domingo, julho 14, 2024

Monstro do Pântano – Meu paraíso azul

 


Há uma frase famosa de Alan Moore segundo o qual “hoje em dia ninguém mais lê poesia e os quadrinhos são uma forma de devolver a poesia às pessoas”. Ele vai demonstrar isso no número 56 da revista Swamp Thing.

Nas edições anteriores, o Monstro do Pântano havia sido, aparentemente morto por uma organização criminosa. Eles haviam mudado a vibração terrestre de modo que seu espírito não pudesse mais acessar a Terra. Mas na verdade, o personagem não morrera – ele saltara no espaço, procurando um local onde pudesse renascer.

O personagem vai parar num planeta azul e cria estratégias para fugir do tédio... 


Na edição em pauta, Moore mostra o que aconteceu com ele. Ele conseguiu sobreviver renascendo em um planeta em que tudo é azul: “As samambaias turquesas... os seixos azul-pálidos... a luz do aquário filtrada por nuvens de cobalto alvejado... os reflexos do azul da Prússia da carapaça polida do besouro que pasta... tudo... tudo é azul”.

A história é centrada em um único personagem, o protagonista, que cria estratégias para passar o tempo e fugir do tédio e da loucura, incapaz de arriscar novamente o salto que pode levá-lo à morte. Ele cria uma versão e si mesmo para jogar xadrez (todas as partidas terminam em empate), cria asas para voar e... finalmente, cria um simulacro de Abbe. Depois cria um simulacro da cidade na Flórida onde se passavam suas aventuras.

Ele cria um simulacro de Abbe. 


A HQ é um estudo sobre a tristeza e loucura da solidão. Não por acaso, Alan Moore escolhe a azul, uma cor associada à tristeza em países como os Estados Unidos. A narrativa é toda em primeira pessoa, o que permite a Moore exercitar toda a sua verve poética, como no trecho: “Através da onírica fosforescência do ar rico em gases raros... nós rolamos em uma progressão cinemática... de quadros de stop motion... uma sequência sensual e inescapável”.

Mas John Constantine está ali para trazê-lo de volta à realidade. 

Uma curiosidade é que, no meio dessa fantasia, o insconsciente do Mostro cria uma versão de John Constantine, que, como na sua versão real, é quem destrói as fantasias com sua sinceridade cortante: “John Constantine, o que faz aqui?”; “Eu lhe faria a mesma pergunta... mas nunca fui muito de conversar comigo mesmo”.

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