A figura acima é o quadro Abapuru, obra de Tarsila de Amaral pintada como presente para seu esposo Oswadl de Andade. Abapuru significa "home comedor de gente", em tupi. A imagem levou Oswald a escrever o famoso Manifesto Antropofágico.
Os dois - quadro e manifesto - eram uma resposta a uma questão antiga, que até hoje ainda gera debates: o que é a cultura brasileira?
Vale lembrar que o manifesto, e de certa forma o modernismo, surge em protesto contra a arte acadêmica, certinha, neo-clássica.
Aqui entra um parêntese.
A origem dessa arte era a missão francesa, um grupo de artistas que chegou ao Brasil a convite de D. João VI para ensinar a arte aos brasileiros e trazer as novidades da Europa para nosso país. O discurso era de que o que se fazia no Brasil até então (o barroco de Aleijadinho, como exemplo) não era arte verdadeira. O episódio colocou na cabeça do brasileiro a ideia de que "o que é bom vem lá de fora", que ainda hoje domina a mentalidade local.
Fecha parênteses.
A antropofagia fazia uma referência aos índios canibais que haviam devorado o bispo português Sardinha quando o navio deste afundou na costa brasileira. Para Oswald o episódio mostrava a nossa principal característica: nós deveoramos a cultura que vem de fora, mas não de forma passiva. Nós a transformamos em outra coisa. As festas juninas, por exemplo, foram criadas a partir dos bailes europeus, mas em nosso país se transformaram em outra coisa.
Abaixo algumas frase do manifesto antropofágico:
"Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará"
"Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade"
"Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago"
OSWALD DE ANDRADE Em Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha.
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