domingo, março 22, 2020

Os pilares da terra


Em Os pilares da Terra, Ken Follett construiu uma obra grandiosa, uma verdadeira saga em torno da construção de uma catedral na Inglaterra do século XII.
A história se passa entre os anos de 1123 e 1174. É um período de transformações que irão se refletir principalmente na arquitetura. Até então, as catedrais eram edifícios atarracados, de paredes grossas e janelas pequenas, locais escuros e insalubres. Aos poucos irão se transformar em imponentes edifícios esbeltos, belos, altos, com amplas janelas enfeitadas de vitrais coloridos que filtravam a luz do sol provocando grande deslumbramento nos que as visitavam.
Follett foca sua narrativa na construção de uma catedral fictícia, Kingsbridge e em um homem, Tom Construtor. Mas a narrativa envolve também uma ampla variedade de personagens, do prior de Kingsbridge a uma mulher que se refugiou na floresta depois de amaldiçoar pessoas poderosas que haviam condenado seu marido à forca. É também uma saga que se desenrola por décadas, o tipo de livro no qual vemos os personagens nascerem, crescerem, envelhecerem, acompanhamos seus sonhos, suas frustações e vitórias.
Concentrando tudo, como personagem principal, a catedral. O autor mostra como a construção de uma igreja de tamanha envergadura muda tudo ao seu redor: do comércio que se desenvolve aos conflitos palacianos que se desenvolvem (um dos vilões do livro é um bispo, que jura impedir a construção).
Follett maneja bem duas instâncias aparentemente opostas: a realidade e a ficção. Assim, ele mistura fatos e personagens reais (o mártir São Tomás Becket merece toda uma sequência) com pura ficção. Aliás, o romance pode ser visto ele mesmo como uma catedral: os fatos e pessoas reais são o cimento, que dão sustentação para os tijolos ficcionais.
A narrativa de Follett passa longe de ser elaborada: ele é um escritor que parece estar mais interessado na costura da trama do que em jogos literários. Isso certamente foi um fator que fez o livro se tornar um best-seller, apesar de seu tema de pouco apelo popular. O roteiro é redondo, sem falhas, com fatos que se encaixam perfeitamente, personagens que parecem não ter importância, mas se revelam fundamentais para a trama e segredos que são revelados no momento exato.
A obra é um verdadeiro tijolaço. São quase mil páginas de texto, mas que prendem o leitor – em especial após o primeiro terço. E, ao final, aquilo que poderia afastar o leitor – os detalhes sobre a arquitetura da época – acaba se transformando em uma atração a mais. Eu, ao menos, fiquei curioso para conhecer mais sobre o assunto.
Um único ponto negativo é a capa pouco inspirada da edição encadernada da editora Rocco. Em um livro sobre uma catedral e seus monges e construtores, usaram a imagem de soldados combatendo em frente a um castelo. 

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