domingo, maio 12, 2024

Troia – A queda de uma cidade

 


A guerra de tróia é um dos episódios mais importantes da história ocidental, tendo dado origem aos poemas Ilíada e Odisseia, base da civilização grega e da literatura clássica.

Assim, adaptar a história para uma minissérie é uma responsabilidade imensa. Foi essa responsabilidade que David Farr  assumiu para a BBC britânica. O resultado, Troia, a queda de uma cidade, é um daqueles tesouros escondidos da Netflix.

Lançada em 2018, a série começa com Páris já adulto, sendo criado como pastor. Ainda como pastor, ele recebe a visita de três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Páris deve ser o juiz de uma disputa sobre qual a deusa mais linda, que terá direito a uma maçã de ouro. Cada uma delas lhe faz uma oferta. Hera promete que ele será o homem mais poderoso de sua época. Atena promete a ele sabedoria e vitória nas batalhas. Afrodite lhe promete a mulher mais bonita do mundo. Páris escolhe Afrodite.   

Ao visitar a capital do reino, Troia, ele descobre que é o filho do rei, supostamente levado quando criança por lobos. Agora um príncipe, ele vai em missão oficial a Esparta, onde, para sua surpresa, deverá se casar com a filha do rei. Mas ele se apaixona por Helena, a rainha, considerada por ele a mulher mais bela que já existiu, que acaba fugindo com ele. Como resposta por esse ultraje, os principais guerreiros gregos se reúnem para castigar Tróia, numa guerra que irá durar 10 anos.

Confesso que uma das minhas curiosidades ao começar a assistir foi imaginar quem seria a atriz que interpretaria Helena, considerada a mulher mais bonita de sua época. A escolha recaiu sobre a atriz alemã Bella Dayne, tão bela quanto talentosa e desconhecida no Brasil. Dayne consegue dar à personagem todo o peso dramático que não estamos acostumados a ver em representações sobre a guerra de Tróia.

Aliás, esse é um dos pontos positivos da série. Ao mostrar o ponto de vista das mulheres e, ao mesmo tempo dos troianos, ela quebra com a norma de produções anteriores, que são focadas quase que exclusivamente nos homens gregos.

Outro aspecto que merece destaque – e que se diferencia de produções anteriores sobre o mesmo tema – é a forma como os deuses são mostrados, com os atores andando em meio aos mortais sem serem vivos, influenciado as batalhas, por exemplo. Uma solução simples, mas efetiva.   

Há um outro fator curioso na produção: a introdução de atores negros para papéis como Aquiles, Zeus, algumas das amazonas e outros. Nesse sentido, a série peca por não tentar explicar isso. A série Sandman, por exemplo, consegue fazer isso de forma muito orgânica. Não seria difícil explicar esses fatos, considerando-se a proximidade da Grécia com a África. Entretanto, o estranhamento é apenas no início e a boa atuação dos atores negros, a exemplo de David Gyas, que interpreta Aquiles, acaba conquistando o expectador. 

A opção por centrar sua narrativa nos troianos e no casal apaixonado Páris – Helena foca muito mais no drama do que no épico e nas grlórias das batalhas. Ao contrário, a guerra aqui é mostrada em toda a sua crueza, com o massacre de inocentes, pessoas escravizadas, as mulheres violadas. Apesar de ter sido responsável pela estratégia que leva os gregos à vitória (o famoso Cavalo de Tróia), é Odisseu (brilhantemente interpretado por Joseph Mawle) que melhor representa essa percepção sobre o horror da guerra.  Não por acaso, sua primeira aparição na série é exatamente se passando por louco para não ser recrutado para o conflito. Aliás, a impressão que temos ao assistir a série é de que Menelau embarca na guerra muito mais por seu orgulho ferido que por de fato amar Helena, vista por ele muito mais como um prêmio.

Em tempo: eu me senti realmente agoniado com a burrice dos troianos, incapazes de qualquer atitude ou estratégia militar minimamente inteligente. Talvez Páris devesse ter aceitado o presente de Atena...

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