O taoísmo é baseado
num pequeno livro de 81 versos chamado Tao Te King. Conta-se que o autor seria
um velho chamado Lao Tsé. Lao Tse viveu a primeira metade de sua vida,
em torno do século 6 a.C. na corte imperial chinesa trabalhando como
historiador e bibliotecário. Um dia, ele abandonou a corte e retirou-se para
floresta, onde passou a viver como eremita, estudando e meditando. Depois de
algum tempo, resolveu cruzar a fronteira da China. O soldado que guardava a
fronteira, imaginando que as autoridades não iriam gostar se ele deixasse ir
embora um homem tão sábio, impôs uma condição para que o velho atravessasse a
fronteira: antes disso, ele deveria escrever um livro que reunisse toda a sua
filosofia. Lao Tse sentou-se, escreveu rapidamente o pequeno livro, entregou ao
soldado e foi embora para nunca mais ser visto.
Essa é apenas um das
versões para o surgimento do Tao Te King.
Hoje não se tem certeza nem mesmo de que Lao Tse tenha existido e muitos
pesquisadores prefere creditar o livro à tradição oral.
O livro surge em um
período conturbado da história chinesa. Por volta do ano 1000 a 700 a.C., a
China foi unificada sob o domínio da Dinastia
Zhou. No século 7 a.C. o império Zhou entrou em decadência. As famílias
aristocráticas que governavam os estados começaram a brigar pelo poder
absorvendo os estados menores. Essa época conturbada foi chamada de “período
dos reinos combatentes”.
Nessa época surgiu
uma nova classe de homens, os shi, formada por camponeses ambiciosos e membros
falidos da aristocracia. Eles ocupavam o cargo de administradores e
conselheiros dos estados.
Embora a maioria dos
shi se ocupasse apenas de questões práticas, outros eram idealistas e
pretendiam reformular a vida política chinesa com ideais morais e espirituais.
Esses homens normalmente se reuniam em torno de um mestre, como Confúcio, e
tentavam convencer os governantes locais a seguirem suas políticas. Outros se
afastavam do mundo para viver uma vida feliz e simples em bosques, onde apenas
pescavam e meditavam.
O Tao Te King é uma
mistura das visões desses grupos e de outros. Pode ser lido como um manual para
governantes ou como um livro puramente espiritual e contemplativo. Política,
religião e filosofia se misturam em uma obra que, ao mesmo tempo é simples e
complexa, permitindo várias interpretações.
Na dinastia Han (151-41 a.C.) o Tao Te King foi
adotado como um dos principais manuais da corte. Surgiu também a versão de que
ele teria sido escrito por um rei, o Huang Di (Imperador Amarelo). No final
desse período, o taoismo já era uma religião, com o Tao sendo considerado seu
livro sagrado. A lenda de que Lao Tse teria deixado a China chegou mesmo a ser
ampliada do modo que ele teria ido para a China, trocado de nome para Gautama e
fundado o budismo. Aliás, ao entrar na China, o Budismo foi influenciado pelo
taoísmo, dando origem ao Zen Budismo.
Tao
O principal conceito
do taoísmo é de Tao. Lao Tse diz que era impossível descrever o Tao de maneira
racional: “O caminho que pode ser seguido não é o
Caminho Perfeito. O nome que pode ser dito não é o Nome
eterno. No principio está o que não tem nome”. Assim, o Tao deve ser conhecido
de maneira direta e intuitivamente. Para isso é necessário manter a mente tranqüila
e esquecer os pensamentos a respeito das coisas eternas.
Para conseguir
compreender o Tao também é necessário ir além da dualidade.
Nós achamos alguém belo e, por conseguinte, achamos outras pessoas feias. Ao
concebermos o bem, criamos o mal. O Tao pretende ir além da ilusão da
dualidade, vendo além dos pares opostos.
Eterna mudança
Para os taoistas, a
realidade é vista como um fluxo contínuo de mudanças. A essência de todas as
coisas é justamente o fato de que elas estão em constante transformação.
Os taoistas
acreditavam que não só a mudança era parte essencial da vida, como era possível
entender como ela acontecia harmonizando-se com a natureza e seu fluxo.
Assim, o Tao é
caracterizado como uma mudança cíclica. Dessa forma, afastar-se significa
retornar. Se alguém andar ininterruptamente para oeste, acabará chegando a
leste. Quando uma situação atinge seu ponto extremo, é compelida a voltar e se
tornar seu oposto. Essa crença dá aos taoistas coragem e perseverança nos
períodos de dificuldade cautela nos períodos de sucesso. Eles seguem uma
doutrina de meio-termo evitando o excesso e o exagero, pois sabem que uma
atitude extrema gera seu oposto.
Simplicidade
Lao Tsé achava que o
modo correto de viver era através da simplicidade e da sintonia com o Tao.
Adaptação e humildade são virtudes vista como essenciais para os líderes, pois
aquele que se intromete com violência no curso natural das coisas prejudica a
si mesmo, a sociedade e causa o caos. O bom governo é aquele que menos se
intromete na sociedade, deixando que ela cumpra seu curso natural: “Quanto mais
leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá”.
As pessoas em posição
de comando tendem a se achar melhor do que outras. Contrariando isso, o Tao Te
King diz que o homem sábio não tenta se mostrar acima das outras pessoas.
Constantemente, pessoas que falam demais são as menos sábias. Muitas pessoas
ricas parecem não ter nada. Já por outro lado, pessoas enfeitadas de jóias e
com roupas de marca muitas vezes moram em uma casa na favela.
Da mesma forma,
muitos acreditam que pessoas em alta posição devem estar em constante
atividade, o que as deixa estressadas e impossibilita ver os fatos com
ponderação. Como resposta, o taoísmo aconselha exercícios meditativos que
conservam a energia e produzem um estado de quietude e equilíbrio.
I-ching
As mudanças
constantes do universo são representadas nas figuras do Yin Yang. Yang representa a força masculina do universo,
violenta, criadora. Yin é a força feminina, receptiva, flexível. Yin é a
intuitiva, meditativa e complexa. Yang é racional, criativo e ativo.
Na filosofia taoista,
Yin e Yang são elementos do mesmo processo.
Quando um chega ao seu auge, engendra o outro. Ser sábio é combinar
esses dois pólos, harmonizando Yin e Yang.
O estudo do ciclo de Yin Yang, embora seja muito influenciado pelas
ideias taoistas, é comum a toda a cultura chinesa e já existia em um livro
ancestral, o I-ching.
A mais antiga forma
de adivinhação chinesa era a leitura de sinais nos ossos de bois, surgidos
depois que eram expostos ao fogo. Daí foi criada a adivinhação em cascas de
tartaruga. Na dinastia Shang, o oráculo era consultado com o uso de varetas. O
sábio jogava as varetas e determinava se a linha era inteira ou cortada. Depois
de jogar seis vezes, formava-se o hexagrama e era possível interpretar seu
significado.
Em torno do ano 1150
a.C., o imperador Shang Chou Hsin mandou prender o governador da província de
Chou, o rei Wen. Na prisão, ele elaborou os julgamentos dos hexagramas.
Posteriormente, seu filho tomou o poder, tornando-se imperador e, descobrindo o
trabalho do pai, resolveu ampliá-lo, escrevendo os comentários às linhas
mutáveis. Posteriormente, o oráculo foi enriquecido com comentários atribuídos
a Confúcio e seus discípulos.
O I-ching não é um
livro de adivinhações, pois ele não prevê o futuro, mas estabelece o estado em
que as coisas estão, analisando a mudança e a relação entre as forças Yin e
Yang.
Por exemplo, no
primeiro hexagrama, todas as linhas são inteiras. A imagem formada representa
uma situação apenas de linhas fortes Yang, que significam força, criatividade e
liderança, razão pela qual esse hexagrama é normalmente chamado de O criativo.
O julgamento diz que as forças do céu impelem o homem e o ajudam a iniciar ou
levar adiante um empreendimento. O comentário diz que “as forças da natureza
favorecem tudo aquilo que se inicia”.
O hexagrama oposto,
chamado de O receptivo, é formado apenas por linhas cortadas, representando
Yin, a passividade, a dedicação e concórdia, a diplomacia, a perseverança e a
paz. O julgamento diz que o sucesso está garantido se a pessoa que consulta o
oráculo colaborar e se deixar conduzir, mantendo-se sempre flexível e
disponível. O comentário diz que “Ser receptivo é muito importante, pois todos
os seres lhe devem o nascimento. Como a Terra, cuja função é receber a semente
que depois darão os frutos, também obterá muitos benefícios aquele que souber
tolerar e compreender as pessoas e as situações”.
Rituais
No taoísmo religioso,
um dos principais rituais é o de iniciação. Ele é usado para introduzir aqueles
que estão interessados em tomar o taoísmo como seu caminho espiritual. A
cerimônia pode ser bem simples ou mais elaborada, mas tanto em um caso como
outro, são estabelecidos compromissos entre mestre e discípulo. Os iniciantes
passam a receber proteção dos mestres taoístas. Os iniciados também podem
participar, de modo que são renovadas as bênçãos dos mestres.
No ritual de
purificação são feitos pedidos de desenvolvimento espiritual. No ritual de
oferenda são realizadas oferendas de frutas, flores, incenso, velas e alimentos
para as divindades como forma de agradecimento e devoção. As oferendas
representam desprendimento das coisas materiais e dedicação ao caminho de
transformação espiritual. Através delas, Yin e Yang são fundidos, criando um
estado de unidade no praticante.
Cada oferenda tem um
significado. O incenso simboliza a transcendência e dissolução do ego,
correspondendo ao conceito de Wu Wei (ação não-intencional). As flores simbolizam
a vida e correspondem ao conceito de Dzé Zan (natureza e naturalidade). As
frutas simbolizam o desapego e desprendimento em relação aos valores materiais.
A água e o chá representam a purificação e a remoção dos apegos, correspondendo
ao conceito Chin Jin (Transparência e Pureza). Finalmente, as velas simbolizam
o encontro de nossa Consciência com a Consciência Sagrada, correspondendo ao
conceito Suen Hua (Transformação Natural).
Nos templos taoístas
também são feitos rituais de casamento, benção de crianças e ritos fúnebres.
O TEI-GI
O Tei-Gi, também conhecido como Yin Yang, é um
famoso ícone popular. Mas poucos sabem o que significa. Seu desenho, na
verdade, é uma interpretação icônica dos princípios do taoísmo. A figura é
formada por duas partes, uma preta e outra branca. São os pares opostos, o Yin
e o Yang: o masculino e feminino, o feio e o belo, o bom e o mal.
As figuras formam uma
espécie de onda, como se fosse a água se movimentando. Isso simboliza a eterna
mudança, base de toda a criação. Então, os pares opostos não estão estaques,
mas em movimento. Uma mulher que hoje é bela amanhã pode se tornar feia. O que
hoje é bem, pode ser o mal. Assim, no auge da parte branca, temos um pequeno
círculo preto, demonstrando que o auge de um estágio é o começo do estágio
seguinte. O auge do sucesso marca o início da decadência, etc.
Dessa forma, os pares
opostos não são absolutos: o belo traz em si também o feio. O feio traz em si o
belo. A imagem permite ver os pares opostos em uma perspectiva global e é o que
faz o taoísta, indo além deles. Assim, para o taoísta, vitória e derrota são
apenas dois lados da mesma moeda e não se deve apegar a nenhum deles, pois
seria estar parado em um mundo de eterno movimento.
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