A palavra Zen é uma corruptela da palavra chinesa Chan, que
por sua vez é uma corruptela deDhyana, em sânscrito. Todas têm o significado de
meditação.
O buda histórico, Sidarta Gautama, fazia prelações diárias. Conta-se
que um dia ele ficou em silêncio e apenas levantou uma flor. Todos os monges
ficaram desconcertados, esperando uma explicação. Nesse momento um discípulo
chamado Kasyapa teve uma revelação e alcançou a iluminação. O discípulo sorriu
e o Buda sorriu de volta. Surge aí uma corrente do budismo que privilegia a
experiência direta, orientada por um mestre.
Kasyapa começou pregar e deu uma origem a uma linhagem de
mestres e patriarcas. Alguns monges dessa linha saíram da índia na direção da China.
Lá eles encontraram o taoísmo, que tinha várias semelhanças com o budismo.
Os taoistas acreditavam que o mundo está em constante
mudança, que nada é fixo e que devemos nos adaptar a essas mudanças. Daí o
nome, tao, que significa caminho. Para o tao, devemos estar sempre caminhando,
em movimento, nos adaptando às mudanças. Eles propunham também ultrapassar o
pensamento dual. Geralmente julgamos as coisas, separando-as em bom e ruim,
preto e branco, noite e dia, prazeroso e doloroso, sucesso e fracasso. Mas, num
mundo em constante mudança, esses duplos são transitórios e irreais. O auge do
sucesso provavelmente representa o início do fracasso. O auge da noite prenuncia
o início do dia.
Com o tempo, as duas doutrinas se mesclaram no Chan, uma
religião com ênfase na meditação como forma de manter o foco no aqui-agora, a atenção
plena receitada por Buda. O budismo tem em seu cerne a ideia de que a vida é
dor e devemos superar a dor. Boa parte dessa dor está relacionada ao fato de
nunca que vivemos no presente. Estamos sempre assombrados por eventos do
passado ou ansiosos por algo que ainda não aconteceu. Ou estamos tentando
prender as coisas ou momentos de felicidade, mas que escapam por entre nossas mãos.
Quando chegou ao Japão, o Chan transformou-se no Zen e ganhou
grande popularidade. Até mesmo os samurais passaram a praticar meditação como
forma de manter o foco e a atenção plena durante o combate – muitos desses guerreiros
depois abdicariam da violência e se tornariam monges.
A prática essencial do Zen é o Za-zen. Za significa sentado,
e zen meditação, portanto, meditação sentada.
A palavra meditação pode dar a entender que o Zen prega uma
fuga da realidade. A maioria das pessoas, ao ouvir falar em meditação, pensa em
monges afastados de tudo e de todos. O Zazen é exatamente o oposto: meditamos não
para escapar da realidade, mas, ao contrário, uma profunda imersão no dia-a-dia.
É através da meditação que devemos conhecer a nossa verdadeira essência,
superarmos os pares contrários e focarmos no aqui-agora.
Para o Zen, devemos ter o tempo todo a atenção plena ao
momento. Ao ser perguntado qual era a diferença entre ele e outras pessoas, um
mestre Zen respondeu: quando estou comendo, estou comendo, quando estou
dormindo, estou dormindo, quando estou caminhando, estou caminhando.
O foco na respiração durante o zazen ajuda exatamente nisso,
em focar no momento presente. Sentir a respiração, o corpo e evitar que a mente
viaje para o passado ou para o futuro.
Aliás, o foco no cotidiano fez com que surgisse um outro tipo
de meditação, o kinhin, em que os praticantes andam, candenciando seus passos
pelo ritmo da respiração. É uma forma de mostrar que a atenção plena pode e
deve ser usada em qualquer momento da vida. Há uma parábola sobre um mestre que
viu um discípulo sentado do lado de fora do templo e perguntou-lhe o que estava
fazendo. “Estou praticando zazen, mestre. Estou meditando para me tornar Buda”.
Ao que o mestre respondeu: “E para onde vai o Buda quando você se levanta?”.
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