O ano era 1991 e a revista que eu mais curtia não chegava mais às bancas Belém, a cidade na qual eu morava. Desde que a Monstro do Pântano passara do formatinho para o formato comics, ela entrara numa distribuição setorizada, que, num primeiro momento, não chegou ao norte.
Naquele ano precisei fazer uma viagem para Minas (para pegar a minha avó que fora visitar parentes) e aproveitei para dar uma esticada até São Paulo, onde ficava a editora Nova Sampa, com a qual eu colaborava há um bom tempo. Também recebi alguns valores por roteiros e estava com o bolso relativamente cheio. Foi quando passei numa banca de revistas e me senti maravilhado. Lá estava a Monstro do Pântano, em uma das edições que não haviam chegado a Bélém (a 14). Foi uma viagem mágica (a primeira que fiz como roteirista de quadrinhos) e talvez por isso essa essa seja uma das minhas histórias prediletas das escritas por Alan Moore.
A história começa com um toque de humor. |
A história começa com um personagem loiro chegando a um deserto para descobrir que há um shopping ali (o local provavelmente não são os EUA, já que um guarda chama o homem de gringo). Ele corre pelo shopping até chegar ao banheiro, onde um gordo está sentado na descarga, lendo um jornal. O forasteiro o arranca do local a tempo de entrar e sumir no meio de uma luz.
Quando ele finalmente chega ao seu destino (numa cena simplesmente maravilhosa de Rich Veitch e Alfredo Alcala), vemos o personagem caído no chão desacordado, em primeiro plano. Em segundo plano, uma mulher corre na direção dele e grita: “Adam! Duss maol qu?”.
Adam Strange chega a Rann. |
Só então descobrimos que o “gringo” é na verdade, o herói espacial Adam Stange. Enquanto ia para Ram, no raio Zeta, o personagem colidira com o Monstro do Pântano, que havia sido coletado pelo mesmo raio.
O Monstro vai para a cidade, na tentativa de encontrar com o terrestre, mas é confundido com um monstro e “morto” por Strange numa bela sequência de ação.
Para além da competência de Rich Veitch e Alfredo Alcala, o que se destaca mesmo é a inventividade revolucionária do roteiro de Alan Moore.
Embora seja o herói de Rann, Adam é considerado um bárbaro pelos habitantes locais. |
Moore simplesmente inventou uma língua para os habitantes de Rann (como pudemos ver na splash page inicial) com suas regras e sintaxe. Mais do que isso: resignificou a presença de Strange em Rann. Nas histórias clássicas ele é apenas um herói espacial que ajuda o planeta contra monstros e tiranos espaciais. Mas, na versão de Moore, a guerra nuclear tornou o planeta estéril, assim como seus habitantes. Assim, sua missão é, na verdade, engravidar a princesa Alanna.
Moore também resignificou os habitantes de Thanagar, o planeta do Gavião Negro. Na história, eles prometem recuperar a vegetação do planeta em troca do raio zeta. E para que eles iriam querer dominar a tecnologia de um raio cuja única função é criar uma fonte até o planeta Terra? A resposta é óbvia: invasão.
A partir dessa história, os habitantes de Thanagar passaram a ser vistos como colonizadores. |
Esses dois aspectos tiveram um impacto tão grande que a DC simplesmente mudou a cultura thanagariana, que passou a ser vista não só como uma cultura guerreira, como uma cultura colonialista. Uma minissérie de Timotthy Truman inaugurou essa nova visão.
Essa história é tão boa que, se eu fosse editor da DC, convidaria imediatamente Alan Moore para escrever Adam Strange assim que terminasse seu período no Monstro do Pântano.
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