terça-feira, julho 16, 2024

Superman – Britânico legítimo

 



E se o foguete vindo de Kripton tivesse caído na Inglaterra e o Super-homem tivesse sido criado naquele país? Isso é o que imaginam Kim Howard Johnson e John Byrne no volume Superman – Britânico legítimo, lançado aqui pela editora Mythos.

A história, em volume único, tem um tom de sátira, algo destacado pelo fato do roteirista ter escrito uma biografia do grupo Monthy Python e ter tido algum tipo de ajuda não especificada de John Cleese, membro da trupe. Essas credenciais, exibidas com destaque na contracapa do título, leva a crer que essa história seria o superman no estilo Monthy Python. Infelizmente não é o que acontece.

A bebê vindo de Kripton cai na Inglaterra. 


Na trama, Colin Clark é criado por seus pais para não usar seus poderes, tendo como lema “OQOVVP” – “O que os vizinhos vão pensar”.

Formando em jornalismo ele é contratado para trabalhar em um jornal sensacionalista que tem um recorde de tiragem quando o personagem resolve finalmente usar seus poderes para salvar uma dupla de músicos dos Rutles (versão dos Beatles na história). As manchetes sensacionalistas chegam a insinuar namoros com atrizes famosas até que se torna mais interessante para o editor passar a difamar o herói, transformando-o em inimigo público número 1.

Isso deveria ser engraçado... 


O grande problema da história é que ela não funciona como história de super-herois, mas também não funciona como humor, ou talvez seja um humor tão tipicamente britânico que não possa ser compreendido fora de lá. Por exemplo, ao longo da história, os pais adotivos de Colin Clark se mudam diversas vezes, “esquecendo” de deixar o novo endereço. Eu fiquei sem saber se isso é uma referência ao hipotético fato de que pais ingleses costumam fugir de seus filhos ou se é uma referência ao hipotético fato de que pais ingleses costuma se mudar e esquecer de deixar o endereço novo. Nitidamente há ali algum tipo de referência que torna isso engraçado, mas que não consegui decifrar.

Outra questão que talvez seja muito engraçada para os britânicos tem a ver com os trabalhos recebidos por Superman por parte da Rainha: Acertar os horários dos trens; reduzir o tempo de espera das cirurgias de quadril e elevar o padrão de qualidade da BBC.

... mas não é. 


Sim, não são tarefas dignas de um super-herói, eu sei. Aliás, isso que deveria tornar essas tarefas engraçadas. Mas isso não acontece. Talvez porque a impressão que temos é que os britânicos são pontuais e, portanto, imagina-se que seus trens também sejam, e as produções da BBC que chegam até nós são de ótima qualidade (a exemplo dos documentários e do seriado Dr. Who). Talvez para um britânico tudo isso seja muito engraçado, mas nos faltam referências culturais para entender porque seria engraçado.

Pelo menos o uniforme ficou bacana. 


Há, sim, situações engraçadas, como quando o Super-homem resolve o problema das cirurgias de quadril colocando diversos pacientes num auditório, o que faz com que todos os operados tenham infecções (“Pelo jeito, um auditório que costuma concentrar inúmeras pessoas não é o local mais asséptico para cirurgias”) ou quando ele tenta resolver o problema da dívida inglesa produzido diamantes a partir de carvão, o que provoca uma super-inflação de diamantes, fazendo com que o preço da pedra despenque. Essas são piadas que qualquer um que tenha noções de biologia e economia consegue entender, mas são exceções. Kim Johnson parece ter aprendido pouco com seus ídolos do Monthy Python, cujo humor é universal.

No geral, a obra vale mesmo pelo lindo desenho de John Byrne magistralmente arte-finalizado pro Mark Farmer.  

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