quarta-feira, outubro 16, 2013

Avanti - amantes à italiana

Na década de 1970, Billy Wilder era um dinossauro. Ele tinha ajudado a criar a base do que seria a sintaxe do cinema norte-americano e havia realizado filmes críticos, metalinguísticos e revolucionários, como Quanto mais quente, melhor e Crepúsculo dos Deuses. Mas nos anos 1970 parecia anacrônico diante de uma geração ousada composta por caras como Spielberg, George Lucas, Scorseese e Coppola. 
Isso provavelmente fez com que poucas pessoas apreciassem o ótimo Avanti, amantes à italiana, filme de Wilder de 1972. O filme, uma comédia romântica, conta a história de um executivo norte-americano que ao ir para a Itália cuidar do corpo do pai que morrera em um acidente automobilístico durante as férias, descobre que o pai tinha uma amante há 10 anos e acaba se apaixonando pela filha da amante, repetindo a história paterna. 
É um filme que poderia falar à geração anos 1970, até pela abordagem corajosa e sem preconceitos. Mas, da mesma forma que os filhos acabam usando as roupas dos pais em determinada cena, esse filme pareceu antiquado. Um dos problemas, claro, era o fato do protagonista ser um homem mais velho que a mocinha - uma estratégia usada por Wilder na década de 1950 para burlar a censura, já que os conservadores acreditavam que um relacionamento desse tipo seria menos sexual. 
As duas maiores qualidades do filme são também os seus maiores defeitos para a época em que foi feito. 
Primeiro, a construção é lenta. Wilder nos acostuma com os personagens e faz isso sem pressa. A trama só engrena depois de meia-hora, mas quando isso acontece, já estamos fisgados pela simpatia dos personagens. Essa estratégia funcionava muito bem antes da televisão e do video-cassete, mas virou um defeito, especialmente na comparação com os novos diretores, que sequestravam a atenção do expectador desde o primeiro momento. 
Segundo, a direção estava sempre a serviço da história. Todos os recursos estilísticos eram usados exclusivamente para desenvolver melhor o roteiro, de forma que à certa altura esquecemos que estamos vendo um filme. Em contraste, a geração sexo, drogas e rock´n roll fazia questão de mostrar seu estilo a cada take. Essa ênfase na estética degeneraria em filmes coma estética vazia, que atropelava o roteiro, como vimos em monstrengos, como Independente Day (da mesma forma que o barroco iria degenerar no rococó). 
Em suma: Avanti, amantes à italiana é uma verdade aula de cinema. Um filme que merece ser visto com olhos sem preconceito.

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