Uma
reclamação constante dos pais é: meus filhos não lêem. Quanto mais se aproxima
o vestibular, mais comum é a reclamação quanto a esse item. No entanto, o que
fazem os pais para incentivar seus pais a lerem?
A verdade
é que, por trás dessa aparente preocupação há muita hipocrisia. A maioria das
pessoas que reclama é gente que não lê e não dá valor aos livros. O discurso do
faça o que eu digo, não o que eu faço dificilmente funciona quanto o assunto é
hábito de leitura. Só aprende a gostar de ler quem vive rodeado de textos. É na
interação com os livros e com os adultos que as crianças aprendem a dar
significado à leitura.
Claro,
muitos argumentam que não têm tempo para ler, mas será que isso é verdade?
Tenho o costume de reservar um livro para filas. Sempre que entro em uma fila,
já vou com meu livrinho embaixo do braço. Consigo ler pelo menos um livro de
fila por mês, sem grande dificuldade.
Pais que
passam o final de semana inteiro assistindo televisão e não pegam um livro, uma
revista semanal para pelo menos passar os olhos estão dando a seus filhos a
lição de que é possível reservar tempo para tudo, menos para ler.
Apesar de
tudo, há algumas crianças, que, mesmo sem maior estímulo começam a ler. Uma
amiga minha, diretora de uma escola, diz que as crianças até os seis/sete anos
são freqüentadoras assíduas da biblioteca escolar. A partir dessa idade elas
vão diminuindo suas visitas até desaparecerem por completo.
O que
acontece nesse meio tempo? O que faz com que crianças que eram muito
interessadas em leituras percam o interesse?
Por
incrível que pareça, a culpa é justamente das duas figuras que mais reclamam da
falta de leitura dos jovens: os pais e a escola.
A escola
trata o texto não pelo prazer de tirar dele seus vários significados, mas como
desculpa para encontrar ditongos, hiatos e verbos e dificilmente tem programas
sérios de incentivo à leitura.
Há algum
tempo a editora Mithos, em convênio com a italiana Bonelli, resolveu incentivar
a leitura distribuindo gibis de personagens como Tex, Zagor, Dylan Dog e outros
para alunos da sexta-série e ensino médio. A idéia era fazer isso em escolas
públicas e privadas. Na escola pública escolhida, depois de nove dias de
espera, os editores ouviram da coordenadora pedagógica que os gibis eram
inadequados para seus alunos. Provavelmente essa mesma coordenadora é uma das
que reclamam diariamente da falta de leitura dos estudantes...
Essa
postura revela uma moral preconceituosa: existem leituras adequadas e leituras
inadequadas. Leitura adequada é leitura só de livro. Leitura formal,
intelectual e poucas vezes relacionada com a vida do aluno. A leitura
divertida, para essa visão antiga, é quase sempre inadequada. Postura muito distante dos paradigmas atuais,
que falam de leitura de mundo. Um bom leitor não é só leitor de livros. Ele lê
tudo, de livros a propagandas, passando por gibis e livros de
ficção-científica. Tudo pode ser passível de leituras, até os gestos das
pessoas. Desse ponto de vista, a leitura de uma história em quadrinhos é tão
saudável quanto a de um livro.
Sem comentários:
Enviar um comentário