sexta-feira, setembro 05, 2025

É cobra, te juro!

 


 
Quando Natália Muniz me disse que aceitava desenhar mais um conto do meu livro Mazagão, criei uma história especificamente pensando nela e na sua incrível capacidade para desenhar lendas amazônicas e mais especificamente a cobra grande.

Era um conto sobre dois irmãos que se odiavam. Era apenas uma história a mais, toda baseada numa ideia de ilustração, mas quando o escrevi e fui ler, tornou-se um dos meus contos prediletos na antologia.

A história é escrita como se fosse uma reportagem da revista Realidade, talvez a melhor revista jornalística já lançada no Brasil. Meu grande sonho sempre foi trabalhar na Realidade. Um sonho impossível, claro, uma vez que a revista acabou quando eu tinha apenas três anos.

Assim, “É cobra, te juro!”, foi, de certa forma, a realização de um sonho.  E acho que a narrativa se aproximou muito da mistura de literatura e jornalismo característico da Realidade. Pela junção desses dois fatores (a belíssima ilustração da Natália e a narrativa na forma de reportagem), esse é, provavelmente, o meu capítulo predileto em Mazagão.

Para adquirir um exemplar do livro Mazagão, mande um e-mail para profivancarlo@gmail.com. 


O que aconteceu ao Homem de aço?

 



No início da década de 1980 a aclamada série Crise nas infinitas terras havia remodelado o universo DC, acabando com os universos paralelos e com todos os problemas de cronologia decorrentes do conceito. A editora aproveitou para refazer a origem de seus principais personagens sob a batuta de estrelas do mercado: Miller escreveu Batman Ano Um, George Peres produziu uma série da Mulher Maravilha e John Byrne renovou o Superman. A nova versão do personagem abandonava toda a mitologia da era de prata em prol de uma versão mais realista (sumima personagens como o super-cachorro Kripto).
Julius Schwartz, editor da revista até então, aproveitou as duas últimas edições do personagem antes da chegada de Byrne para fazer uma espécie de fechamento da era de prata, uma história imaginária, que o herói morria e todas as pontas soltas eram amarradas.
Para escrever a história, o editor pensou em Jerry Siegel, co-criador do personagem, mas motivos legais tornaram isso impossível (provavelmente esses motivos legais tinha algo a ver com o fato de Siegel estar processando a DC).
Então, como resolver o dilema de quem poderia escrever essa última história? Conta a lenda que Alan Moore, ao saber que Schwartz estava procurando um escritor para essas duas edições, agarrou o pescoço do editor e ameaçou esganá-lo caso ele não lhe desse a honra de ser o roteirista.

Escolhido o escritor, faltava escolher a equipe artística. Para desenhar a história, Julius chamou o mais célebre artista do Superman de todos os tempos: Curt Swan, o homem que praticamente modelou o personagem na era de prata. Para arte-finalizar a primeria história foi chamado George Perez, que tinha o sonho de fazer arte-final para curt Swan e essa seria sua última chance. A segunda parte ficou por conta de Kurt Schaffenberger. Para arte-finalizar a capa o editor escolheu Murphy Anderson, um dos mais importantes artistas da DC na era de prata.
Era uma equipe de talentos absoluta e a história que produziram ficou à altura, tornando-se um dos maiores clássicos do personagem e, para muitos, a melhor história do superman de todos os tempos.

Na HQ, os vilões do Superman que sempre foram meros incômodos, como Bizarro, começam a atacar metrópoles, matando dezenas de pessoas. Em um ataque do Mestre dos Brinquedos e do Galhofeiro a identidade o herói é revelada.
Percebendo que os incômodos do passado haviam voltado como assassinos, o homem de aço antevê um perigo extremo para seus amigos e os leva para a fortaleza da solidão. Lá, Lex Luthor, sob controle de Brainiac levanta uma redoma energética que deixa todos os outros heróis do lado de fora. É nessa situação tensa, com a fortaeleza pondendo ser atacada a qualquer momento que se desenrola alguns dos mais tocantes momentos da HQ.
Alan moore revisita não só todos os inimigos do herói, mas também amigos, como a Legião dos Super-heróis, que aparecem do século 31 para, aparentemente, se despedir do homem de aço e dar-lhe um presente (que será fundamental para o desfecho da trama).
“O que aconteceu...” é mais que uma homenagem ao superman da era de aço. É uma história tocante de despedida.
Lembro que quando a li pela primeira vez, no formatinho, na revista Super-powers 21, fiquei impressionado.
A imagem que eu tinha do homem de aço era do certinho escoteiro azul de Cavaleiro das Trevas, um personagem anacrônico e desinteressante.
Além disso, a mitologia parecia boba, especialmente se comparada com os avançados heróis da Marvel. Que diabo de herói tinha um cachorro de estimação que também se transformava em super-herói?

Moore mudou completamente minha percepção sobre isso. Essa história era simplesmente genial e tinha sido feita com o herói clássico, respeitando suas principais características. Até mesmo o que parecia idiota, como o supercão ou os amigos que se tornavam heróis tomando porções ou se banhando em um lago mágico parecia ter seu charme.
Moore já havia mostrado em Miracleman que não existem personagens ruins, mas apenas maneiras ruins de trabalhá-lo. Mas em miracleman ele mudara tudo e colocara o conceito de super-heroi de cabeça para baixo. Em “O que aconteceu...” Moore fizeram isso respeitando toda a mitologia clássica do mais clássico dos heróis.
Da mesma forma que o herói da capa do gibi, eu derramei uma lágrima ao final da HQ. E minha percepção do homem de aço jamais foi a mesma.

Fundo do baú - Batfino

 


Batfino foi um desenho animado criado por Hal Seeger e exibido de 1966 a 1967, num total de 100 episódios de 5 minutos.

O protagonista da série é um morcego com asas de aço que lhe permitia sobreviver aos tiros dos bandidos (ele sempre dizia: “suas balas não me atingem, minhas asas são como uma couraça de aço”). Ele também tinha um sonar supersônico que lhe permitia descobrir a localização de bandidos. Seu ajudante era Karatê, um oriental enorme, com dentes frontais salientes, especialista em artes marciais. Ambos andavam num fusca chamado de Bat-lac (uma referência ao cadlac).

Criado às pressas para aproveitar o sucesso da série do Batman, o seriado tinha uma linha mais aventuresca, com poucas cenas de humor. Lembrava muito os matinês, com a ação parando em determinado ponto e o narrador perguntando se Batfino iria sobreviver – então a ação voltava e ele conseguia facilmente se libertar.

O vilão das histórias na maioria era um tipo esquisito chamado Hugo a Gogo.

A semelhança com o seriado do Batman de Adam West ficava claro logo na abertura. Imagens de mãos atirando contra o Karatê apareciam em meio a grandes onomatopeias no estilo pop arte. Uma música, muito parecida com a do Batman começava a tocar. Batfino surgia, protegendo com suas asas seu ajudante. Enfim, aparecia o nome do personagem gravado numa parede como se fossem buracos de tiros.

Em O produtor louco, um produtor de cinema simula que um meteoro irá cair na cidade usando efeitos especiais. Batfino descobre que o meteoro era apenas uma projeção: “Alguém queria evacuar a cidade e agora está roubando tudo que não está cimentado no chão”. “Pela primeira vez na sua vida, Batfino está equivocado”, diz o locutor, e corta para o produtor de filmes serrando uma estátua cimentada no chão.

Batfino usa seu sonar para encontrar o esconderijo do vilão.

O produtor faz aparecer um leão para espanto de Karatê, mas Batfino explica que se trata de uma projeção. Quando o vilão usa um canhão para atirar na dupla, Karatê acha que se trata de outra projeção.

Batfino finalmente encontra o produtor, mas este o soterra com pipoca e o coloca numa caixa que irá cair num caldeirão de manteiga fervente. A cena paralisa e o locutor diz, no melhor estilo dos seriados matinês: “Nosso paladino da justiça terminará seus dias transformado em biscoito de milho?”. Claro que no final o herói termina se livrando da ameaça da forma mais simples possível.  

Lanterna e Arqueiro Verde – A ameaça de plástico

 


No número 84 da revista do Lanterna e do Arqueiro Verde, Denny O´Neil e Neal Adams abordaram o tema da alienação.

Na história, o Lanterna descobre que onde a namorada está internada para um tratamento está ameaçada pelo rompimento de uma represa. Quando consegue conter o vazamento, ele é parabenizado pelo prefeito, recebe uma chave e um broche, que espirra perfume.

Um exemplo de como Adams sabia ser inovador na diagramação. 


Toda a cidade é caracterizada por uma distopia capitalista em que as pessoas são controladas pelos broxes, todo o ar é poluído e tudo é de plástico, inclusive a chave da cidade. O plástico aqui tem uma forte simbologia de algo artificial e fútil.

A cidade é uma distopia capitalista em que tudo é de plástico e o ar é poluído. 


A história perde um pouco da força quando se descobre que quem está por trás de tudo é um vilão chamado Mão Negra, mas é ele que nos traz uma definição do que está acontecendo na cidade. Segundo ele, ao serem borrifadas pelo perfume, as pessoas perdem a concentração, sendo incapazes de pensar. ”Lavagem cerebral em massa... seu calhorda! E para que tanto esforço?”, pergunta o herói. “É bem simples, lanterna. Para agradar os patrões. Ao eliminar a ambição e a curiosidade... nós temos empregados perfeitos!”.

O vilão explica o processo pelo qual as pessoas são controladas. 


Embora nem de longe essa história seja o melhor exemplo do trabalho de Neal Adams, ela sem dúvida tem alguns momentos impressionantes. Um deles é a sequência que mostra o Lanterna e a namorada se beijando no chão da sala e os ladrilhos se transformam em quadrinhos que mostram outras atividades do casal, como cavalgar ou nadar. Um ótimo exemplo de como o artista poderia ser inovador na diagramação.

Ela vai ter um bebê

 


Existem alguns filmes que peguei pela metade na TV e, mesmo sem saber o título, diretor, nada, foi uma paixão imediata. Um exemplo disso foi Ela vai ter um bebê, película de 1988 escrita e dirigida por John Hughes.

O filme conta a história de Kristy  (Elizabeth McGovern) e Jake Briggs (Kevin Bacon), um jovem casal convivendo com a vida de recém-casados. A gravidez, que dá título à obra, só aparece no meio do filme para a frente. Toda a parte inicial é focada nos problemas dos recém-casados, como a relação com os sogros, as cobranças por filho, a dificuldade em montar a casa e até mesmo situações em que os dois são tentados a trair.

O aspecto que torna esse filme interessante – e que me fisgou enquanto zapeava pelo controle remoto – é o fato do filme mostrar o ponto de vista de Jake e sua imaginação e a respeito dos acontecimentos. Isso gera cenas totalmente simbólicas, que flertam com o surreal, como a da dança dos cortadores de grama ou aquela em que Jake anda pela agência tentando encontrar a mãe de um bebê e não consegue.

Hughes constrói um filme no qual realidade e ficção se misturam continuamente, de modo que muitas vezes não sabemos se o que aconteceu foi realidade ou imaginação. À certa altura, por exemplo, Kristy está no banheiro, decidindo se toma ou não o anticoncepcional enquanto, no quarto, Jake se prepara para uma noite de sexo, o que inclui uma série de exercícios com alteres. É quase impossível distinguir, nessa cena, o que é real e o que é imaginação do personagem.

Essa mistura de real e ficcional é, inclusive, a principal fonte de humor do filme, e a razão pela qual uma história banal sobre um casal se torna interessante.

Ela vai ter um bebê, no entanto, tem um ritmo lento, com cenas que muitas vezes são arrastadas, o que pode ter contribuído para que se o filme se tornasse um fracasso de bilheteria (custou 20 milhões de dólares e arrecadou apenas 16 milhões). Uma pena que esses aspecto tenha afastado os expectadores. Se tivessem dado uma chance, teriam descoberto uma obra cinematográfica deliciosa.

Gian Danton é entrevistado em livro sobre processos criativos nos quadrinhos

 


Trabalhar com cultura nunca foi tarefa fácil. Além de toda a dificuldade financeira e do descrédito e desconfiança que a profissão possui no país, o artista começa enfrentando as próprias dúvidas. O que pretendo contar é realmente interessante? Diz algo? Alguém teria algum interesse sincero no que quero dizer? E como dizer? Por onde começar? Como prosseguir? Este é o caminho certo?


Seguem aí as dificuldades de realização. Dificilmente uma obra de arte se faz sozinha. A cultura pede, exige trabalho coletivo. Um cineasta precisa de uma gama de outros artistas para levar um filme à tela. Um roteirista de quadrinhos precisa de um desenhista para passar sua história ao papel. E os dois precisam de um editor para tornar a HQ em algo real.

Filme pronto, gibi impresso. E agora? Como chego ao público? Como converso com ele? Onde distribuo minha obra?

Procurando respostas, Marcelo Engster realizou entre 2016 e 2020 diversas entrevistas com abnegados e corajosos artistas falando sobre seus processos criativos para o finado blog Quadrinhólatra.  Agora essas conversas estão reunidas no livro Processos Criativos nos Quadrinhos.

Quadrinistas entrevistados:
Alice Pereira    
Ana Recalde    
Augusto Paim    
Bier    
Cris Camargo    
Daniel Esteves    
Edgar Franco    
Edgar Vasques    
Fábio Zimbres    
Gian Danton    
Gustavo Machado    
Iaranaika    
Iotti    
Jun Sugiyama    
Louzada    
Mabel Lopes    
Marcatti        
Marcel Ibaldo    
Marcelo D’salete    
Orlandeli    
Ota Assunção    
Raphael Fernandes    
Roberta Cirne    
Rogê Antônio    
Zé Wellington    

O livro está disponível na Amazon e é gratuito com o Kindle Unlimited. Para ler, cliquei aqui

Lobato contra modernistas: a guerra que não existiu

 Uma das histórias mais contadas nos cursos de letras e em grande parte dos livros de literatura é a guerra que teria sido travada entre Monteiro Lobato e os autores modernistas. Lobato é mostrado como retrógrado, ultrapassado e inimigo de posições revolucionárias. Sua produção literária de contos é vista como pobre, de um regionalismo de pouco calibre. O criador do Jeca Tatu é tido, no máximo, como um escritor infantil importante. Mas essa guerra com os modernista teria realmente existido? Essa é a pergunta que muitos intelectuais têm feito e a resposta parece não ser tão óbvia quanto foi durante muito tempo.


A exposição Anita Mafalti

A suposta guerra entre Monteiro Lobato e os modernista teria começado em 1917, com a publicação, no jornal O Estado de São Paulo, de uma crítica de Lobato à exposição de Anita Mafalti. Esse texto, intitulado Paranóia ou mistificação, foi incluído posteriormente no livro Idéias de Jeca tatu.
Lobato começou elogiando Anita: ¨Essa artista possue um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida em má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se, de qualquer daqueles quadrinhos, como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva¨, mas acrescenta que, seduzida por teorias modernas, ela deixou sua arte descambar para um novo tipo de caricatura.
Lobato aproveita também para cutucar os que se dizem encantados com esse novo tipo de arte, pois esses descobrem na tela intenções inacessíveis ao vulgo e conclui, ironicamente: o público é uma besta e eles um grupo genial de iniciados.
O escritor reservou especial atenção a uma tela do cubista americano Bolynson, um carvão representando uma figura em movimento, que foi colocado na exposição como exemplo do caminho segundo por Mafalti. ¨Aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento; foram, isto sim, um pedaço de carvão em movimento¨.
Essa crítica, publicada em 1917, ecoou por muitos anos fazendo, inclusive que muitos ainda acreditem que Lobato havia criticado a Semana de Arte Moderna, um evento ocorrido cinco anos depois. Também por conta desse texto, muitos tentaram desqualificá-lo como crítico e renegar suas idéias sobre arte e cultura.
Na verdade, Lobato não direcionava sua crítica à inovação, mas ao estrangeirismo. Nacionalista radical, o escritor não admitia que se fosse procurar nas vanguardas européias um norte para a arte brasileira. Para ele, isso impediria a criação de um ideal estético nacional, colocando-nos sempre como macacos imitadores dos povos colonialistas.
Outro fator importante é a personalidade independente de Lobato (resumida na frase de Shakespeare, que ele adorava citar: ¨isto acima de tudo: sê fiel a ti mesmo¨) que não admitia reduzir a arte às regras de uma escola artística.
Por fim, Lobato procurava sempre atingir, com sua literatura, um público o mais amplo possível, numa proposta de democratização das artes. O oposto disso seriam as obras herméticas e aristocráticas, que Lobato enxergava no quadro de Bolynson.

A semana de arte moderna 


No livro Furacão no Botocúndia, Carnem Lúcia de Azevedo, Márcia Camargos e Vladmir Sachetta argumentam que o preconceito contra Lobato, motivado pelo episódio Mafalti foi a única razão pela qual Lobato ficou fora da Semana de Arte Moderna, já que Lobato seria o líder natural deles. Afinal, no campo das idéias sociais, políticas e econômicas, ele foi o praticante mais sistemático da agenda modernista. Mas nas artes, os modernistas foram bater às portas de Graça Aranha, que pouco tinha a ver com o movimento.
Lobato fez graça com a situação: ¨Se eu tivesse participado da Semana, talvez me tivessem contaminado com a inteligência nela manifestada. Preferi ficar na minha burrice¨, escreveu ele, dispondo-se a participar de uma segunda Semana, aumentada, na qual ficaria com o cargo de papa, logo abaixo do Papão Oswald de Andrade.
Aliás, a relação entre Lobato e Oswald sempre foi das mais amistosas. Ambos tinham espírito independente e um grande senso de humor. Oswald chamava Lobato de ¨O Gandhi do modernismo¨ e dizia que o autor do Jeca só não participou da Semana por causa do nacionalismo: ¨sua luta significava a repulsa ao estrangeirismo afobado de Graça Aranha, às decadências lustrais da Europa podre, ao esnobismo social que abria seus salões à Semana¨.
Lobato jamais perdeu contato com os modernistas, muitos dos quais eram publicados por sua editora. Além disso, ele se correspondia regularmente com nomes como Di Cavalcanti, Graça Aranha, Oswald e Mario de Andrade e Sérgio Millet.
Coerente com sua opinião de que Anita era uma grande artista, Lobato chamou-a para ilustrar a capa dos livros ¨O Homem e a morte¨, de Menotti Del Picchia e ¨Os condenados¨, de Oswald de Andrade, ambos lançados por ele. O livro ¨Idéias de Jeca Tatu¨ teve como capa O Homem Amarelo, quadro de Anita Mafalti.
Além disso, Lobato nunca escreveu contra a Semana. Na verdade, o que parece ter acontecido foi um episódio de ciúmes, por conta de um artigo no qual Lobato creditava a Semana à Oswald de Andrade.

A morte de Lobato
No artigo ¨Nosso dualismo¨, publicado no em e reunido no livro ¨Na Antevéspera¨, Lobato diz que ¨O futurismo apareceu em São Paulo como fruto da displicência dum rapaz rico e arejado de cérebro: Oswald de Andade¨. Segundo Lobato, Oswald era um turista integral que, por sua visão cosmopolita tinha capacidade de perceber a cristalização mental da inteligência brasileira. Para tirar o país desse marasmo, ele teria recorrido ao processo da atrapalhação e exemplifica com o caso da peninha. Um sujeito propõe a outro uma advinhação: ¨Qual é o bicho que tem quatro pernas, come ratos, mia, passeia pelos telhados e tem uma peninha na ponta da cauda?¨. Como ninguém adivinhasse, ele explicou: ¨É o gato!¨. ¨Mas e a peninha?¨. ¨Está aí só para atrapalhar¨. O processo de atrapalhação teria dado uma sacudida na cultura brasileira, mas, segundo Lobato, a coisa teria dado errado quando outros autores resolveram transformar esse processo num dogma: ¨Oswald sempre repeliu os sectários e sempre refugiu de transformar sua colher de mexer, hoje colher de pau-brasil, em paradigma, em maracá sagrado. E passa a vida a criar cismas dentro do grupo, a renegar sumos pontífices¨.
Mário de Andrade responde com o texto ¨Post-scriptum Pachola¨no qual chega a anunciar a morte de Monteiro Lobato, que ele recebia com o coração sangrando e os olhos mojados de lágrimas. É de se perguntar se em seu texto não havia um tanto de ciúmes, por Lobato ter creditado a Semana a Oswald e não a ele.
O autor do Jeca, entretanto, não fez caso. Em carta ao jornalista Flávio Campos, Lobato diz que Mário, por seu talento, tem direito a tudo, ¨até de meter o pau em você e em mim. Eu tenho levado pancadinhas dele. Certa feita matou-me e enterrou-me. Em vez de revidar, conformei-me, e sem mudar minha opinião sobre ele. Mário é grande. Tem o direito de nos matar à moda dele¨.
Lobato sempre esteve mais alinhado com os ideais modernos do que com a tradição. Seu movimento pelo petróleo brasileiro e pela industrialização está mais próximo do futurismo do que da tradição intelectual brasileira, que se prendia aos bons tempos do café . Sua obra infantil é moderna ao extremo, inclusive em termos de linguagem, ao aproximar a literatura da fala coloquial. Suas várias editoras sempre foram inovadoras e tiveram papel importante na divulgação dos autores modernistas. Até mesmo no campo social Lobato se revelava revolucionário, defendendo, por exemplo, que os jovens fizessem uma espécie de ¨estágio¨, morando com seus futuros conjugues antes de casarem.
Mesmo Mário de Andrade, provavelmente o maior responsável pela disseminação da idéia de que Lobato era inimigo dos modernistas, mesmo ele admitiu o alinhamento desse autor com os ideiais daquele movimento: ¨Quanto a dizer que éramos, os de São Paulo, uns antinacionalistas europeizados, creio ser falta de sutileza crítica. É esquecer todo o movimento regionalista aberto justamente em São Paulo e imediatamente antes, pela Revista do Brasil, é esquecer todo o movimento editorial de Monteiro Lobato¨.

quinta-feira, setembro 04, 2025

Perry Rhodan – A prisão do tempo

 


Um dos grandes atrativos da ficção científica é imaginar realidades diferentes, mundos diferentes, usando para isso o conhecimento científico, o que causa todo o maravilhamento do gênero. O volume 64 da série Perry Rhodan, A prisão do tempo, é um ótimo exemplo disso.

Na história, um grupo de terranos atravessa a barreira dos invisíveis (seres que fazem desaparecer populações de planetas inteiros) e vão parar num local em que o tempo decorre de maneira diferente da nossa realidade, sendo 72 mil vezes mais lento que na nossa realidade. Como os terranos se mantém na progressão de tempo de nosso universo, as diferenças que encontram nessa nova realidade são realmente impressionantes e criativas.

À certa altura, por exemplo, eles se deparam com um cristal límpido e transparente, pendurado no ar, do tamanho de um grão de ervilha. Após o espanto inicial, percebem que se trata de... uma gota de chuva! Quando um dos personagens tenta segurar o pingo, descobre que ele está absolutamente imóvel. A explicação, dada pelo escritor Clark Darlton: “A inércia da massa crescera na mesma proporção da alteração do tempo. Para segurar um pingo de chuva, seria necessário despender setenta e duas mil vezes o volume de energia que se gastava na terra”.

A capa alemã. 


Essa não é a única situação interessante. Logo em seguida, os personagens descobrem que podem andar sobre a água. A razão disso é que a água não tinha tempo de ceder sob a pressão de seus pés.

Quando eles encontram outros terranos que haviam sido capturados pelos invisíveis e os alinham ao tempo terrano, o maravilhamento dá lugar à apreensão: na Terra se passaram meses, enquanto que para os capturados se passaram apenas minutos. O livro termina numa situação de suspense: se não forem resgatados a tempo, os prisioneiros dessa dimensão poderão voltar à nossa realidade centenas de anos depois de terem partido... ou até milénios!

Em tempo: não há como falar desse livro e não comentar a capa da Ediouro, baseada na edição norte-americana. Gray Morrow produziu uma imagem linda, mas que mostra um homem e uma mulher sendo capturados por uma espécie de lula cibernética. Ou seja: a capa não tinha relação nenhuma com a história e os editores publicaram assim mesmo.

Bom dia, Verônica – Segunda temporada

 


A primeira temporada do seriado Bom dia, Verônica parecia tão redondinha, tão fechada, que uma segunda temporada tinha tudo para ser forçada. Afinal, o psicopata Brandão, vilão da trama, havia morrido no final. Continuar a história, portanto, era uma aposta arriscada. No entanto, o roteiro acabou sendo amarrado de tal forma que a continuação consegue ser tão boa quanto.

Na segunda temporada o vilão é Matias Carneiro, um líder religioso que usa sua posição para abusar de mulheres, praticar tráfico humano e criar uma milícia que se infiltra em todas as instâncias do poder, em especial na polícia.

Se na primeira tempora o grande destaque era Camila Morgado, no papel de esposa do psicopata Brandão, aqui o destaque fica por conta de Klara Castanho, que interpreta a filha de Matias Carneiro.

A relação pai e filha é marcada por uma superfície de amor e carinho, representada pela cena inicial, em que Matias acorda a filha com a caixa de música de bailarina. O que vemos ali é um pai apaixonado pela filha criança, que parece dedicar toda a sua atenção e compreensão a ela.

Mas, por trás dessa superfície, existe uma história de abusos que fica o tempo todo implícita.

As cenas entre os dois parece sempre oscilar entre dois momentos, um de carinho paterno e outro de violência, violência que aparentemente nunca se revela, mas sempre está ali, em olhares, em pequenas expressões, sempre implícita. Para isso contribui muito a atuação de Reynaldo Gianecchini no papel de Matias, que com seu olhar calmo e sua voz doce consegue ser capaz de manipular qualquer um.

É curioso como os roteiristas Raphael Montes e Ilana Casoy conseguem costurar essa trama quase caseira com a história de Verônica, que continua investigando as conexões do psicopata da primeira temporada. A relação entre as duas histórias vai se tornando cada vez mais estreita até os episódios finais, que são simplesmente hipnotizantes.

Vale destacar também como o contexto religioso é muito bem aproveitado, com destaque para a cena em que Matias e sua filha cantam a música “Quando o sol bater na janela do seu quarto”, do Legião Urbana. A cena resume toda a base de aparente carinho e, ao mesmo tempo, tensão.

Em tempo: Matias Carneiro é evidentemente inspirado em João de Deus, o curandeiro envolvido em diversos crimes, entre eles estupros e assassinatos. 

Hair – análise do roteiro

 


Hair é um dos filmes musicais mais famosos de todos os tempos. Dirigido por Milos Forman e lançado em 1979, tem uma trilha sonora realmente épica. Mas o filme se destaca também pelo roteiro muito bem amarrado.
A história, baseada num musical homônimo da Brodway, acompanha as aventuras de um rapaz do interior do Texas que vai para Nova York se alistar para a guerra do Vietnã e conhece um grupo de hippies. O filme mostra os bastidores da contracultura da época em meio às críticas à guerra.
A trama inicia com Claude Bukowiski se despedindo do pai e pegando o ônibus para nova York. A imagem foca na pequena cidade e na capela local para depois pular para uma cena em pleno central park, com uma arrebatadora interpretação da música Aquarius.

É quando o protagonista conhece um quarteto hippie liderado por Berger,  e vê se apaixona por uma garota rica, Sheila Franklin, que passa por ali num cavalo.
Os hippies conseguem dinheiro e alugam um cavalo, mas são incapazes de manejá-lo e o perdem. Bukowiski consegue resgatar o cavalo e, estimulado por Berger, vai atrás da moça pela qual se apaixonou, fazendo uma exibição de montaria.
Segue-se uma sequencia em que os personagens consomem haxixe. Nessa cena temos a primeira aparição da música “Manchester England”, cantanda inicialmente por Berger, mas que se refere a Claude: “Eu sou um gênio gênio/Eu acredito em Deus/ E eu acredito que Deus/Acredita em Claude/Que sou eu que sou eu/ Claude Hooper Bukowski”. A letra da música é usada tanto para caracterizar o personagem Claude como alguém ingênuo, como ironia por parte de Claude. No final do filme, essa música voltará com outro significado.  
A famosa cena da festa.

Chegamos finalmente à famosa cena da festa. Berger tem a ideia de invadir uma confraternização da família Franklin para que Claude possa ter a chance de ver Sheila antes de ir para o Vietnã.
Mas o grupo acaba preso.
Quando são finalmente liberados (graças ao dinheiro da mãe de Berger), eles vão para o Central Park, onde Claude experimenta pela primeira vez LSD enquanto Jeannie, uma das hippies, pergunta se ele não gostaria de se casar com ela para escapar da convocação para a guerra.
A “viagem” de Claude mostra o quanto o roteiro é bem amarrado: as imagens são resultado direto dos ganchos do roteiro: a sugestão de Jeannie, a capela que aparece na primeira sequência, os Hare Krishna que passam cantando, Sheila, a festa invadida, está tudo ali, como se todos os acontecimentos mais recentes tivessem se misturado e embaralhado na cabeça do personagem.
Em seguida, Claude vai para o treinamento militar e Berger tem a ideia de visitá-lo. Com uma manobra conseguem o carro da família de Sheila, que vai junto para ver pela última vez o seu amor.
Mas quando chegam na base é impossível entrar: estão todos em alerta e os soldados não podem ter contato com civis. Sheila engana um sargento, rouba-lhe a roupa e o carro e Berger consegue entrar na base para levar Claude para o floresta, onde o grupo de hippies o espera.
Mas claude discorda: há contagens o tempo todo e ele não pode se ausentar.
A solução é sugerida por Berguer: trocar de lugar com Claude.
Aí surge a grande sacada do filme: enquanto Claude visita os hippies, o grupo de soldados é chamado a embarcar para a guerra. Berger tenta escapar, mas não consegue e acaba embarcando no lugar do amigo.
A trilha sonora e a sequência seguinte, em um cemitério deixam claro que ele morre no conflito.
A música "Manchester England" é resignificada no final do filme 

Esse plot twist tem sido celebrado por críticos com o ponto alto do filme. Mas há uma outra sacada genial: enquanto marcha para o avião, Berger canta a música que inventara para Claude logo no início do filme. Mas agora não há nada de alegre nela e a nova situação torna a letra totalmente irônica: “Eu sou um gênio gênio/Eu acredito em Deus/ E eu acredito que Deus/Acredita em Claude/Que sou eu que sou eu/ Claude Hooper Bukowski”.
Se a primeira sequência em que a música aparece, ela se refere a Claude, aqui ela se refere a Berger: sua ideia parecia genial, mas foi um desastre e agora ele é Claude. Ao usar a mesma música em dois momentos chaves do filme, com sentidos completamente opostos, o roteirista mostra que pensou o filme como um todo e foi capaz de brincar com seus significados das letras.

Perry Rhodan - 6 décadas de aventuras espaciais

 

A maior série de ficção científica do mundo. Trata-se de Perry Rhodan, uma space opera alemã que vem sendo publicada ininterruptamente desde 1961. No mundo todo já foram publicados mais de um bilhão de livros nas mais diversas línguas e há fã-clube espalhados por vários países, inclusive em alguns em que o personagem não é mais publicado. É um fenômeno poucas vezes observado na história da literatura de gênero. 

Perry Rhodan surgiu como uma reação à dominação norte-americana no campo da FC. No final da década de 1950, esse mercado era totalmente dominado por material vindo dos EUA e os alemães só conseguiam publicar sob pseudônimo. Foi quando dois autores, Karl-Herbert Scheer e Walter Ernsting (também conhecido pelo pseudônimo de Clark Darlton) apresentaram o projeto de um herói audaz à editora alemã Moewig, que topou publicar depois de algumas alterações. Para fazer a capa foi chamado Johnny Bruck, um dos mais famosos ilustradores alemães de ficção-científica. À equipe criativa juntaram-se mais dois escritores, Klaus Mahn (Kurt Mahr) e Winfried Scholz (que assinava W.W. Shols). Scher escreveu a sinopse dos 10 primeiros volumes e começaram a produzir. 




Para dar ideia de que a série era importada, o personagem principal era o astronauta americano Perry Rhodan. Em viagem à Lua, encontra uma nave de uma civilização super-desenvolvida, mas decadente, os arcônidas, e seus dois ocupantes. Voltando à Terra, ele usa a tecnologia alienígena para impedir uma guerra nuclear e funda a Terceira Potência, unindo a humanidade em torno de um ideal: a conquista do espaço.

Os autores acharam que a série ia fazer, no máximo, um sucesso relativo, e planejaram apenas 30 números. Mas Perry Rhodan vendeu tanto que os primeiros números foram rapidamente republicados e a série foi exportada outros países, inclusive no Brasil. Logo a quantidade de livros publicados era tão grande que ficou difícil explicar como uma pessoa normal vivia tantas aventuras. A solução foi tornar o protagonista praticamente imortal graças a um ativador celular (atualmente Perry Rhodan tem mais de 3 mil anos) e encher a trama de personagens secundários, muitos dos quais vivem aventuras solo. 


Para conseguir contar uma trama tão complexa e cheia de detalhes e personagens secundários, que abarca centenas de anos na história da humanidade, os autores desde o primeiro número fazem um planejamento detalhado. Um dos autores é nomeado líder e escreve um resumo de cada volume semanal por todo um ciclo (que pode durar 50 ou 100 livros). Esse resumo deverá ser seguido à risca pelo autor do volume. Assim, se uma nave parte com uma determinada tripulação em um volume, ela deverá ter a mesma tripulação no volume seguinte. Os livros também são revisados para encontrar incoerências. 

Muitos dos principais conceitos da FC e dos quadrinhos foram antecipados pela série. Os mutantes, por exemplo, já exibiam seus poderes em Perry Rhodan anos antes do surgimento dos X-men. Outra antecipação são os pós-bis, uma raça de robôs que pretendem destruir toda forma de vida orgânica, conceito muito semelhante aos borgs, vilões que surgiriam na série Jornada nas estrelas - nova geração, décadas depois. 

Apesar da enorme quantidade de livros publicados e de alguns escorregões, na média, os autores nunca deixaram cair a qualidade da série e houve momentos em que os livros chegavam a uma qualidade insuspeita para esse tipo de publicação. 



Exemplo disso é o número 52, O Pseudo, escrito por Clark Darlton. O livro é uma adaptação da peça O Inspetor Geral, do dramaturgo russo Nicolai Gógol. Gógol escreveu sua peça como uma crítica ao autoritarismo e à corrupção do Estado Czarista. Darlton atualizou a discussão, transpondo-a para um cenário futurista. 

Pelo menos um dos escritores é considerado um mestre da FC do porte de Isaac Assimov e Ray Bradbury: Willian Voltz. Dono de um estilo poético que lembra Bradbury, Voltz colocou humanismo e filosofia na série. O estilo Voltz ficou muito bem claro desde os primeiros livros desse autor na série. No volume 99, a história era pueril e maniqueísta: um dos arcônidas encontrados por Perry Rhodan na lua, Crest, vai para um planeta longínquo para passar os seus últimos dias, mas recebe a visita inconveniente de seres extraterrestres que querem se apoderar de sua nave, o ápice da tecnologia terrestre até então. Voltz transformou essa sinopse numa parábola sobre a amizade e a lealdade, recheada de poesia. 

Na fase em que liderou os escritores, a humanidade passou a questionar seu papel no universo, percebendo que a evolução espiritual era tão importante quanto a material. As histórias passaram a ser mais filosóficas e contemplativas, fugindo do militarismo da fase anterior. 

Os personagens, mesmo os vilões, começaram a questionar sua própria existência, fugindo do maniqueísmo. Nessa nova fase, mesmo os mais ferozes inimigos tinham motivos que justificavam sua suposta maldade. 



No Brasil a série foi publicada pela editora Tecnoprint S.A. a partir de 1975 e durou até o número 536. No início as histórias eram publicadas em formato livro de bolso pequeno, com borda branca. Posteriormente, o formato aumentou, com livros compridos e estreitos e a borda ficou preta. No início da década de oitenta, amparada por propagandas de TV, a série ganhou popularidade e as edições passaram a ser semanais. 

No início da década de 1990, a era Collor provocou uma crise sem precedentes no mercado editorial e o personagem não resistiu, deixando de ser publicado no número 536. 



Apesar de não ser mais publicada, a série continuou aglutinando fãs que se reuniam em torno de fanzines e tentavam articular a volta do personagem. Como o surgimento da internet, essa articulação foi para as redes sociais. Surgiu o Perry Rhodan Fã Clube do Brasil (PRFCB) e o fã-clube começou a negociar com grande editoras, ao mesmo tempo que organizava uma lista de possíveis assinantes. Embora essa lista aumentasse cada vez mais, nenhuma editora parecia se interessar. 

A solução surgiu de um fã, Rodrigo de Lelis, dono de uma pequena empresa de informática, a SSPG, voltada para a documentação eletrônica e editoração de publicações, que passou a publicar a série em volumes que incluíam duas histórias e vendidas através de assinaturas. 
Mais recentemente a editora tem lançado volumes únicos que podem ser comprados como e-book ou impressos. Clique aqui para acessar a loja da SSPG.