domingo, janeiro 09, 2022

O Zen-budismo

 


A palavra Zen é uma corruptela da palavra chinesa Chan, que por sua vez é uma corruptela deDhyana, em sânscrito. Todas têm o significado de meditação.

O buda histórico, Sidarta Gautama, fazia prelações diárias. Conta-se que um dia ele ficou em silêncio e apenas levantou uma flor. Todos os monges ficaram desconcertados, esperando uma explicação. Nesse momento um discípulo chamado Kasyapa teve uma revelação e alcançou a iluminação. O discípulo sorriu e o Buda sorriu de volta. Surge aí uma corrente do budismo que privilegia a experiência direta, orientada por um mestre.

Kasyapa começou pregar e deu uma origem a uma linhagem de mestres e patriarcas. Alguns monges dessa linha saíram da índia na direção da China. Lá eles encontraram o taoísmo, que tinha várias semelhanças com o budismo.

Os taoistas acreditavam que o mundo está em constante mudança, que nada é fixo e que devemos nos adaptar a essas mudanças. Daí o nome, tao, que significa caminho. Para o tao, devemos estar sempre caminhando, em movimento, nos adaptando às mudanças. Eles propunham também ultrapassar o pensamento dual. Geralmente julgamos as coisas, separando-as em bom e ruim, preto e branco, noite e dia, prazeroso e doloroso, sucesso e fracasso. Mas, num mundo em constante mudança, esses duplos são transitórios e irreais. O auge do sucesso provavelmente representa o início do fracasso. O auge da noite prenuncia o início do dia.

Com o tempo, as duas doutrinas se mesclaram no Chan, uma religião com ênfase na meditação como forma de manter o foco no aqui-agora, a atenção plena receitada por Buda. O budismo tem em seu cerne a ideia de que a vida é dor e devemos superar a dor. Boa parte dessa dor está relacionada ao fato de nunca que vivemos no presente. Estamos sempre assombrados por eventos do passado ou ansiosos por algo que ainda não aconteceu. Ou estamos tentando prender as coisas ou momentos de felicidade, mas que escapam por entre nossas mãos.  

Quando chegou ao Japão, o Chan transformou-se no Zen e ganhou grande popularidade. Até mesmo os samurais passaram a praticar meditação como forma de manter o foco e a atenção plena durante o combate – muitos desses guerreiros depois abdicariam da violência e se tornariam monges.

A prática essencial do Zen é o Za-zen. Za significa sentado, e zen meditação, portanto, meditação sentada.

A palavra meditação pode dar a entender que o Zen prega uma fuga da realidade. A maioria das pessoas, ao ouvir falar em meditação, pensa em monges afastados de tudo e de todos. O Zazen é exatamente o oposto: meditamos não para escapar da realidade, mas, ao contrário, uma profunda imersão no dia-a-dia. É através da meditação que devemos conhecer a nossa verdadeira essência, superarmos os pares contrários e focarmos no aqui-agora.

Para o Zen, devemos ter o tempo todo a atenção plena ao momento. Ao ser perguntado qual era a diferença entre ele e outras pessoas, um mestre Zen respondeu: quando estou comendo, estou comendo, quando estou dormindo, estou dormindo, quando estou caminhando, estou caminhando.

O foco na respiração durante o zazen ajuda exatamente nisso, em focar no momento presente. Sentir a respiração, o corpo e evitar que a mente viaje para o passado ou para o futuro.

Aliás, o foco no cotidiano fez com que surgisse um outro tipo de meditação, o kinhin, em que os praticantes andam, candenciando seus passos pelo ritmo da respiração. É uma forma de mostrar que a atenção plena pode e deve ser usada em qualquer momento da vida. Há uma parábola sobre um mestre que viu um discípulo sentado do lado de fora do templo e perguntou-lhe o que estava fazendo. “Estou praticando zazen, mestre. Estou meditando para me tornar Buda”. Ao que o mestre respondeu: “E para onde vai o Buda quando você se levanta?”.

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