quarta-feira, outubro 23, 2024

O dilema das redes

 


Quando pensamos em máquinas dominando o mundo, pensamos em robôs assassinos destruindo a civilização e dizimando pessoas. Mas talvez as máquinas já estejam dominando e destruindo o mundo, mas fazendo isso através das redes sociais. Esse é o grande alerta do documentário O dilema das redes sociais, de Jeff Orlowski.
Numa estrutura que mistura depoimentos com narrativa ficcional, o documentário traça uma trajetória do surgimento das redes, a forma encontrada para fazer com que elas se transformassem em negócios e a forma como elas dominaram a humanidade. O entrevistados são pessoas de peso, algumas das quais foram essenciais para esse fenômeno, incluindo ex-diretores do Google, Facebook e Twitter (todos os entrevistados simplesmente proíbem seus filhos de usarem redes sociais).
O maior problema dessas redes é que elas são algoritmos sem controle humanos criados com objetivo de fazer com que as pessoas fiquem o máximo de tempo na tela e que esse tempo seja vendido a quem pague melhor para quem quiser influenciar o comportamento dessas pessoas. Essa influência pode ser para comprar determinado produto ou fazê-las acreditar em algo.
O doc tem algumas informações impressionantes, como o aumento de depressão e de suicídios entre adolescentes que coincide com o surgimento das redes sociais – resultado direto da pressão por aceitação social através dos likes.
Mas o que mais impressiona é o resultado político disso. Notícias falsas têm seis vezes mais visualizações do que notícias verdadeiras. É da natureza humana querer preferir algo impressionante a algo corriqueiro. O problema é que o algoritmo, vendo isso, decide dar cada vez mais visibilidade para essas notícias falsas e teorias da conspiração como forma de gerar engajamento e, com isso, cada vez mais lucros. E algumas pessoas pagam para repassar novas teorias da conspiração para quem já está recebendo teorias da conspiração. O resultado estamos vendo aí: um aumento cada vez maior de pessoas que acreditam que a terra é plana, movimentos anti-vacina e o retorno de doenças erradicadas, como o sarampo.
O ápice disso foi a notícia falsa Pizzagate, segundo a qual porões de pizzarias norte-americanas estavam sendo usadas para traficar crianças – o que fez com que pessoas invadissem armadas pizzarias que sequer tinham porões.
Por outro lado, o radicalismo político também provoca um grande engajamento e com mais tempo nas redes, aumenta o lucro, então, as redes sociais estimulam ainda mais o radicalismo político, expondo as pessoas apenas a posts e notícias que concordam com suas ideias radicais. Com certeza você deve conhecer pessoas que postam o dia inteiro sobre política e só postam sobre isso. E o resultado estamos vendo aí: antigamente pessoas de espectro político totalmente diferentes conversavam e eram até amigas. Hoje o nível de radicalização chegou a um ponto que tornou isso impossível.
Essa mistura de radicalismo político com profusão de notícias falsas pode ser a fórmula para o fim da humanidade? Só o tempo dirá.

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