quarta-feira, setembro 11, 2024

O mistério dos signos

 

 

Em dezembro de 1990 eu já era roteirista de quadrinhos com trabalhos publicados. Tinha praticamente abandonado os gibis e lia principalmente graphic novels e minisséries. Foi quando saiu uma série Disney que me fez comprar e relembrar a infância, quando eu devorava gibis do Tio Patinhas. 
O mistério dos signos, lançado pela Abril em três volumes era uma história Disney totalmente atípica. A começar pela ênfase, que não era o humor, mas a aventura. Além disso, era uma história longa, no total quase 400 páginas, com uma trama bem amarrada e desenhos do meu artista Disney preferido, Massimo De Vita, cujo nome eu não conhecia, mas cujo traço eu reconheci assim que coloquei os olhos na primeira edição. 
O professor Zodíacus divide a pedra dos signos em doze partes. 


Não eram quadrinhos comuns. Aquilo parecia mais uma graphic novel. Na história, Mickey e Pateta voltam ao passado em uma pesquisa para o museu de Patópolis sobre o modo de vida dos primeiros colonos. Enquanto descansam num celeiro, são surpreendidos pela reunião de um grupo de místicos e seu líder, o Professor Zodíacus, que dá a cada um uma pedra e promete que quando elas forem reunidas, será possível prever o futuro. 
Voltando para o futuro, Mickey e Pateta decidem reunir as pedras para o museu. Enquanto isso, Tio Patinhas fica sabendo da pedra zodiacal e os dois grupos (um formado pelo Pateta e pelo Mickey e outro formado pelos patos) une forças para reunir as peças. Mas sempre é necessário haver um vilão, e Bafo de Onça e Mancha Negra resolvem se apoderar da pedra.
Bafo de Onça é o vilão da história. 


É o que chamo de roteiro redondo: há um MacGuffin (o objeto que que os personagens procuram) muito claro dividido em doze partes cada um delas ligada de alguma forma a algum símbolo do zodíaco. Assim, por exemplo, a pedra de escorpião é encontrada no vale dos escorpiões, a pedra de aquário dentro de um aquário etc.
Há episódios que puxam mais para o humor, outros mais para a aventura e outros para o policial. De todos, “Moda estelar”, correspondente ao signo de Virgem, é um dos melhores. 
O capítulo sobre o signo de virgem é o mais curioso. 


Tentando conseguir a pedra que se encontra com um estilista famoso, Donald é abduzido junto com ele por um planeta dominado por mulheres no qual os homens ficam em casa enquanto as mulheres trabalham. A ambientação permitiu que Massimo De Vita explorasse todo o seu pontecial. Na trama, todo ano é escolhida uma roupa para o marido da rainha, roupa que será usada por todos os homens do planeta. E como estão com faltas de ideia, sequestram o tal estilista.
O aviador cegueta é uma homenagem ao Mister No. 


Além de ter um roteiro redondo, Bruno Sarda incluiu diversas referências a astros de cinema, pintores, escultores, estilistas e até personagens de quadrinhos. 
À certa altura Mickey e Pateta preciam pegar um avião na Amazônia e o aviador é Mister Jô, uma bela homenagem ao personagem bonneliano Mister No. E, como sua contraparte, que vive se embedando, essse também tem um defeito para um aviador: é quase cego. 
Nem tudo é perfeito, claro. Como De Vita não conseguiria dar conta de uma história tão longa, à certa altura ele é substituído por Franco Valussi, que os editores consideravam o artista da Disney italiana mais próximo de De Vita. Não que ele a qualidade da arte caía muito, mas é difícil ficar à altura do mestre. O mistério dos signos é até hoje a mais longa história Disney já publicada no mundo e uma das melhores de todos os tempos. Na época foram três edições da Abril, em papel gouchê. Em 2013 a editora republicou a história, agora reunida em um único volume em capa dura. Coisa de colecionador.

Sem comentários: