terça-feira, junho 30, 2020

O massacre do Brigue Palhaço


A adesão do Pará à independência foi marcada por uma tragédia.
O Grão Pará foi a última província à aderir à independência do Brasil. A província era comandada por portugueses e estava mais próxima de Lisboa do que do Rio de Janeiro e, portanto, a classe dominante não tinha o menor interesse na independência.
Em 1823, para resolver a situação, Dom Pedro I chamou um militar inglês, John Pascoe Grenfell, que rumou para a capital da província com um navio de guerra. Mas, ao encontrar a elite portuguesa que governava a província, blefou dizendo que tinha toda uma esquadra. Os portugueses concordaram em aderir à independência, com uma condição: continuar mandando no Pará.
Os soldados paraenses e a população local ficaram revoltados. Afinal, esperava-se que a independência mudasse a configuração de poder. O acerto feito não mudava nada: quem mandava continuava mandando.
Estourou uma revolta. Casas comerciais de portugueses foram depredadas.
Grenfell foi implacável: fez com que suas tropas percorressem as ruas de Belém, prendendo qualquer um que parecesse suspeito. Mais de 250 pessoas foram detidas.
O inglês mandou fuzilar cinco dos detidos e prendeu o cônego Batista Campos à boca de um canhão, ameaçando atirar. Grenfell acreditava que o religioso tinha sido responsável pela revolta. Só depois de inúmeros apelos inclusive das principais famílias, Batista Campos foi libertado.
Mas o que fazer com os outros 252 presos?
Grenfell decidiu transferi-los para o porão de um navio, chamado Brigue Palhaço. Lá, apertados, em calor extremo, com pouco ar e sem água, os prisioneiros começaram a agonizar. Um dos soldados, apiedando-se deles, pegou um balde de água do rio e jogou lá dentro, o que só piorou a situação, pois a correria para beber um pouco do líquido provocou várias mortes. Grenfell mandou atirar no porão para calar seus gritos, mas isso só fez aumentar  o lamento dos sobreviventes. A situação afetava os nervos dos soldados e o inglês temia que sua tripulação se rebelasse.
Enfim, alguém achou uma solução: trouxeram cal virgem de uma obra, jogaram no porão e fecharam a entrada. 252 pessoas morreram sufocadas.
A tragédia marcou a história do Pará e seria um dos principais estopins da revolta cabana, que aconteceria treze anos depois.  
O massacre do brigue palhaço aparece no meu romance Cabanagem.
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