domingo, novembro 29, 2020

Tarzan, o magnífico

 


Tarzan foi um dos personagens mais populares do século XX. Suas aventuras abrilhantaram milhares de revistas em quadrinhos, tiras de jornais, desenhos animados, filmes. Pouca gente, no entando, sabe que o personagem é oriundo da literatura, criação do norte-americano Edgar Ricer Burroughs.

Tarzan, o magnífico, publicado pelo clube do livro em 1976 permite vislumbrar um pouco desse rei das selvas literário.

A história se passa na África, tendo como foco duas aldeias sui-generis. Nela, mulheres negras aprisionaram homens brancos perdidos e procriaram com eles durante gerações, criando uma raça de mulheres... brancas. Cada aldeia é governada por um irmão gêmeo, velhos carcomidos, que usam pedras preciosas (um enorme diamente e uma enorme esmeralda) para controlar seus súditos através de poderes mágicos.

A história ecoa algumas das melhores tramas do desenho animado de Tarzan da Filmation, com suas cidades perdidas e povos estranhos. Mas o resultado literário fica muito aquém do que se espera.

Para começar, o livro todo é obviamente racista e nitidamente eurocêntrico. Isso a ponto de incomodar um leitor que normalmente não repararia nesses aspectos.

À certa altura, por exemplo, um dos brancos cativos tenta fugir de uma das aldeias e encontra Tarzan. E espanta-se: “Já vi tantas coisas inacreditáveis  desde que vim para essa região que nem mesmo a visão de um homem de alta civilização andando por aí quase nu e sozinho causou tanta surpresa quanto seria de esperar”.

Em outro momento, quando um grupo consegue fugir de uma das aldeias, os negros adotam naturalmente as posições de carregadores e criados pessoais dos brancos, como se fossem escravos deles.

Um dos personagens americanos se apaixonada pela rainha de uma das tribos e foge com ela junto ao grupo do parágrafo anterior. Mas recebe uma advertência de um amigo: embora fosse branca como a neve, ela tinha sangue negro e, por isso, não seria aceita pela sociedade americana.

Mas, se ignorarmos esse aspecto, o livro ainda tem problemas. Tarzan consegue resolver toda a situação por que acha, por acaso, uma passagem secreta que nem mesmo o rei do local conhece. Esse tipo de coinscidencia conveniente é chamada na linguagem de roteiro de deus ex machina.

À certa altura, enquanto fogem, os personagens resolvem se divertir um pouco... caçando leões! Dividem-se em três duplas e cada um mata um. Impressionante como havia leões naquela época e como era fácil caçá-los. Pura diversão!

Além disso, a trama fecha, o terceiro ato termina, e a história continua, como se o escritor não tivesse pensado direito na quantidade de páginas que a história irai ocupar e resolvesse extender a trama. Soma-se a isso o fato de que esse Tarzan literário seja muito pouco parecido com o conhecido por todos nós. Ao invés de se mover pelo alto das árvores em cipós, por exemplo, ele caminha a maior parte do tempo.

E, claro, Burroughs nem de longe é um grande escritor. Mesmo na comparação com outros autores pulps, como Rober E. Howard ou Lovecraft, ou mesmo Conan Doyle, sua narrativa é pobre e muitas vezes confusa. Em alguns momentos, por exemplo, ele pula para outra cena, em outros locais e com outros personagens de um parágrafo para o outro, deixando o leitor confuso.

O que realmente fica desse Tarzan literário é toda a mitologia e toda a ambientação criada por Burroughs, que já aparece nas primeiras páginas “Nenhuma coisa escapava de seu olhar, nenhum odor, contido no seio macio de Usha, o vento, passava sem ser identificado por ele. Bem a distancia, ele viu Numa, o leão, sobre seu posto rochoso de observação; viu ska, o abutre, circulando acima de alguma coisa que sua visão não permitia divulgar”.

É essa mitologia e essa ambientação que fizeram o personagem tão popular e que se tornou eterna nos quadrinhos, nos filmes e nas animações.

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