sexta-feira, junho 14, 2024

A difícil arte de escrever quadrinhos

 


A difícil arte de escrever quadrinhos foi um fanzine publicado no ano de 1997 como edição especial do Sequência, zine editado por mim e pelo Antonio Eder.

O título surgiu de algo que eu já vinha percebendo no meio quadrinístico. Embora houvesse uma preocupação muito grande com o desenvolvimento do desenho nos quadrinhos nacionais, a mesma preocupação não se aplicava aos roteiros. O desenho era visto como algo difícil, que demandavam um longo aprendizado de técnicas que iam da perspectiva à anatomia. Já o roteiro era visto como algo que não demandava “prática nem habilidade” (como se dizia na época).

Essa visão se aplicava inclusive aos editores, a maioria dos quais publicava qualquer HQ cujo desenho estivesse bom e não tivesse erros grosseiros de ortografia. Aspectos como construção de personagens, da trama ou qualidade do texto normalmente eram solenemente ignorados. Tanto que praticamente todo desenhista brasileiro já tinha publicado pelo menos uma história com roteiro próprio (muitas vezes como forma de ganhar um pouco mais de dinheiro, pois acumulava o pagamento de desenho e roteiro). Por consequência, todo desenhista de quadrinhos no Brasil passava a ser visto, automaticamente, também como roteirista.

Assim, escrever quadrinhos não só era difícil por todas as técnicas e habilidades necessárias, mas também porque o roteirista não era valorizado. 

O objetivo do fanzine, portanto, era valorizar os roteiristas e mostrar que sim, para escrever quadrinhos é necessário aprender uma série de técnicas e habilidades. Mas havia também a intenção ajudar as novas gerações, que não precisariam aprender tudo do zero, como foi o meu caso. Quando comecei a escrever quadrinhos eu não sabia nada de nada do assunto e único livro que eu tinha lido sobre roteiro era um do Doc Comparato, sobre roteiro de cinema (quando tentei usar, o resultado foi desastroso, afinal cinema não é quadrinhos). Eu só fui saber como se formatava um roteiro muito tempo depois, quando vi um roteiro do Júlio Emílio Brás.

Esse fanzine foi, portanto, o embrião de obras posteriores, como os livros O roteiro nas histórias em quadrinhos, Como escrever quadrinhos e A bíblia do roteiro de quadrinhos.

Uma curiosidade é que um desenhista de Curitiba pegou ódio de mim graças ao trecho do zine no qual eu insinuava que Rorschach era apaixonado pelo Coruja.

Para baixar o fanzine, clique aqui

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