domingo, julho 14, 2024

Lembranças da biblioteca

 

Menino de engenho foi um dos livros que li por indicação da bibliotecária.

Na época em que eu fazia o ensino médio, um endereço certo, visitado todo dia depois das aulas, era a biblioteca do Centur, em Belém.

Eu lia uma barbaridade. Chegava a ler até mais de um livro por semana. Era meio que para tirar o atraso, pois até os 14 anos, quando descobri a biblioteca do Centur, eu só tinha lido Aventuras de Xisto (lido e relido mais de vinte vezes).

Eu ia direto à biblioteca circulante (que emprestava livros) e procurava algo interessante. Se não encontrava nada muito bom, levava um do Júlio Verne, que era diversão garantida.

Fiz amizade com as bibliotecárias e elas me indicavam livros. Uma delas me indicou Menino de Engenho, de José Lins do Rego, um clássico da literatura regional nordestina. Mas o primeiro livro que li lá foi um volume de contos de H.G. Wells. A biblioteca tinha um mural em que ficavam as resenhas dos livros escritas pelos leitores. Incentivado pela bibliotecária, fiz uma resenha do livro de Wells (confesso que não lembro qual era o título). Com certeza foi minha primeira resenha. Chegou uma época em que todas as resenhas do mural eram de minha autoria. O curioso é que muitos anos depois, fui trabalhar no Centur e a bibliotecária que me dava dicas virou minha colega de trabalho...

Comecei a trabalhar no Centur quando eles resolveram montar a gibiteca. Antes disso, eu já freqüentava o local e ajudava as servidoras, inclusive dando dicas sobre como elas poderiam classificar as revistas em quadrinhos, que eram guardadas em caixas arquivo. Sugeri que elas fossem separadas por títulos ou por personagens. Aquelas que não tinham em quantidade suficiente para montar uma caixa, nós uníamos por gênero: humor, infantil, drama, terror, aventura, ficção-científica... antes de serem catalogcadas, as revistas ficavam todas guardadas em um armário de metal e para mim era mágico abrir aquelas portas e folhear as publicações. Era como nadar em um oceano de informação.

Nos dias de sábado eu podia ler clássicos, como o álbum de Flash Gordon da Ebal.


No Centur ninguém gostava de trabalhar aos sábado. Eu gostava, pois era o dia que dava menos gente e era possível sentar para ler. Era o dia em que eu aproveitava para ler os clássicos, publicados em álbuns da Ebal ou na enorme revista GIBI. Impossível ler esse material grande e grandioso nos dias de corre-corre. 

Foi nessa época em que li uma das melhores e mais desconhecidas HQs: Capitão César. O título original era Wash Tubs. O desenhista trabalhava  muito bem com papel reticulado, criando efeitos fantásticos. E as histórias eram envolventes. Lembro de uma em que o Capitão César, em missão na Alemanha, acaba indo parar em um campo de concentração e escapa de lá. Propaganda norte-americana do tempo de guerra, evidentemente, mas quem liga? Como diria Spielberg, os nazistas são ótimos vilões porque não aparece ninguém com cara de pau para defende-los.

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