sexta-feira, março 20, 2020

A estética da linha reta


“Mais sem graça que a top model magrela na passarela”. (Zeca baleiro)

A revista Superinteressante deste mês traz uma matéria curiosa sob o título “como se transforma uma mulher normal e capa de revista?”. No texto são desvendados os truques de photoshop (programa de manipulação de imagens) usados nas revistas eróticas e de moda. O que mais chama atenção é o Box intitulado tirando o excesso. A modelo que ilustra a matéria era magra, mas mesmo assim foram cortadas as partes do seu corpo que tinham curvas que poderiam lembrar gordura. O braço foi tornado reto, assim como as costas e a barriga.
Até mesmo o aperto da roupa é retocado: “Ao apertar a cintura e criar uma dobra acentuada, a calcinha poder dar uma falsa impressão de gordura. Isso é corrigido com um comando que borra a textura da pele e a torna mais uniforme”.
A jovem modelo, que já era magra, ficou esquelética depois do tratamento de imagem.
Folheando revistas das década de 70 e 80, encontramos mulheres com claros sinais de gordura, mas que mesmo assim agradavam, como Magda Cotofre.
O que parece acontecer hoje é uma paranóia que estabelece que toda gordura é má e anti-estética. A vítima mais recente dessa paranóia foi a modelo Ana Carolina Reston Macan, que morreu recentemente de bulimia. No final de sua vida, ela pesava 40 quilos, para um corpo de 1,74 m. O caso revelou outros, de modelos que se alimentam de apenas de apenas um copo de leite ou um xícara de chá por dia.
Uma das explicações para essa obsessão por magresa veio de um costureiro inglês. Ele disse que, na hora dos desfiles, é mais fácil diminuir a roupa do que alargá-la, de modo que uma modelo magra tem mais chance de caber na peça.
É toda uma ditadura provocada apenas por uma conveniência técnica, mas que não tem qualquer fundamento estético ou de saúde. Pior, é um padrão que não se adapta aos biotipo nacional, já que as brasileiras na maioria têm muitas curvas, as chamadas cinturas de violão. As norte-americanas magras é que são retas como uma tábua.
As brasileiras insistem em imitar um padrão que não é o seu. Um fenômeno, aliás, corroborado pela mídia e pela indústria. Novelas cada vez mais apresentam atrizes magérrimas. A boneca Barbie já foi acusada de provocar anorexia em meninas (aliás, cientistas dizem que se a boneca fosse uma mulher de verdade, ela não teria estrutura nem mesmo para ficar em pé) e dia desses estava observando desenhos animados mais recentes e percebendo como as mulheres estão cada vez mais magras (vejam a mulher maravilha da nova Liga da Justiça).
Monteiro Lobato dizia que mulher que não tem onde se lhe pegue vira coitadinha, e concordo plenamente. A ditadura da magresa está fazendo com que as mulheres percam sua graça.
Os gregos foram os mestres na anatomia e suas estatuas são exemplos de beleza. Observar suas estatátuas da deusa Afrodite (chamada de Vênus pelos romanos) é identificar como os gregos viam o máximo da beleza feminina: mulheres com ancas largas, deslumbrantes em suas curvas. Era a beleza de uma mulher saudável. Hoje é a beleza do Photoshop, que retira das mulheres todo e qualquer sinal de gordura, e transforma as curvas em insossas linhas retas.

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