Em meados da década de 1980, Frank Miller e Bill Sienkiewicz eram dois dos nomes mais revolucionários dos quadrinhos americanos. Miller tinha assumido o título do Demolidor quando o mesmo estava prestes a ser cancelado e o transformara em um campeão de vendas. Depois, sacudira o mercado com Batman Cavaleiro das Trevas. Sienkiewicz chamara atenção nas histórias do Cavaleiro da Lua e depois brilhara no título dos Novos Mutantes, no qual fazia todo tipo de experimentação gráfica, fugindo do que se fazia até então nos super-heróis.
O resultado da união desses dois talentos foi
a graphic novel Amor e Guerra, publicada aqui no Brasil pela editora Abril no
segundo número da coleção Graphic Novel.
A narrativa era revolucionária.
Na história, a esposa do Rei está enferma e o
vilão contrata um psicólogo para tratar dela. Para garantir que ele se dedicará
totalmente ao caso, manda sequestrar a esposa do psicólogo. O problema é que o
sequestrador, um tal de Victor, é um homem enlouquecido pelas drogas, que
oscila a todo tempo entre o dever de cuidar da jovem e o desenho de violentá-la
ou até matá-la.
Esse mote permite a Sienkiewicz usar toda a
sua habilidade artística expressionista para refletir o ponto de vista de
Victor. Sua imagem reflete a loucura interna: os olhos com pupilas de tamanhos
diferentes esconidas no meio do negrume da insanidade, o nariz torto, a boca
pequena, a testa imensa. O texto de Miller acentua a loucura do personagem:
“Ninguém vai imaginar que eu trouxe uma gata dessas para um covil de viciados. É
o meu trabalho saber disso. Ih! Chamei Cheryl de gata. É melhor maneirar meus
pensamentos. Ela é um anjo. Do tipo que se venera e nunca se toca! Não fazer
nada daquelas coisas. Nada daquelas coisas.”.
A imagem do vilão é deformada para demonstrar sua loucura.
O estilo de desenho reflete cada personagem.
A esposa do médico é de uma beleza angelical que mistura impressionismo e Gustav
Klint.
Curiosamente, Sienkiewicz parece não se
sentir à vontade de desenhar exatamente o Demolidor, preferindo fazer, na
maioria das vezes, um borrão, algo que funciona na história e serve para
mostrar a velocidade com que o personagem se move.
O Demolidor sendo mostrado como um borrão.
Mas a caracterização que mais me marcou foi a
do Rei. Sienkiewicz destaca seu poder desenhando-o com um homem imenso,
deformado, cuja imagem ocupa sozinha uma splah page. Provavelmente ninguém
conseguiu retratar de forma tão fiel a imponência do vilão.
Aliada a essa visão artística revolcionária
de Sienkiewicz, Miller concebe uma trama que se desenvolve em uma constante
tensão ao mesmo tempo em que desenvolve os personagens.
A caracterização do Rei impressiona.
Cada página de Amor e Morte é uma verdadeira
obra prima.
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