Uma das características da fase de Grant Morrison à frente do Homem-animal é a forma inusitada com que ele abordou os personagens da DC Comics, a começar pelo próprio protagonista, que antes só fazia um uso óbvio dos seus poderes, captando habilidades de animais como pássaros (nenhum roteirista antes de Morrison tinha pensando em colocar o personagem para captar as habilidades de uma minhoca para provocar regeneração de membros).
No
número 8 da revista, foi a vez de Morrison abordar um vilão, o Mestre dos
Espelhos. Aqui a inovação não está exatamente no uso dos poderes, mas na forma
como esses poderes são apresentados.
Uma splash page de impacto. |
Na
história, o protagonista acorda, vai ao banheiro lavar o rosto e, quando olha
no espelho, vê refletido o Homem-animal. “Sabe o que realmente anda errado com
nosso relacionamento?”, pergunta a imagem no espelho. “É que a gente não se vê
mais cara a cara”, responde a mesma imagem, agora saindo do espelho, em uma
tremenda imagem de impacto.
Logo
a situação fica clara: o vilão foi contratado por pessoas poderosas, que estão
incomodadas com a atuação ecológica do Homem-animal. “Eu tô trabalhando para
pessoas que querem te dar uma liçãozinha. Que querem que você saiba que podem
te pegar, não importa o que faça ou onde esteja. O que também vale para a sua
família.”.
A esposa do herói dá um chute no vilão... |
É
uma história simples, de luta de herói e vilão, mas lembro que quando li pela
primeira vez, na DC 2000 número 14, ela parecia muito descolada e divertida.
Também destacava o fato de que Morrison não carregava no texto, ao contrário de
outros autores da época, como Chris Claremont. Ali o que contava era a qualidade
e não a quantidade. Atualmente, lendo na edição da Panini, percebo que a
quantidade de textos e diálogos era de fato bem menor que a média da
época.
... mas quem é atingido é o marido.
Apesar
das qualidades, a história tem um erro de continuidade. Em certo momento, a
esposa do Homem-animal dá um chute nos fundilhos do vilão e, no quadro
seguinte, aparece o herói caindo em uma poltrona, como se ele tivesse sido
atingido pelo chute. Detalhe: não há nenhum motivo para o herói ter caído assim,
já que ele não fora golpeado uma única vez na página anterior. Pode ter sido um
erro do roteirista, ou do desenhista Chas Truog, vá saber. Em todo caso, foi
algo que escapou à editora Karen Berger.
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