sexta-feira, julho 19, 2024

Black Mirror – sexta temporada

 


Charlie Brooker, o criador de Black Mirror, parece ter se cansado das histórias de ficção-científica distópicas, especialmente nas baseadas nos perigos da tecnologia. A sexta temporada, composta por cinco episódios tem uma variedade de temas que vão da ficção científica à fantasia, passando pelo terror. Apresento abaixo os episódios, do melhor para o pior:


 

A Joan é péssima

Esse é o melhor episódio da temporada, e também o que mais se encaixa no tema de Black Mirror. Joan é uma mulher comum vivendo uma vida comum até descobrir um programa numa rede de streaming que é nada mais nada menos que sua vida, minuto a minuto sendo narrada de forma quase instantânea. Na tela ela é interpretada por Salma Hayek. Isso faz com que sua vida vire de cabeça para baixo: ela perde o noivo, perde o emprego, passa a ser odiada por todos. Ao tentar processar a empresa, descobre que ela havia dado autorização para que sua vida fosse assim exposta quando assinou os termos de uso da plataforma. Pior: ela não pode nem mesmo processar Salma Hayek, pois quem aparece na tela, na verdade, é um simulacro feito por inteligência artificial. O episódio discute a questão da privacidade (ou falta de) no mundo tecnológico, mas seu principal tema parece ser o uso de inteligência artificial no lugar de atores, discussão que se tornou ainda mais atual com comercial da Wolkswagen na qual Elis Regina é recriada digitalmente. Esse é um episódio que pode gerar horas e horas de muito debate, como ocorre com as melhores histórias de ficção científica.

 


Beyond the Sea

A história se passa na década de 1960, com carros e roupas da época. Dois astronautas estão numa missão para um local que não é especificado que deverá durar anos. Para que não fiquem loucos, cada um ganha um robô simulacro, com o qual podem continuar convivendo com suas famílias enquanto viajam. Mas um grupo de hippies destrói a réplica de um deles e mata sua família (uma referência óbvia à família Mason), fazendo com que ele entre em depressão. Para tirá-lo desse estado, que pode comprometer a missão, o outro oferece seu corpo robótico, o que gera uma situação desastrosa, que inclui uma paixão do astronauta pela esposa do outro. Além de toda a discussão relacionada à questão dos simulacros, um dos charmes do episódio é justamente a discrepância entre o cenário antiquado, com carros e roupas da década de 1960, e a tecnologia de viagens espaciais e de androides – o que me levou a pensar: não seria também o mundo real um tipo de simulacro para os astronautas? Instigante.

 


Demônio 79

Uma deliciosa homenagem de Charlie Brooker aos filmes ingleses de terror da década de 1970 com seus maneirismos narrativos e exageros. Uma mulher indiana trabalha em uma loja de sapatos e, ao almoçar no porão, descobre um talismã que liberta um demônio, que toma a forma do vocalista do grupo Boney M. , famoso na época. Ele explica que ela deverá cometer três assassinatos em três dias para impedir um hecatombe nuclear. Há aqui uma deliciosa mistura de terror com humor, como quando ela mata um homem, o demônio faz uma ligação que se assemelha a uma ligação para call center, apenas para descobrir que aquele assassinato não vale, pois feria determinada regra. Com certeza o episódio mais divertido, mas também um episódio que parece muito mais ter saído de Além da Imaginação. Uma curiosidade sobre esse episódio é que ele é uma homenagem às avessas ao clássico de Natal A felicidade não se compra, de Frank Capra. No filme do Capra é um anjo que precisa salvar um homem. Em Demônio 79 é um demônio que precisa corromper uma mulher.

 


Mazey Day

A história é focada em uma fotógrafa especializada em fotografar astros para publicações sensacionalistas. Ela abandona a profissão depois que uma de suas fotos faz um ator se suicidar, mas a falta de dinheiro faz com que ela volte à ativa tentando fotografar uma jovem estrela problemática de Hollywood que parece estar envolvida com drogas e está sendo escondida por seu produtor. O episódio mostra uma guinada no final, que leva a trama para o terror. Apesar de tocar em alguns temas interessantes, como a questão da privacidade de pessoas públicas, o final banaliza essas discussões.

 


Loch Henry

Um jovem casal de cineastas resolve fazer um documentário sobre uma série de assassinatos ocorridos numa cidade. Entretanto, o documentário pode revelar verdades escondidas perigosas até mesmo para o protagonista. Apesar da rerviravolta no final, é um episódio fraco, do tipo que terminamos de assistir e temos a sensação de que faltou algo.

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