Leia
o trecho: "Ele propôs-lhe morarem juntos, e ela concordou de braços
abertos, feliz de meter-se de novo com um português, porque, como toda cafuza,
não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça
superior à sua". Parece racista, não? Esse é só um dos muitos exemplos de
racismo encontrados na obra de de... Aluísio de Azevedo. O romance O cortiço,
por exemplo, é todo construído a partir de ideias racistas – é um livro cujo
racismo é a base a partir da qual foi construída a trama. Da mesma forma, vários
outros escritores brasileiros do final do século XIX e início do século XX eram
racistas e rechearam suas obras de textos racistas.
No
entanto, você nunca viu capas de revistas com destaque para o racismo de
Aluísio de Azevedo. Nunca viu campanhas na internet ou memes com suas frases
racistas. Por que não? Por que Azevedo, assim como outros escritores racistas,
nunca mexeu com petróleo.
Lobato
morou algum tempo nos EUA e percebeu que a base da riqueza e do desenvolvimento
daquele país estava no petróleo e no ferro. E voltou ao Brasil disposto a puxar
uma campanha: o petróleo é nosso. Foi boicotado de todas as maneiras. Seus sócios
foram mortos, ele foi preso, poços que jorravam petróleo foram concretados. Quando
um dos entusiastas da campanha do petróleo foi equivocadamente para a sede da
Standard Oil (conhecida como Shell) achando que era uma empresa nacional, o
diretor regional explicou-lhe algumas verdades: “Vocês partem do ponto de vista de que o petróleo é um negócio
nacional, de cada país. Não é. O petróleo é um negócio internacional da
Standar. Ela criou esse negócio no mundo e o mantém contra tudo e contra todos.
Contra a vontade da Standard país nenhum tira petróleo que haja em suas terras”.
Lobato
denunciou a situação em um livro para crianças, O poço do Visconde, e em um
livro para adultos, O escândalo do petróleo e do ferro. Toda uma geração
cresceu sabendo a importância do petróleo para a economia de um país e como
esse petróleo era cobiçado pelas grandes companhas estrangerias.
A
campanha O petróleo é nosso, criada por Lobato ganhou força na década de 1950. Foi
quando começou a primeira campanha contra Lobato: acusavam-no de ser comunista
para desacreditá-lo. No final, o petróleo foi nacionalizado, mas quem ganhou os
créditos foi Getúlio Vargas, o mesmo que havia perseguido Lobato anos antes
justamente por conta do petróleo.
Em
2011 começou uma nova campanha. Agora com foco no racismo. O objetivo não era
alertar para o fato de que a maioria dos escritores do final do século XIX e início
do século XX eram racistas e esse racismo, fruto de sua época, se refletia em
sua obra (a exemplo do romance O cortiço, cujo racismo permeia todas as páginas).
Era focada única e exclusivamente em Monteiro Lobato. Nenhum outro escritor era
sequer citado. Dava a impressão que Lobato tinha inventado o racismo no Brasil.
Mães apavoradas devolviam livros de Lobato nas livrarias.
E
o que estava acontecendo em 2011? Começava-se a discutir a venda dos direitos
de exploração do pré-sal para empresas estrangeiras (foram vendidos alguns já
naquela época e outras mais recentemente).
Ninguém
estrilou. Afinal, “O petróleo é nosso” passou a ser coisa de escritor racista. Coincidência?
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