terça-feira, julho 02, 2024

Lanterna e Arqueiro Verde – Meu ódio será sua herança

 


Ao assumirem o título do Lanterna e do Arqueiro Verde, Dennis O´Neil e Neal Adams se propuseram a explorar os grandes males da América. No volume 78 do título, eles abordaram um tema de pouco destaque, mas de grande relevância até os dias atuais: os líderes que criam em torno de si um grupo de fanáticos irracionais.

A história começa com a Canário Negro sendo abordada por uma gangue de motoqueiros. Eles querem roubar a sua moto, mas logo descobrem que não estão lidando com uma mulher indefesa. Entretanto, quando as habilidades em artes marciais da heroína já deram conta de quase todo o bando, um deles atropela a moça com uma moto.

A Canário é atacada por uma gangue de motoqueiros...


Duas semanas depois, o Lanterna, o Arqueiro e o Guardião chegam  a um restaurante administrado por um indígena. Enquanto estão comendo, aquela mesma gangue ataca o local. Quando são finalmente derrotados, o Arqueiro percebe que a moto usada por um deles é a mesma da Canário, o que os leva a procurar por ela. Só que a moça foi resgatada por um falso messias chamado Joshua e passou a fazer parte de sua seita. Joshua quer usar seu grupo massificado para uma guerra contra negros e índios.

A trama ecoa diretamente situações reais, como Charles Manson, cujos seguidores mataram diversas pessoas, entre elas a atriz Sharon Tate, e o Pastor Jim Jones, que levou mais de 900 pessoas a se suicidarem. O roteiro mostra que até mesmo uma heroína pode ser lobotizada e nas situações corretas passar a seguir cegamente um líder fanático.

...  o que faz com que ela entre numa seita. 


Não bastasse o tema relevante, temos aqui um roteiro primoroso de Dennis O´Neil, com uma ótima caracterização de personagens (poucas vezes o Arqueiro foi tão bem trabalhado em sua personalidade impetuosa) e diálogos afinados.

Falar da qualidade do desenho de Adams é chover no molhado, mas aqui, além de todas as outras características que diferenciam seu desenho, como a diagramação inovadora e planos inusitados, ainda descobrimos que ele é simplesmente um mestre ao desenhar mulheres. Sua Canário oscila entre o meigo e o obstinado.

Uma sequência magistral como essa não precisa de texto. 


Em determinada sequência, quando Joshua ordena que ela atire no Arqueiro, vemos uma sequencia de vários quadros, num close cada vez mais próximo, que vão revelando o conflito interno da personagem. De maneira inteligente, O´ Neil não coloca texto. Ele seria desnecessário. O desenho ali fala por si.

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