sábado, julho 13, 2024

Perry Rhodan – Vôo para o infinito

 



No número 32 da série Perry Rhodan, a humanidade estava em plena guerra contra os saltadores, que não aceitavam qualquer interferência em seu monopólio do comércio espacial.

Diante de um adversário muito mais poderoso, Rhodan procura o planeta Peregrino, onde pretende pedir ajuda ao Imortal.

Essa premissa simples nas mãos de autores menos habilidosos poderiam dar origem a um dos volumes mais maçantes da série. Mas Clark Darlton transfoma esse plot num livro extremamente filosófico e um dos mais interessante do primeiro ciclo.

Quando finalmente chega ao planeta Peregrino, os terranos encontram o Imortal ocupado observando o fim de um sistema solar. Junto com o sol, perece uma das civilizações mais antigas do universo. Rhodan indaga se a situação não pode ser revertida e o planeta salvo.

Em resposta, o Imortal volta com Rhodan no tempo e o coloca numa nave rumo ao planeta, cujo nome dá uma dica sobre sua importância: Barcon. Barcon é a origem não só da civilização arcônida, mas de todas as raças humanoides, incluindo os terranos. Isso explica porque no universo da série há tantas raças humanoides: todas descendem do mesmo tronco.

A capa original alemã. 


Esse mote se torna desculpa para diálogos sobre o espaço-tempo, sobre sonhos (“O homem só conhece um tipo de viagem pelo tempo, que é precisamente o sonho”) e sobre até mesmo uma crítica aos excessos do cartesianismo: “No mais solitário dos mundos do universo prevaleceu a idéia de que um saber abrangente traz mais vantagens que a simples especialização”.

Em uma das sequências, o Imortal explica como consegue reunir, num mesmo momento, duas versões da mesma pessoa, numa explicação que reverbera tanto as ideias de Heráclito quanto o budismo: “A cada segundo que se passa, somos uma pessoa diferente. As células de nosso corpo renovam-se constamente, tal qual o sangue. Logo, o homem deste segundo não pode ser o mesmo do segundo que se segue”.

Vôo para o infinito é um daqueles exemplos de como a série Perry Rhodan conseguia ir muito além da literatura popular de banca.

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