sábado, junho 29, 2024

Demolidor – A primeira aparição do Tentáculo

 

Uma das características que faziam do Demolidor de Frank Miller um título revolucionário era a influência da cultura japonesa. Esse aspecto ficou claro no número 174 da revista, no qual que aparece pela primeira vez o grupo de assassinos chamado Tentáculo.

Na história, Elektra está caçando um homem em busca de recompensa quando este é morto por alguém. Ao perserguir o assassino ela descobre não só que ele é do Tentáculo como o próximo alvo do grupo: o advogado Matt Murdock.

Toda a complexidade psicológica de Elektra resumida em uma imagem. 


A sequência, aliás, é maravilhosa e mostra como Miller conseguia usar todos os recursos disponíveis para contar sua historia, incluindo aí os ângulos e planos. Em uma imagem vemos a anti-heroina observando por uma janela e ouvindo o que estão dizendo. No quadro seguinte, temos um close e o texto diz: “Ele é americano. Um advogado...”.  A expressão dela revela preocupação e, ao mesmo tempo, uma certa candura inocente, como se víssemos uma menina. Fica óbvio que a vítima é Murdock e que ela ainda o ama. Ali, resumido naquele quadro, toda a caracterização da personagem: uma assassina fria, mas também uma jovem apaixonada.

Miller era um mestre das cenas de luta. 


Claro que tudo faz parte de um plano do Rei do Crime. Ele sabe que há alguma ligação entre Murdock e o Demolidor e imagina que colocar o Tentáculo para matar o advogado irá colocar o grupo em rota de colisão com o herói. Assim, ele se livra de um grupo rival ou de um herói que vem criando algumas dificuldades colocando-os para lutar um contra o outro. Esse é o Rei na versão de Miller: um estrategista, que raramente precisa colocar as mãos na massa.

Ali pelo meio há uma luta de Elektra, Demolidor e Gladiador contra a guangue do Tentáculo que mostra bem como Miller aprendeu com Eisner a introduzir humor na narrativa. Como não ouviu a voz da mulher, o herói nem imagina que seja Elektra e pensa estar salvando Melvin. Como ele está sem o radar, na verdade, quem resolve a situação é Elektra. O quadro final dessa sequência mostra os genins fugindo de Elektra e o Demolidor pensando: “Estão fugindo. Consegui. Sem meu radar... sozinho...”.

O Demolidor acha que está vencendo a batalha, quando na verdade, está sendo salvo por Elektra. 


É um daqueles exemplos do que chamo de texto irônico, em que o que é dito do texto é o contrário do que o leitor está vendo.  

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