quarta-feira, julho 17, 2024

Demolidor – Amor e guerra

 


Em meados da década de 1980, Frank Miller e Bill Sienkiewicz eram dois dos nomes mais revolucionários dos quadrinhos americanos. Miller tinha assumido o título do Demolidor quando o mesmo estava prestes a ser cancelado e o transformara em um campeão de vendas. Depois, sacudira o mercado com Batman Cavaleiro das Trevas. Sienkiewicz chamara atenção nas histórias do Cavaleiro da Lua e depois brilhara no título dos Novos Mutantes, no qual fazia todo tipo de experimentação gráfica, fugindo do que se fazia até então nos super-heróis.

O resultado da união desses dois talentos foi a graphic novel Amor e Guerra, publicada aqui no Brasil pela editora Abril no segundo número da coleção Graphic Novel.

A narrativa era revolucionária. 


Na história, a esposa do Rei está enferma e o vilão contrata um psicólogo para tratar dela. Para garantir que ele se dedicará totalmente ao caso, manda sequestrar a esposa do psicólogo. O problema é que o sequestrador, um tal de Victor, é um homem enlouquecido pelas drogas, que oscila a todo tempo entre o dever de cuidar da jovem e o desenho de violentá-la ou até matá-la.

Esse mote permite a Sienkiewicz usar toda a sua habilidade artística expressionista para refletir o ponto de vista de Victor. Sua imagem reflete a loucura interna: os olhos com pupilas de tamanhos diferentes esconidas no meio do negrume da insanidade, o nariz torto, a boca pequena, a testa imensa. O texto de Miller acentua a loucura do personagem: “Ninguém vai imaginar que eu trouxe uma gata dessas para um covil de viciados. É o meu trabalho saber disso. Ih! Chamei Cheryl de gata. É melhor maneirar meus pensamentos. Ela é um anjo. Do tipo que se venera e nunca se toca! Não fazer nada daquelas coisas. Nada daquelas coisas.”.

A imagem do vilão é deformada para demonstrar sua loucura. 


O estilo de desenho reflete cada personagem. A esposa do médico é de uma beleza angelical que mistura impressionismo e Gustav Klint.

Curiosamente, Sienkiewicz parece não se sentir à vontade de desenhar exatamente o Demolidor, preferindo fazer, na maioria das vezes, um borrão, algo que funciona na história e serve para mostrar a velocidade com que o personagem se move.

O Demolidor sendo mostrado como um borrão. 


Mas a caracterização que mais me marcou foi a do Rei. Sienkiewicz destaca seu poder desenhando-o com um homem imenso, deformado, cuja imagem ocupa sozinha uma splah page. Provavelmente ninguém conseguiu retratar de forma tão fiel a imponência do vilão.

Aliada a essa visão artística revolcionária de Sienkiewicz, Miller concebe uma trama que se desenvolve em uma constante tensão ao mesmo tempo em que desenvolve os personagens.

A caracterização do Rei impressiona. 


Cada página de Amor e Morte é uma verdadeira obra prima.  

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