quarta-feira, novembro 25, 2009

Amapá: ame-o ou deixe-o


Na década de 1970, o lema da ditadura militar era "Brasil: ame-o ou deixe-o". A lógica era que qualquer um que criticasse o governo militar deveria sair (ou ser retirado) do Brasil. Esse slogan ajudou a justificar prisões ilegais, torturas e extradições.
Recentemente um leitor do blog deixou um comentário que me fez lembrar da famosa frase da ditadura: "Se o Amapá tem tantos defeitos, problemas, não estaria na hora do senhor voltar para seu querido Pará?". O mesmo comentário dizia que eu era um paraquedista que tinha chegado apenas para desfazer tudo que já tinha sido feito.
Tudo porque ousei criticar as condições de higiene da venda de comidas na Expofeira.
Estou no Amapá há mais de 10 anos e tenho dois filhos amapaenses. Mas na ótica do leitor, sou um paraquedista só porque ousei criticar um evento governamental. Na ótica do leitor, qualquer um que venha dizer que está tudo lindo e maravilhoso é considerado amapaense da gema e os que ousam apontar problemas são "paraquedistas".
Não é novidade para ninguém os problemas de higiene da Expofeira. Eu mesmo vi garçons pegando a comida com a mão, a mesma mão com a qual ele havia acabado de pegar o dinheiro. Vi um vendedor de maçã do amor pegar dinheiro e depois espalhar confeito sobre as maçãs. Também não vi ninguém usando toucas, luvas, aventais...
Alguns amigos e alunos me contaram outras histórias:
- Uma aluna me disse que viu um senhor cortando macaxeira sentado no chão, sobre uma tábua de madeira tão suja que já estava preta.
- Um amigo me contou que a namorada havia comprado um vatapá. Ao reclamar que estava azedo, ouviu da vendedora: "Não se preocupe, minha filha, eu faço pela metade do preço".
- Um conhecido comprou uma maçã do amor e, ao mordê-la, descobriu que estava podre.
Certamente há outros exemplos.
A diarreia é a segunda maior causa de morte de crianças no mundo. A infecção intestinal mata mais que a AIDS, a malária e o sarampo juntos. Se minhas críticas ajudarem a sensibilizar as autoridades para o problema e isso diminuir os casos no Amapá, já me dou por satisfeito. Claro que vou continuar tendo de ouvir de leitores que sou um paraquedista que deveria ir embora por estar apontando problemas, mas é um preço a pagar. Afinal, se ficarem apenas os que elogiam, como as coisas irão melhorar?
O mesmo leitor diz que não apresento soluções. Assim, resolvi sintetizar algumas sugestões, que foram feitas de forma esparsa no blog:
1) O governo poderia providenciar um curso sobre higiene na produção de alimentos para os vendedores da Expofeira. Uma palestra com o Dr. Bactéria (que fez uma ótima apresentação na Feira do Empreendedor do SEBRAE) seria uma boa.
2) Os vendedores de comida deveriam ser obrigados a usar touca, luvas e avental.
3) A vigilância sanitária deveria estar na Expofeira, fiscalizando.
Essas três medidas simples poderiam melhorar em muito a higiene da Expofeira, o que, por sinal, contribuiria para o turismo (afinal, ninguém gosta de ter uma infecção intestinal durante uma viagem de lazer).

8 comentários:

Jorge Monteiro disse...

Quem fala o que quer...
Nem perder tempo com isso,professor!
Ele deve ser míope!

Luciana Capiberibe disse...

Ivan Carlo, esse é o espírito da "Harmonia", cujo significado é totalmente adulterado aqui no Amapá para justificar o silêncio diante das maiores atrocidades. O preconceito por parte do status quo não é contra quem "é de fora", é contra quem tem espírito crítico. Ser "de fora" equivale a ser crítico. Não se deixe abalar.

Carlos disse...

Grande Ivan, você é um amapaense muito mais autêntico do que os lambe botas que venderam o nosso Estado e as suas consciências. Parabéns por seu trabalho em prol dessa terra.

JEFFERSON NUNES disse...

Como eu costumo dizer velho amigo nos do norte somos um mistura de raças que nao deu certo.....
Talvez a influencia "pesada" dos portuguese por aqui tenha sido a causa

Dulcivania Freitas disse...

Acredito que o senhor, que pessoas que nasceram aqui, que pessoas que não nasceram aqui dão prova de que se preocupam de verdade com a melhoria da cidade e da qualidade de vida de todos, quando ousam falar publicamente sobre as mazelas expostas como por exemplo a omissão dos organizadores da expofeira com cuidados básicos que garantiriam a higiene.

Ivan Daniel disse...

Nós, amapaenses, devemos ver no Prof. Ivan Carlo o exemplo de como ser cidadão amapaense.

Alan Noronha disse...

Apóio totalmente o Ivan.Fazer críticas construtivas é sinal de respeito ao lugar onde se mora, é querer que as coisas melhorem.

Tatiana Costa disse...

O Ivan foi meu professor no Ceap e sempre o ouvi fazendo críticas e também defendendo o Amapá como um verdadeiro amapaense, e faz bem pouco tempo que fiquei sabendo que ele não era daqui. Então é inaceitável que alguém que não o conheça ou que até mesmo não é visitante do seu blog, vir bater no peito e dizer que é paraquesdista quem aqui chega querendo mudar as mazelas do estado. Ora,me compre um bode!!!

Sei bem o que é não ter nascido aqui e receber esse tipo de comentário idiota de gente de cabeça pequena, que não cresce e não quer que o povo aqui viva no costume de aceitar tudo o que lhe é empurrado. Porque vale ressaltar que tem muita gente "de fora" que monta aqui seus restaurantes, barraquinhas, e bodegas e vem vender porcaria, de qualquer jeito. Da mesma forma tem gente daqui que faz isso. Então não é uma questão de ser ou não daqui.
E sim uma questão de princípio, de educação, de formação, e isso o estado preciso e assim como o Ivan, como moradora do estado do Amapá, que vivo e trabalho e aqui, além de educar minha filha nesse estado, é que sempre que eu tiver que fazer uma crítica pra melhorar alguma coisa que não está atendendo bem ao consumidor, seja eu, ou não, eu vou reclamar e vou fazer isso aos quatro ventos, pra ver se oe conformidade se altera nem que seja em uma pessoa.

E tenho dito!!