ele demonstra também como as armas de fogo não só criaram os EUA, mas costruíram boa parte do terror que permeia o local e, por tabela, o próprio país.

A história começa com um plano fechado de um homem batendo um martelo e as onomatopeias: “bang. Bang. Bang”. Pouco depois, no mesmo ângulo, uma mão apertando o gatilho de um rifle e a legenda: “O som dos martelos não pode parar”.

Entre um quadro e outro, dois cowboys que trocam tiros por conta de um jogo de cartas: “O holandês furibundo trespassa o coração de Ed com uma bala e a garganta com outra. Ed, tentando estacar o sangue do pescoço com a mão de dois dedos, atira de volta”.

Esse início sintetiza toda a metáfora da história, mas é apenas o começo de uma obra perfeita em todos os mínimos detalhes.

Moore usa a história como uma metáfora social. 


Um dos casais é composto por um homem tímido e o outro casal por uma garota recata. Ambos são dominados por seus consortes, que, como se descobre depois, têm um caso extra-conjugal. Moore não só usa isso para incrementar a dinâmica da história, ao apresentar uma trama paralela às aparições de fantasmas, como também providencia o gancho do desfecho – um desfecho que sintetiza todo o horror por trás das armas.

Como a construção não contava com um arquiteto e cômodos eram construídos a partir de outros, a casa tinham quartos cujas janelas davam para outros quartos, portas que davam para paredes, escadas sobem para lugar nenhum, corredores sem saída. Moore usa tudo isso na história como elementos de terror.

A crítica do escritor fica óbvia em alguns momentos, como quando os fantasmas aparecem em profusão: “Congestionando os tortuosos corredores, bêbados, celebridades e nulidades derrama-se por patamares e sacadas. Três em cada cinco são índios”.

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