terça-feira, julho 16, 2024

A batalha entre mouros e cristãos em Mazagão

 

Mazagão é um caso único no mundo: uma cidade que foi transplantada da África para a Amazônia. À certa altura, tornou-se muito dispendioso para os portugueses manterem a cidade forticada de Mazagão em Marrocos. A solução foi entregar o local para os mouros e enviar os habitantes locais para o Amapá. Mas, mesmo longe da África, os habitantes dessa nova cidade não esqueceram sua origem – e passaram a encenar uma das batalhas entre mouros e cristãos em meio à festa de São Tiago (o santo teria combatido ao lado dos cristãos como um soldado anônimo).

A cidade fica toda enfeitada para a festa. 


Duzentos e quarenta e cinco anos depois, a festa ainda continua sendo realizada e a cidade continua encenando a batalha em um evento que reúne pessoas de todo o estado do Amapá.

O auge da festa – e da encenação – acontece nos dias 24 e 25 de julho. No dia 24, os mouros tentam enganar os cristãos, admitindo a derrota e oferecendo aos vitoriosos um banquete de comida envenada. Crentes de que o estratagema havia dado certo, eles realizam um baile de máscaras. Os cristãos, desconfiados do presente, levam parte da comida e dão para os animais criados pelos mouros. Ao verem que os animais morreram, eles entram disfarçados na festa (lembram? Era um baile de máscaras!) e misturam a comida envenada ao banquete.

A cavalaria moura usa roupas vermelhas. 


No dia seguinte, não só vários soldados acabam mortos, como até o rei Caldeira acaba falecendo. Seu filho, Caldeirinha, assume o trono e resolve se vingar dos cristãos. Eles enviam um espião, chamado na festa de Bobo Velho, mas esse é descoberto e obrigado a fugir sob uma chuva de pedras.

É nesse ponto que começa a encenação do dia 25: o bobo velho aparecendo e sendo apedrejado – na encenação usam cascas de laranjas.

Os cristãos usam branco. 

Um dos comandantes cristãos, Atalaia, toma uma atitude temerária, entra no acampamento mouro, rouba o estandarte dos marroquinos e joga para seus companheiros. Mas acaba sendo pego, morto, esquartejado e sua cabeça colocada num espeto para apavorar os cristãos.

(Há uma curiosidade histórica aí. Na Mazagão marroquina, atalaia significava sentinela e designava os homens que ficavam ao redor da fortaleza para avisar de algum ataque. Quando o relato foi passando pelas gerações, atalaia se tornou nome próprio)

Os mouros então roubam crianças cristãs e as vendem como escravas, arrecadando dinheiro para comprar seus exércitos. Em represália, os cristãos empreendem um ataque violento que termina com a derrota do exército mouro. Antes da batalha, os dois exércitos fazem uma troca: os islâmicos entregam o corpo do Atalaia em troca do seu estandarte.

A infantaria moura é representada por homens mascarados. 


Cada uma dessas sequências é encenada, numa peça ao ar livre que dura a tarde inteira e início da noite do dia 25 e termina com uma festa na qual se comemora a derrota dos mouros.
A batalha final entre mouros e cristãos é um dos grandes momentos da festa. 


Como há tempos visitamos Mazagão, local certo para nossos pedais, sempre tive vontade de conhecer a festa de são tiago e a famosa encenação, que mistura fatos históricos com lendas. Finalmente este ano tive a oportunidade de fazê-lo.  

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