A difícil arte de escrever quadrinhos foi um fanzine
publicado no ano de 1997 como edição especial do Sequência, zine editado por
mim e pelo Antonio Eder.
O título surgiu de algo que eu já vinha percebendo no meio
quadrinístico. Embora houvesse uma preocupação muito grande com o
desenvolvimento do desenho nos quadrinhos nacionais, a mesma preocupação não se
aplicava aos roteiros. O desenho era visto como algo difícil, que demandavam um
longo aprendizado de técnicas que iam da perspectiva à anatomia. Já o roteiro
era visto como algo que não demandava “prática nem habilidade” (como se dizia
na época).
Essa visão se aplicava inclusive aos editores, a maioria dos
quais publicava qualquer HQ cujo desenho estivesse bom e não tivesse erros
grosseiros de ortografia. Aspectos como construção de personagens, da trama ou
qualidade do texto normalmente eram solenemente ignorados. Tanto que
praticamente todo desenhista brasileiro já tinha publicado pelo menos uma
história com roteiro próprio (muitas vezes como forma de ganhar um pouco mais
de dinheiro, pois acumulava o pagamento de desenho e roteiro). Por
consequência, todo desenhista de quadrinhos no Brasil passava a ser visto,
automaticamente, também como roteirista.
Assim, escrever quadrinhos não só era difícil por todas as técnicas e habilidades necessárias, mas também porque o roteirista não era valorizado.
O objetivo do fanzine, portanto, era valorizar os
roteiristas e mostrar que sim, para escrever quadrinhos é necessário aprender
uma série de técnicas e habilidades. Mas havia também a intenção ajudar as
novas gerações, que não precisariam aprender tudo do zero, como foi o meu caso.
Quando comecei a escrever quadrinhos eu não sabia nada de nada do assunto e
único livro que eu tinha lido sobre roteiro era um do Doc Comparato, sobre
roteiro de cinema (quando tentei usar, o resultado foi desastroso, afinal
cinema não é quadrinhos). Eu só fui saber como se formatava um roteiro muito tempo
depois, quando vi um roteiro do Júlio Emílio Brás.
Esse fanzine foi, portanto, o embrião de obras posteriores,
como os livros O roteiro nas histórias em quadrinhos, Como escrever quadrinhos
e A bíblia do roteiro de quadrinhos.
Uma curiosidade é que um desenhista de Curitiba pegou ódio
de mim graças ao trecho do zine no qual eu insinuava que Rorschach era
apaixonado pelo Coruja.
Para baixar o fanzine, clique aqui.
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