A trilogia O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, é uma das obras mais importantes da literatura brasileira, em especial o primeiro livro, O continente, que narra a formação do estado do Rio Grande do Sul através das famílias Terra-Cambará. A obra é tão impactante que ganhou diversas adaptações audiovisuais, a mais recente delas dirigida por Jayme Monjardim e lançada no ano de 2013.
Monjardim e a roteirista Letícia Wierzchowski enfrentaram um grande dilema: como condensar quase 500 páginas de um livro, passando por várias gerações de uma família, de forma coerente, no tempo de um longa metragem?
A estratégia escolhida foi interessante por destacar uma personagem de pouco relevo em outras adaptações e até mesmo no livro Veríssimo.
A história começa durante o cerco ao casarão, no período da Revolução Federalista. Os Terra-Cambará estão entrincheirados lá dentro, passando por sede e fome, mas não desistem. Do lado de fora, a família inimiga, os Amaral, tenta a todo custo tomar o local. Esse início, aliás, é muito parecido com o da obra literária. As mudanças começam quando vemos o Capitão Rodrigo Cambará entrando na cidade. Ele passa pelos Amaral e pelos sitiados e adentra o quarto onde repousa a velha vovó Bibiana. Só então percebemos que ele é um fantasma, ou talvez uma lembrança dela. Ao conversar com seu amado, ela rememora toda a história de sua família, desde o mestiço Pedro Missioneiro, o ataque às missões com o massacre dos indígenas, sua fuga, a chegada, quase morto, à fazenda dos Terra e o romance com Ana Terra.
Essa abordagem surpreende e agrada por uma série de razões. Primeiro, por mostrar os acontecimentos sob o olhar de uma mulher. Segundo porque permite narrar fatos de uma forma contextualizada. Aliás, o filme vai além do primeiro livro, mostrando o fim da saga do casarão. Vale destacar o final, com forte teor simbólico e emotivo, que não consta no livro, mas bem poderia ser escrito por Érico Veríssimo.
Um aspecto do filme que vale o registro é a escolha de atores.
Thiago Lacerda orna perfeitamente com o Capitão Rodrigo, da mesma forma que Tarcísio Meira havia feito na minissérie da Globo. Mas um acerto digno de destaque diz respeito à escolha das atrizes. Cléo Pires revive o papel de Ana Terra, que havia sido interpretado por sua mãe, Glória Pires, na minissérie. Marjorie Estiano surpreende como Bibiana e sua aperência física combina perfeitamente com Fernanda Montenegro, que faz Bibiana idosa.
Vale também destacar a direção inspirada de Jayme Monjardim, com suas belíssimas imagens que contribuem para tornar esse filme tão épico quanto o livro.
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