segunda-feira, maio 29, 2023

Monstro do Pântano – O Jardim das delícias terrenas



O número 53 da revista Swamp Thing represtou o auge da guerra do Monstro do Pântano contra Gothan City. Nos números anteriores, Abbe Cable havia sido presa, acusada de “crime contra a natureza” por ter um relacionamento com o Monstro do Pântano. Ela fugira para Gothan e foi é lá que o Monstro do Pântano a encontra, presa. Ao ver recusada sua exigência de que soltem sua namorada, ele decide usar suas habilidades contra a cidade.

A maravilhosa capa de John totleben já antecipava muito que viria no interior. Nela, um monstro do pântano gigante surge no meio da cidade e suas mãos em forma de raízes aproximam-se para agarrar Batman, que se equilibra sobre uma coluna.

Gothan é transformada num paraíso... ou num inferno?


A história começa com uma matéria jornalística sobre o que aconteceu com Gothan.

Uma rede vegetação impede que carros entrem ou saiam da cidade. Com a cidade toda transformada em um jardim, a ordem social é alterada. Alguns enveredam pelo crime, outros se entregam ao prazer idílico no meio da enorme quantidade de frutas.

Muitas pessoas começam uma peregrinação na direção de gothan em busca de respostas ou simplesmente fascinadas com a figura do Monstro do Pântano. Entre elas um hippie que já havia aparecido numa história que mostrava os poderes lisérgicos do tubérculo expelido pelo personagem. Também o rapaz da história do cara de fuça, que abandonara a esposa quando descobrira que ela passara a noite ao lado do mendigo radioativo.

Muitos comem os turbéculos e têm experiências alucinógenas. 


Claro que toda essa mudança não poderia ocorrer sem a intervenção de Batman, o defensor de Gothan, numa das melhores sequências de toda a série. Moore mexe completamente com todos os cânones da DC ao mostrar um cavaleiro das trevas cujos recursos parecem brincadeira diante de um personagem muito mais poderoso.

É Batman, aliás, que protagoniza um diálogo essencial ao falar com o prefeito e aconselhar a libertar Abbe Cable.

O Monstro do Pântano se transforma em objeto de culto. 


“Você não entende”, diz o prefeito. “Aquela mulher teve um relacionamento com uma criatura não-humana. Não podemos abrir exceções à lei”.

“Sem exceções, certo. Nesse caso, sugiro que vocês comecem a prender todos os outros seres não humanos que possam estar mantendo relações fora de suas espécies. Se querem levar isso até o fim, a condição de não-humano não se limita à criatura do pântano. Vejamos... vcoê precisam prender o Gavião negro, o Metamorfo... e a Estelar dos Titãs. A raça dela, creio, evoluiu dos gatos. Sem mencionar o Caçador de Marte e o Capitão Átomo... além de, obviamente, como se chama mesmo? Aquele que mora em Metrópolis”.

Batman conseguirá deter o Monstro do Pântano? 


A fala explicita a metáfora de Moore, que usou a história para refletir sobre como a sociedade julga relações não convencionais. Entretanto, os quadrinhos de super-heróis estão repletos de relações não convencionais, a exemplo do alienígena super-homem que se relaciona com a humana Lois Lane. E vale uma reflexão: como a pessoa que considera normal uma relação entre um alienígena e uma humana pode julgar outros tipos de relações?

A história, que supostamente teria um final feliz, acaba com um dos momentos mais dramáticos de toda a história do título.

Em tempo: o título da história, O jardim das delícias terrenas, é uma referência a uma pintura de tríptico de Hieronymus Bosch, um tríplico (uma imagem dividida em três), que apresenta em uma aba o céu no outro o inferno e no meio uma cena simbolizando os prazeres da carne, com os participantes desinibidos e sem culpa se entregando a atividades sexuais. As pessoas representadas no meio do tríplico estão entre o paraíso e o inferno.

O título da história acrescenta uma camada a mais de significado e permite diversas interpretações sobre a simbologia da roteiro escrito por Alan Moore. Sua história seria uma celebração do prazer idílico ou um alerta de como como esse prazer pode levar à perdição? Sem falar nas interpretações relacionadas ao próprio personagem, mas estas é impossível discutir sem dar um tremendo spoiller sobre o final da história.

Enfim, Alan Moore constrói uma história que parece simples, mas carregada de complexidades e simbologias.

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